Por um modelo holístico de formação docente

Autores

  • Marcos Gustavo Richter Universidade Federal de Santa Maria

DOI:

https://doi.org/10.5902/1516849228531

Palavras-chave:

Formação docente, Modelo holístico

Resumo

Este artigo apresenta as premissas e as bases de um modelo holístico, ou seja, globalizante, de formação de professores. Parte-se da crítica dos modelos tradicionais de formação continuada, que privilegiam o objetivo de “ensinar a refletir”, mas se esquecem de que fazer docentes mudarem seu discurso sobre o ensino (ou seja, passarem a incorporar formas reflexivas de se pronunciar sobre questões didáticas) quase sempre não acarreta alterações na prática destes — prática esta que geralmente permanece tradicional, inconsistente e fortemente enraizada na cultura de ensinar-aprender com a qual os hoje professores cresceram na escola enquanto alunos. A presente proposta difere das anteriores em dois aspectos. Primeiro, não separa o binômio cognição-ação (fatores usualmente já integrados em formação de professores) da afetividade. Com isso, defendemos, entre outros pontos, que não pode haver formação de professores bem-sucedida se não comparecer, do lado dos docentes em formação, o genuíno desejo de mudar — de se aperfeiçoar profissionalmente e assumir a responsabilidade pelos seus esforços rumo a isso. Segundo, defende que a mudança começa, ao contrário dos modelos anteriores, não pela “modificação do discurso” e sim pela modificação voluntária da própria ação, apoiada não só pelo já mencionado desejo de mudar, mas também pela persistência na adoção do comportamento profissional alternativo de uma comunidade de formação que compartilha uma abordagem de ensinar-aprender consistente em termos teórico-práticos (com a qual esse professor venha a se identificar). A mudança do comportamento, por sua vez, acarreta a mudança dos afetos e das crenças àquele relacionados, na medida em que — numa visão holística, integral do ser humano — os conceitos que internalizamos e direcionam nossa conduta apresentam indissociavelmente essas três dimensões: comportamentos, crenças e afetos. O artigo termina direcionando o modelo para uma proposta de formação docente na área de português para estrangeiros e oferece alguns subsídios metodológicos.

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Biografia do Autor

Marcos Gustavo Richter, Universidade Federal de Santa Maria

Possui graduação em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1984), mestrado em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1988), doutorado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1990) e Pós-Doutorado em Linguística de Corpus pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2009). Aposentou-se em 2016 como professor titular pós-doutor do Departamento de Letras Vernáculas do Centro de Artes e Letras da Universidade Federal de Santa Maria. Reuniu experiência principalmente nas áreas de Semiótica e Educação, com ênfase em Educação Permanente, atuando nos seguintes temas: formação de professores, ensino de línguas e ensino do português.

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Publicado

2017-08-09

Como Citar

Richter, M. G. (2017). Por um modelo holístico de formação docente. Linguagens & Cidadania, 7(1). https://doi.org/10.5902/1516849228531

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