Estressores e crença de autoeficácia em universitários negros

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/1984644442452

Palavras-chave:

Negro, Universidade, Autoeficácia, Estresse

Resumo

A literatura científica destaca que maiores níveis de autoeficácia estão associados a um desempenho acadêmico mais satisfatório. Entre as variáveis que podem afetar esse fenômeno, destaca-se que o preconceito racial sofrido por estudantes negros pode constituir-se como um fator estressor capaz de impactar na crença de autoeficácia no contexto universitário. O objetivo deste estudo foi caracterizar a percepção de estressores e a crença de autoeficácia de estudantes universitários autodeclarados negros e pardos. Trata-se de estudo survey descritivo, preditivo, comparativo e correlacional. Participaram 60 estudantes universitários com idade média de 23,1 anos, sendo 45 mulheres e 15 homens, autodeclarados pardos/negros. Por meio de uma coleta de dados online, foram empregados instrumentos para caracterização de rendimento acadêmico, de avaliação de autoeficácia em situações acadêmicas e de sintomas de estresse. A amostra enfrentou maior estresse no tocante às demandas acadêmicas em comparação com outros contextos. A crença de autoeficácia teve impacto significativo na percepção de estressores na maioria dos contextos. Outro estressor refere-se às relações com família e colegas. Diante disso, sugere-se o desenvolvimento de políticas institucionais que permitam ao aluno desenvolver suas potencialidades, especialmente sua crença de autoeficácia, buscando amenizar a percepção de estressores. Tais políticas devem dialogar diretamente com as possíveis necessidades trazidas pelos estudantes negros.

Biografia do Autor

Marta Regina Gonçalves Correia-Zanini, Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino - FAE

Doutora em Psicologia. Professora do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino - FAE.

Adalberto Moretti Brito, Psicólogo. Pós-graduando (lato sensu) em Humanidades: Ciência Cultura e Sociedade pelo Instituto Federal - Campus São João da Boa Vista

Psicólogo formado pelo Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino - FAE. Pós-graduando (lato sensu) em Humanidades: Ciência Cultura e Sociedade pelo Instituto Federal - Campus São João da Boa Vista

 

Fabio Scorsolini-Comin, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP)

Doutor em Psicologia pela Universidade de São Paulo e docente da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).

Referências

ARAÚJO, Joel Zito. O negro na dramaturgia, um caso exemplar de decadência do mito da democracia racial brasileira. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 16, n. 3, p. 979-985, 2008.

ARIÑO, Daniela Ornellas; BARDAGI, Marúcia Patta. Relação entre fatores acadêmicos e a saúde mental de estudantes universitários. Psicologia e Pesquisa, v. 12, n. 3, p. 44-52, 2018.

ÁVILA, Rebeca Contrera; PORTES, Écio Antônio. A tríplice jornada de mulheres pobres na universidade pública: trabalho doméstico, trabalho remunerado e estudos. Revista de Estudos Feministas, Florianópolis, v. 20, n. 3, p. 809-832, 2012.

BANDURA, Albert. Social foundantions of thought & action: a social cognitive theory. Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1986.

BARDAGI, Marúcui Patta; HUTZ, Cláudio Simon. Eventos estressores no contexto acadêmico: uma breve revisão da literatura brasileira. Interação em Psicologia, v. 15, n. 1, 111-119, 2011.

BORZONE VALDEBENITO, María Andrea. Self-efficacy and academic experiences with university students. Acta Colombiana de Psicología, Bogotá, v. 20, n. 1, p. 275-283.

BZUNECK, José Aloyseo. As crenças de autoeficácia e o seu papel na motivação do aluno. In: BORUCHOVITCH, Evely; BZUNECK, José Aloyseo. A motivação do aluno: contribuições da psicologia contemporânea. Petrópolis, Vozes, 2001, p. 116-133.

CARDOSO, Carla Cristina Fernandes. O burnout em universitários e os fatores estressores no último ano do ensino superior. 2017. 46 f. Trabalho de Conclusão de Curso não-publicada, Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE, São João da Boa Vista, 2017.

CERDEIRA, José Pedro; PALENZUELA, David L. Expectativas de auto-eficácia percebida: versão portuguesa de uma escala específica para situações académicas. Revista Portuguesa de Educação, v. 11, n. 1, p. 103-112, 1998.

FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.

FERREIRA, Fernando Lana. Democracia racial brasileira: uma piada sem graça. Mediações, n. 23, v. 1, p. 193-242, 2018.

GAIA, Ronan da Silva Parreira; SCORSOLINI-COMIN, Fabio. As encruzilhadas do racismo estrutural na educação do negro no Brasil. Revista África e Africanidades, v. 35, p. 215-232, 2020.

GONÇALVES, Luciane Ribeiro Dias; KATRIB, Cairo Mohamed Ibrahim. Pós-colonialismo, relações étnico-raciais e universidade. Motricidades, n. 2, v. 2, p. 135-148, 2018.

GRANER, Karen Mendes; CERQUEIRA, Ana Teresa de Abreu Ramos. Revisão integrativa: sofrimento psíquico em estudantes universitários e fatores associados. Ciência & Saúde Coletiva, v. 24, n. 4, 1327-1346, 2019.

GUERREIRO-CASANOVA, Daniela Couto; POLYDORO, Soely Aparecida Jorge. Autoeficácia na formação superior: percepções durante o primeiro ano de graduação. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 31, n.1, p. 50-65, 2011.

