Com deficiência, mulher e refugiada: uma tríade omnileticamente interseccional

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/1984686X67656

Palavras-chave:

Perspectiva omnilética de inclusão, Interseccionalidade, Mulheres com deficiência, Refugiadas

Resumo

Sabe-se que dentre os grupos minoritários, o das pessoas com deficiência é o mais numeroso no mundo (ONU, 2016). Entre a população de refugiados, cerca de 7 a 10% são pessoas com deficiência (NOGUEIRA, 2017). No Brasil, a média de mulheres pleiteantes à condição de refugiadas é relativamente próxima à de homens: 44,75 e 55,23%, respectivamente (SILVA, G. J. et al, 2020). Estes dados garantem às pessoas com deficiência o status de um forte marcador identitário, assim como lhes conferem alto status de representatividade perante outras minorias, os quais, em si mesmos, seriam motivos suficientes para a garantia de políticas públicas favoráveis à inclusão de quaisquer pessoas cujo marcador se iniciasse pela deficiência em todos os níveis educacionais, inclusive o Superior. Contudo, não é assim que a realidade concreta se mostra. Estes números pioram quando as pessoas com deficiência a quem nos referimos são mulheres refugiadas. Com o objetivo de ampliar as discussões que envolvem as pessoas com deficiência para além do marcador “deficiência” em si, este artigo pretende discutir as temáticas cruzadas (interseccionadas) de mulheres refugiadas e com deficiência, revelando e desvelando o interjogo entre culturas, políticas e práticas dialética e complexamente presentes neste quadro interseccional. Trata-se de um estudo exploratório tendo por referencial analítico a perspectiva Omnilética de Santos (2013) e o conceito de interseccionalidade. As perguntas que nos inspiram são: Como a ciência tem tratado esses assuntos? Têm eles sido estudados interseccionalmente? Qual a produção científica já produzida neste sentido? Nossas conclusões apontam para a confirmação de nossas suspeitas no sentido da necessidade de investimento em produção de conhecimento em uma perspectiva interseccional acerca de mulheres refugiadas com deficiência, tendo em vista subsidiar o desenvolvimento e a implementação de políticas públicas que lhes assegurem o direito de uma vida minimamente digna.

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Biografia do Autor

Mônica Pereira dos Santos, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ

Professora doutora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Mylene Cristina Santiago, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG

Professora doutora da Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG, Brasil.

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Publicado

2021-12-27

Como Citar

Santos, M. P. dos, & Santiago, M. C. . (2021). Com deficiência, mulher e refugiada: uma tríade omnileticamente interseccional. Revista Educação Especial, 34, e69/1–17. https://doi.org/10.5902/1984686X67656

Edição

Seção

Dossiê – Deficiência e Interseccionalidade: culturas, políticas e práticas educacionais em debate

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