Reflexões sobre a soletração datilológica na educação de surdos e o ensino da língua de sinais e da língua portuguesa

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/1984644488154

Palavras-chave:

Educação de surdos, Soletração datilológica, Letramento

Resumo

No Brasil, a modalidade de educação bilíngue para surdos está assegurada pela Lei  nº 14.191 de 2021 (Brasil, 2021), que garante o acesso à língua brasileira de sinais (Libras) e a língua portuguesa na modalidade escrita aos estudantes surdos. Assim sendo, o trabalho linguístico na escola bilíngue, considera, ao menos, o ensino de duas línguas de modalidades distintas, pois uma é espaço-visual e a outra é oral-auditiva. Faz parte deste contexto, o uso do alfabeto manual ou datilologia, que contribui com o trabalho de ambas as línguas e exerce, ao longo da escolarização, importante papel para a compreensão da língua portuguesa. Desta forma, este estudo objetiva refletir a respeito da soletração datilológica como um meio de favorecer a compreensão do processo de acesso às palavras da língua portuguesa e seus respectivos sinais em Libras, com o intuito de ampliar o repertório linguístico do surdo, lançando mão de habilidades metalinguísticas que mobilizam itens lexicais e a estrutura sintática das duas línguas. O estudo tem uma abordagem qualitativa e é tipo bibliográfico e documental. Além de referências teóricas da área da educação de surdos, faz parte do corpus iconografias com datilologias correspondentes ao alfabeto em língua portuguesa e livros destinados ao público ouvinte e surdo sobre o tema. Espera-se que o desenvolvimento deste estudo possa contribuir com o debate sobre o uso da datilologia na escolarização de surdos como mais uma das estratégias visando a educação bilíngue.

Biografia do Autor

Cassia Geciauskas Sofiato, Universidade de São Paulo

Docente da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP), do Departamento de Filosofia da Educação e Ciências da Educação e do Programa de Pós-graduação em Educação. Realizou estágio Pós-doutoral na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, da Universidade do Porto, Portugal. Atuou como professora visitante na Universidade do Porto, em Portugal, pelo Edital Print-Capes (2020 e 2021). É doutora e Mestre em Artes pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e graduada em Pedagogia: Formação de professores para a área de Educação Especial pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Foi docente da Faculdade de Educação e orientadora pedagógica do Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas de 2000 a 2012. Foi coordenadora pedagógica do Curso de Pedagogia- Plano Nacional de Professores da Educação Básica-Parfor na PUC- Campinas de 2010 a 2012. Atuou também na educação básica durante 17 anos, como professora, coordenadora pedagógica, orientadora educacional e coordenadora de área em instituições formais de ensino. Possui proficiência em Libras (Língua Brasileira de Sinais). Desenvolve pesquisas com os seguintes temas: educação de surdos, história da educação de surdos, arte e educação especial, história da educação especial e língua brasileira de sinais. Atualmente é vice-presidente da Comissão de Cultura e Extensão da FEUSP, vice-chefe e coordenadora da área de Educação Especial no Departamento de Filosofia da Educação e Ciências da Educação da FEUSP.

Felipe Venâncio Barbosa, Universidade de São Paulo

Possui graduação em Fonoaudiologia (2001) pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, especialização em Ativação de Processos de Mudança no Ensino Superior de Profissionais da Saúde (2006) pela Fundação Oswaldo Cruz e doutorado direto em Ciências da Reabilitação - Comunicação Humana (2007) pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Realizou pós doutorado no Deafness, Cognition and Language Centre (DCAL) da University College London (2012-2013, 2019-2020). Atualmente é professor doutor do Departamento de Linguística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, atuando como professor da graduação e do Programa de Pós-Graduação em Linguística. É responsável pelo Grupo de Pesquisa em Língua de Sinais e Cognição (Lisco) do Laboratório Theorodo Henrique Maurer do Departamento de Linguística. Possui atuação voltada à surdez e à Língua de Sinais Brasileira (Libras) com ênfase nos estudos em Linguística Clínica, com foco na descrição e análise da compreensão e produção atípica das línguas de sinais. Atua também com o ensino de língua de sinais como segunda língua e com estudos da cognição. Possui experiência na elaboração de currículos de Libras e Língua Portuguesa como segunda língua para surdos. Tem interesse principalmente pelos seguintes temas: surdez, língua de sinais, linguagem, cognição, distúrbios de linguagem em língua de sinais, linguística clínica, ensino de língua de sinais.

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Publicado

2025-05-20

Como Citar

Sofiato, C. G., & Barbosa, F. V. (2025). Reflexões sobre a soletração datilológica na educação de surdos e o ensino da língua de sinais e da língua portuguesa. Educação, 50(1), e74/1–23. https://doi.org/10.5902/1984644488154

Edição

Seção

Dossiê: As políticas e práticas de alfabetização, leitura e escrita