Schopenhauer e as duas ordens de finalidade no mundo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/2179378667452

Palavras-chave:

Schopenhauer, Teleology, Nature, Soteriology

Resumo

Neste artigo, pretendo argumentar que o surgimento das condições materiais para a supressão e a negação da vontade no organismo humano (o desenvolvimento extraordinário e em certa medida “antinatural” do cérebro) não é algo como um “acidente de percurso” no processo de manifestação da vontade no mundo. Trata-se, antes, de um resultado intencional de todo o processo de objetivação da vontade, um resultado que emerge de uma ordenação teleológica. Essa ordem teleológica é primária e mais fundamental do que a ordem teleológica da natureza que produz cada fenômeno e cada estrutura orgânica em função de sua capacidade de promover o surgimento, a conservação e a expansão da vida. Isso faz com que tenhamos de encarar o problemático princípio de finalidade da natureza no pensamento de Schopenhauer como contendo duas ordens distintas e em grande medida contraditórias. Podemos denominar essas duas ordens de finalidade “ordem da natureza” e “ordem da salvação” (em analogia com o “reino da natureza” e o “reino da graça” de Schopenhauer). Essas duas ordens de finalidade no mundo correspondem àquilo que entendo serem duas formas de teleologia que convivem em constante tensão em seu sistema: uma teleologia funcional e uma teleologia ético-soteriológica.

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Biografia do Autor

William Mattioli, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ

Professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da mesma universidade. Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais

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Publicado

2021-12-28 — Atualizado em 2022-03-23

Versões

Como Citar

Mattioli, W. (2022). Schopenhauer e as duas ordens de finalidade no mundo. Voluntas: Revista Internacional De Filosofia, 12, e13. https://doi.org/10.5902/2179378667452 (Original work published 28º de dezembro de 2021)

Edição

Seção

Schopenhauer e o pensamento universal