Schopenhauer e as duas ordens de finalidade no mundo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/2179378667452

Palavras-chave:

Schopenhauer, Teleology, Nature, Soteriology

Resumo

Neste artigo, pretendo argumentar que o surgimento das condições materiais para a supressão e a negação da vontade no organismo humano (o desenvolvimento extraordinário e em certa medida “antinatural” do cérebro) não é algo como um “acidente de percurso” no processo de manifestação da vontade no mundo. Trata-se, antes, de um resultado intencional de todo o processo de objetivação da vontade, um resultado que emerge de uma ordenação teleológica. Essa ordem teleológica é primária e mais fundamental do que a ordem teleológica da natureza que produz cada fenômeno e cada estrutura orgânica em função de sua capacidade de promover o surgimento, a conservação e a expansão da vida. Isso faz com que tenhamos de encarar o problemático princípio de finalidade da natureza no pensamento de Schopenhauer como contendo duas ordens distintas e em grande medida contraditórias. Podemos denominar essas duas ordens de finalidade “ordem da natureza” e “ordem da salvação” (em analogia com o “reino da natureza” e o “reino da graça” de Schopenhauer). Essas duas ordens de finalidade no mundo correspondem àquilo que entendo serem duas formas de teleologia que convivem em constante tensão em seu sistema: uma teleologia funcional e uma teleologia ético-soteriológica.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

William Mattioli, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ

Professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da mesma universidade. Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais

Referências

ATZERT, S. Zwei Aufsätze über Leben und Tod: Sigmund Freuds Jenseits des Lustprinzips und Arthur Schopenhauers Transscendente Spekulation über die anscheinende Absichtlichkeit im Schicksal des Einzelnen. Schopenhauer Jahrbuch, v. 86, p. 179-194, 2005.

BRANDÃO, E. A concepção de matéria na obra de Schopenhauer. São Paulo: Humanitas, 2008.

CACCIOLA, M. A questão do finalismo na filosofia de Schopenhauer. Revista Discurso, n. 20, p. 79-98, 1993.

DEBONA, V. A grande e a pequena ética de Schopenhauer. ethic@, Florianópolis, v. 14, n. 1, p. 36-56, julho de 2015.

DE CIAN, N. Unintelligent Purposes. Schopenhauer’s Way over Kantian Teleology. In: ILLETTERATI, L.; MICHELINI, F. (eds.). Purposiveness. Teleology Between Nature and Mind. Frankfurt: Ontos Verlag, 2008.

GOLDSCHMIDT, A. Schopenhauer lecteur de Lamarck: le problème des causes finales. In: GOLDSCHMIDT, A. Écrits. Paris: Vrin, 1984.

KOßLER, M. „Das Leben ist nur ein Spiegel“ – Schopenhauers kritischer Lebensbegriff. ethic@, Florianópolis, v. 11, n. 2, p. 1-15, julho de 2012.

MALTER, R. Schopenhauers Transzendentalismus. Midwest Studies in Philosophy, v. 8, n. 1, p. 433-455, 1983.

MALTER, R. Arthur Schopenhauer: Transzendentalphilosophie und Metaphysik des Willens. Stuttgart: Frommann-Holzboog, 1991.

MATTIOLI, W. O paradoxo das causas finais: Schopenhauer leitor da “Crítica do juízo teleológico”. Revista de Filosofia Aurora, v. 30, n. 49, p. 205-235, 2018.

MATTIOLI, W. Morte, vida e destino em Schopenhauer e Freud: os “fins da natureza” na metafísica da vontade e na metapsicologia. Voluntas: Revista Internacional de Filosofia, v. 11, n. 2, p. 348-381, 2020.

SCHOPENHAUER, A. Sämtliche Werke. Hrsg. v. Paul Deussen. München: Piper Verlag, 1911-1926.

SCHOPENHAUER, A. The World as Will and Representation. Volume I. Trad. Judith Norman, Alistair Welchman and Christopher Janaway. New York: Cambridge University Press, 2010.

SCHOPENHAUER, A. The World as Will and Representation. Volume II. Trad. E. F. J. Payne. New York: Dover Publications, 1966.

SCHOPENHAUER, A. On Will in Nature. Trad. David E. Cartwright, Edward E. Erdmann and Christopher Janaway. New York: Cambridge University Press, 2012.

SCHOPENHAUER, A. Parerga and Paralipomena. Short Philosophical Essays. Volume One. Trad. E. F. J. Payne. Oxford: Oxford University Press, 2000.

SCHOPENHAUER, A. Parerga and Paralipomena. Short Philosophical Essays. Volume Two. Trad. E. F. J. Payne. Oxford: Oxford University Press, 2000.

SCHOPENHAUER, A. Der handschriftlicher Nachlaß in fünf Bänden. Hrsg. v. Arthur Hübscher. München: Deutscher Taschenbuch Verlag, 1985.

SCHOPENHAUER, A. Metaphysik der Natur. Textgrundlage: Arthur Schopenhauers handschriftlicher Nachlaß: Philosophie Vorlesungen, hrsg. von Franz Mockrauer. In: Arthur Schopenhauers sämtliche Werke, hrsg. von Dr. Paul Deussen, Bd. X, München: R. Piper Verlag, 1913.

ZENTNER, M. „Das Ziel alles Lebens ist der Tod“. Schopenhauer und Freuds Todestrieb. Archiv für Geschichte der Philosophie, v. 75, p. 319-339, 1993.

Publicado

2021-12-28 — Atualizado em 2022-03-23

Versões

Como Citar

Mattioli, W. (2022). Schopenhauer e as duas ordens de finalidade no mundo. Voluntas: Revista Internacional De Filosofia, 12, e13. https://doi.org/10.5902/2179378667452 (Original work published 28º de dezembro de 2021)