NÃO SE CALE – uma campanha digital feminista que instiga a capacidade da voz e da fala diante das violências
DOI:
https://doi.org/10.5902/1984644469749Palavras-chave:
Cuidado de si, Políticas digitais feministas, ViolênciasResumo
Vive-se no Brasil uma história de naturalização ou mesmo de apagamento, de não inscrição, de não registro das violências. Como tentativa de saída ante as violências corporais, há movimentos pela via de políticas feministas digitais contemporâneas, que têm se expandido, ativando campanhas que evocam o debate sobre o silenciamento das violências ou que reivindicam práticas de não violência. De um conjunto de políticas feministas digitais, escolhemos a campanha NÃO SE CALE. O objetivo é analisar essa campanha a partir de seu enunciado reitor, a fim de compreender as condições de possibilidade históricas que motivam a enunciação da capacidade de fala diante das violências corporais. O corpus de análise da campanha, neste artigo, é constituído por imagens e dizeres enunciativos postados no perfil em redes sociais digitais, tais como Instagram, Facebook e Twitter. Para a análise, propomos um percurso metodológico inspirado na perspectiva foucaultiana, com o enunciado reitor NÃO SE CALE. Como resultado de análise, destacamos que a campanha se desdobra em dois movimentos interligados. A campanha NÃO SE CALE faz certa fissura. Por um lado, aponta que as mulheres podem falar, “devem falar” e não se calar diante das violências, sinalizando que o enfrentamento para ruptura do silêncio diante das violências passa pela dimensão de um cuidado de si, de um novo sujeito político, singular e ativo, que toma atitude diante das violências. Por outro lado, e ao mesmo tempo, mostra uma nova memória, de resistência, destacando que, em um mundo violento, a voz, a fala, aparecem como primeira arma.
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