Ciências da educação: especificidade epistemológica, objetividade e prática pedagógica

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/1984644438219

Palavras-chave:

Ciências da Educação, Prática Pedagógica, Formação Humana

Resumo

O artigo busca discutir as ciências da educação a partir de duas compreensões existentes nas discussões acadêmicas sobre o assunto: a ideia de enxugamento do estudo de tais ciências em favor do treinamento de habilidades necessárias para a prática educacional e em contraponto, a defesa da importância dessas ciências para a formação de educadores capazes de uma compreensão mais fundamentada da complexidade do fenômeno educacional, seja como processo individual, seja do ponto de vista social. Destaca dois momentos significativos na história do estudos pedagógicos através da referência a dois autores clássicos, a saber, Herbart e Dewey, analisando as questões de princípios, formatos e finalidades das ciências da educação no contexto atual, levando em conta as transformações sócio-política-econômicas mais recentes e o seu significado para a organização do sistema educacional, também nos seus aspectos pedagógicos. Conclui que se defendemos que a educação não tem apenas finalidades mercadológicas, mas também sociais, culturais e humanas, as ciências da educação deveriam se voltar para as demandas do mundo da vida, podendo encontrar na conversação discursiva a possibilidade de continuar cumprindo com o seu papel diante dos desafios sempre novos da formação humana.

Biografia do Autor

Catia Piccolo Viero Devechi, Universidade de Brasília, Brasília, Distrito Federal

Professora associada do programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília. Graduada em Pedagogia com habilitação em pré-escola pela Universidade Federal de Santa Maria (2001), mestrado em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (2004), doutorado em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (2008) e Pós-Doutorado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: pesquisa em educação, estudos comparados, formação de professores, ciências da educação e filosofia da educação. É coordenadora do GEFFOP - Grupo de estudos sobre filosofia da educação e formação de professores; vice-coordenadora do REPES: Rede de Estudos e Pesquisas em Educação Superior; e pesquisadora do grupo: ?Formação Cultural, Hermenêutica e Educação", todos cadastrados no diretório de grupos do CNPq. Publicou diversos artigos em anais, livros e revistas de circulação nacional e internacional. Foi editora adjunta das Linhas Críticas - Revista da Faculdade de Educação da UnB (números 32 a 40 - 2011 a 2013). Membro do Comitê Gestor de Iniciação Científica (ProIC/DPP/UnB) de 2013-2016.

Benedetta Bisol, Universidade de Brasília, Brasília, Distrito Federal

Possui laurea em Filosofia (Università degli Studi di Padova, Itália - 1998), doutorado em Filosofia (Ludwig-Maximilians-Universität München, Alemanha, 2008) e habilitação para a docência de filosofia moral (abilitazione scientifica nazionale, Itália - 2014). Tem experiência na área de filosofia (filosofia moral e política, bioética e ética da tecnologia). Atualmente é professora visitante do Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação da UnB. A sua pesquisa atual foca no nexo entre política e educação, abordando a questão do reconhecimento como problema da construção (e descostrução) do imaginário cultural, político e social, assim como elemento constituinte dos conflitos e das lutas ligados aos processos de reconhecimento no plano institucional e social. Do ponto de histórico-filosófico, a pesquisa envolve a conceituação moderna da imagem, da imaginação e do imaginário (com referência a autores como Giordano Bruno, Galileu Galilei, René Descartes, Giambattista Vico e Johann G. Fichte), o pensamento utópico e as suas críticas, assim como o debate moderno e contemporâneo sobre reconhecimento, formação e educação. No contexto das atividade do recém-constituído grupo de trabalho "Imaginário e território" (FIL-UnB), em colaboração com PIBID FIL UnB e o pesquisador Dr. Luca Mori (universidade de Pisa, Itália), está trabalhando no planejamento de um ciclo de oficinas, intitulado "A quem pertence a cidade?", a ser realizado em escolas do Ensino Médio do DF. A atividade visa, no seu plano geral, tanto contribuir à discussão sobre a função da filosofia para a formação dos jovens, como produzir materiais didáticos, destinados principalmente aos docentes de à filosofia do Ensino Médio, constituindo-se, ao mesmo tempo, como a primeira etapa de um estudo sobre o imaginário territorial dos jovens brasileiros.

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Publicado

2019-12-17

Como Citar

Devechi, C. P. V., & Bisol, B. (2019). Ciências da educação: especificidade epistemológica, objetividade e prática pedagógica. Educação, 44, e92/ 1–19. https://doi.org/10.5902/1984644438219

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