Letramentos dos corpos: direitos linguísticos e existenciais das pessoas negras surdas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/1984644464791

Palavras-chave:

Interseccionalidade, Pessoas Negras Surdas, Direitos linguísticos e existenciais.

Resumo

O capitalismo, criado com a colonialidade, utiliza-se da dominação da natureza e tudo o que dela faz parte para a manutenção desse sistema econômico mundial. A colonialidade implementa a tecnologia da dominação e da exploração dos corpos e com suas intersecções, uma vez que é impossível a fragmentação do corpo. O objetivo central desta discussão é suscitar a reflexão sobre como os corpos de pessoas negras surdas, situados no sistema-mundo, estruturado pela colonialidade e pelo capitalismo neoliberal, enunciam sentidos, tencionando, assim, as relações de poder nas quais se envolvem. O sistema-mundo é opressor e subalterniza as pessoas negras surdas, impondo-lhes visões branco-ouvintistas para a manutenção da supremacia da colonialidade. Nosso pressuposto é que a subalternização e a dominação de seus corpos estão ligadas à negação dos direitos linguísticos e existenciais da população negra surda brasileira, como um todo. Esse pressuposto se sustenta na revisão da literatura que aborda a intersecção das questões de raça, surdez e direitos linguísticos. A partir das referências selecionadas, foram sintetizadas reflexões teóricas que possibilitam evidenciar a colisão das estruturas de cultura/linguagem/epistemologia, raça/cor, gênero/sexualidade, classe e outras categorias de classificação de identificação sociais. No final, foi possível constatar que a opressão e marginalização dos corpos das pessoas negras surdas são resultantes das colisões criadas pelo racismo estrutural, criado pela colonialidade e mantido pelo capitalismo globalizado, reverberando, assim, a negação dos direitos linguísticos e existenciais de pessoas negras surdas.

Biografia do Autor

Icaro Augusto Santos, Universidade Federal de Goiás

Mestrando em Letras pela Universidade Federal do Tocantins (UFT), Especialista em Língua Brasileira de Sinais pela FATAP, Graduado em Letras: Libras pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Professor do Departamento de Libras e Tradução da Faculdade de Letras (DELT/FL/UFG). É membro do Obiah - Grupo de Estudos Interculturais Decoloniais da Linguagem e também membro do Alaye - Laboratório de Pesquisa em Informação Antirracista e Sujeitos Informacionais.

Tânia Ferreira Rezende, Universidade Federal de Goiás

Licenciatura em Letras: Português e Inglês pelo Centro Universitário UniEvangélica, Mestrado em Letras e Linguística, área de Estudos Linguísticos, pela Universidade Federal de Goiás, Doutorado em Estudos Linguísticos, pela Universidade Federal de Minas Gerais. Pós-Doutorado na Universidade de São Paulo. Professora Associada da Universidade Federal de Goiás, atua na graduação e na pós-graduação, com ensino, pesquisa e extensão, na linha de pesquisa Linguagem, Sociedade e Cultura, na área de Linguagem, com ênfase em Sociolinguística, especificamente na Cosmolinguística, priorizando temáticas relacionadas ao Letramento Intercultural, com enfoque em língua portuguesa (língua materna, língua não materna e acolhimento para pessoas em situação de itinerância), Políticas Linguísticas (diversidade e contato linguístico, cultural e epistêmico), Tradução Transcultural, situada na intersecção Gênero, Identidade Étnicorracial, Cultura, Linguagem e Educação Linguística de Grupos Subalternizados. Líder do Obiah Grupo de Estudos Interculturais Decoloniais da Linguagem. Coordenadora do Laboratório de Políticas e Promoção da Diversidade Linguística e Cultural da Faculdade de Letras/UFG. Coordenadora do Centro de Formação e Apoio Linguístico e Literário Maria Firmina dos Reis da Faculdade de Letras/UFG.

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Publicado

2021-11-04

Como Citar

Santos, I. A., & Rezende, T. F. (2021). Letramentos dos corpos: direitos linguísticos e existenciais das pessoas negras surdas. Educação, 46(1), e104/ 1–23. https://doi.org/10.5902/1984644464791

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