Implicações da Língua de Sinais na aquisição da escrita de filhos ouvintes de pais surdos
DOI:
https://doi.org/10.5902/1984686X32566Palavras-chave:
ouvintes de pais surdos. Aquisição da escrita. LibrasResumo
Este artigo tem como objetivo discutir a interferência da língua de sinais na aquisição da linguagem escrita de um sujeito ouvinte (10 anos de idade) filho de mãe surda. A pesquisa foi realizada em uma cidade do interior do Estado do Paraná, onde esse sujeito reside. Trata-se de um estudo de natureza qualitativa, de cunho etnográfico, apoiada em um estudo de caso. Os registros foram coletados por meio de entrevistas realizadas com professores, psicóloga e equipe pedagógica das escolas, onde o sujeito estudou e com o próprio sujeito. Os resultados confirmam a tendência de que a maioria dos filhos ouvintes de pais surdos tornam-se bilíngues, pelo fato de dominarem duas línguas (a de sinais e a língua oral). A língua de sinais incide no processo de aquisição da linguagem escrita desses alunos, visto que, ao internalizarem a estrutura sintática dessa língua e também da língua portuguesa, natural e simultaneamente, pode acarretar a mistura dessas línguas no momento da elaboração da escrita. Tal fato pode gerar consequências negativas no processo escolar, uma vez que os aspectos da cultura surda, vivenciados tanto pelos pais surdos quanto pelos filhos ouvintes, são totalmente negligenciados pela maioria das escolas. Pretende-se, com este artigo, contribuir com a área da Educação ao se destacar que os filhos de pais surdos, ainda que não carreguem o estereótipo da deficiência, necessitam de um olhar especial e diferenciado por parte da escola, a fim de que esses sujeitos não sejam excluídos de um efetivo processo de ensino e aprendizagem.
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