JACCOUD, Luciana. Racismo e República: o debate sobre o branqueamento e a discriminação racial no Brasil. In: THEODORO, Mario (Org.). As políticas públicas e a desigualdade racial no Brasil 120 anos após a abolição. Brasília: IPEA, 2008, p. 45-64.

KANNER, Allen et al. Comparison of two modes of stress measurement: Daily hassles and uplifts versus major life events. Journal of Behavioral Medicine, n. 4, n. 1, p. 1-39, 1981.

KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Berlim: Cobogó, 2019.

MORETTI, Felipe Azevedo; HÜBNER, Maria Martha Costa. O estresse e a máquina de moer alunos do ensino superior: vamos repensar nossa política educacional? Revista Psicopedagogia, v. 34, n. 105, p. 258-267, 2017.

MUNOZ, Bruna Lanzoni; OLIVEIRA, Gisela Lays dos Santos; SANTOS, Alessandro de Oliveira. Mulheres negras acadêmicas: preconceito, discriminação e estratégias de enfrentamento em uma universidade pública do Brasil. Interfaces Brasil/Canadá – Revista de Estudos Canadenses, v. 18, n. 3, p. 28-41, 2018.

NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. 3. ed. São Paulo: Perspectivas, 2016.

NASCIMENTO, Elisa Larkin. O sortilégio da cor: identidade, raça e gênero no Brasil. São Paulo: Summus, 2003.

NOGUEIRA, Oracy. Tanto preto, quanto branco: estudo de relações raciais. São Paulo: T. A. Queiroz, 1985.

OLIVEIRA, Vanessa Florêncio de. Nina Rodrigues, Gilberto Freyre e Florestan Fernandes: três perspectivas distintas sobre a miscigenação. Revista Sem Aspas, Araraquara, v. 6, n. 1, p. 85-91, 2017.

PALENZUELA, David L. Construcción y validación de una escala de autoeficacia percibida específica de situaciones académicas. Análisis y Modificacion de Conducta, v. 9, n. 21, p. 185-219, 1983.

PASSOS, Joana Célia; NOGUEIRA, João Carlos. Movimento negro, ações políticas e as transformações sociais no Brasil contemporâneo. Política e Sociedade, n. 13, v. 28, p.105-124, 2014.

POCINHO, Margarida; CAPELO, Maria Regina. Vulnerabilidade ao stress, estratégias de coping e autoeficácia em professores portugueses. Educação e Pesquisa, n. 35, v. 2, p. 351-367, 2009.

QUEIROZ, Zandra Cristina Lima Silva et al. A lei de cotas na perspectiva do desempenho acadêmico na Universidade Federal de Uberlândia. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 96, n. 243, p. 299-320, 2015.

RIOS, Ana Maria; MATTOS, Hebe Maria. O pós-abolição como problema histórico: balanços e perspectivas. Topoi, Rio de Janeiro, v. 5, n.8, p. 170-198, 2004.

SANTOS, Sales Augusto. O sistema de cotas para negros da UnB: um balanço da primeira geração. São Paulo: Paco Editorial, 2015.

SANTOS, Diego Junior da Silva et al. Raça versus etnia: diferenciar para melhor aplicar. Dental Press Journal of Orthodontics, v. 15, n. 3, p. 121-124, 2010.

SANTOS JUNIOR, Amilton et al. Experiências percebidas de discriminação e saúde mental: resultados em estudantes universitários brasileiros. Serviço Social & Saúde, v. 15, v. 2, p. 273-298, 2016.

SCHWARCZ, Lilia. O espetáculo das raças. São Paulo: Cia das Letras, 1993.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Teorias Raciais. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz; GOMES, Flávio dos Santos (org.). Dicionário da Escravidão: 50 textos críticos. São Paulo: Cia das Letras, 2018. p. 403-409.

SCORSOLINI-COMIN, Fabio; GABRIEL, Carmen Silvia. O que pode ser considerado inovador no ensino superior contemporâneo?: considerações sobre o acolhimento estudantil. Revista da SPAGESP, Ribeirão Preto, v. 20, n. 2, p. 1-5, 2019.

SOUZA, Neusa Santos. Tornar-se negro: as vicissitudes da identidade do negro brasileiro. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1983.

THOMPSON, John B. Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. Petrópolis: Vozes, 1995, 427 p.

VIEIRA, Lidiani Nunes; SCHERMANN, Lígia Braun. Estresse e fatores associados em alunos de psicologia de uma universidade particular do sul do Brasil. Aletheia, n. 46, p. 120-130, 2015.

WELLER, Wivian; HOLANDA, Maria Auxiliadora Gonçalves. Trajetórias de vida de jovens negras da Universidade de Brasília no contexto das ações afirmativas. Poiésis, Tubarão, v. 8, n. 13, p. 57-80, 2014.

WESCHENFELDER, Viviane Inês; FABRIS, Elí Terezinha Henn. Tornar-se mulher negra: escrita de si em um espaço interseccional. Revista de Estudos Feministas, Florianópolis, v. 27, n. 3, e54025, 2019.

Downloads

Publicado

2021-06-30

Como Citar

Correia-Zanini, M. R. G., Brito, A. M., & Scorsolini-Comin, F. (2021). Estressores e crença de autoeficácia em universitários negros. Educação, 46(1), e64/ 1–27. https://doi.org/10.5902/1984644442452