Edição Especial - 1/2019: Estudos poéticos e retóricos: novas perspectivas
Os estudos retóricos e poéticos vêm recebendo, no campo acadêmico, uma atenção renovada nos últimos anos, seja na esteira de trabalhos que procuraram resgatar a importância da disciplina de retórica, como os de George A. Kennedy (Classical Rhetoric and Its Christian and Secular Traditions) e Brian Vickers (In Defense of Rethoric), seja, principalmente, na relação dessa disciplina com a crítica literária, na tentativa de re-tomar uma relação íntima com as poéticas anteriores à Modernidade. Se a crítica humanista e estilística de meados do século XX já alertava para a importância de uma reconstrução histórica das formas de es-critura, como se notava em Erich Auerbach, em seu clássico Mimesis, ou ainda no monumental Literatura Europeia e Idade Média Latina, de Ernest Robert Curtius, seria necessário ainda um pouco mais de tempo para que, no Brasil, houvesse um redirecionamento dos estudos literá-rios nesse sentido. Assim, pesquisas como as de João Adolfo Hansen (A Sátira e o Engenho) e de Alcir Pécora (Teatro do Sacramento) foram fun-damentais para que os estudos retóricos e poéticos se consolidassem no campo acadêmico brasileiro. Esses e outros trabalhos apontaram para a necessidade de reconstruir “arqueologicamente”, nos dizeres de Hansen, textos anteriores ao final do século XVIII, que, não raro, eram lidos pela crítica sob viés anacrônico, ou, pior ainda, conside-rados de pouca ou nenhuma relevância para o leitor contemporâneo.