“Tá faltando alguma coisa”: o uso de telas no cotidiano sociofamiliar de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA)
DOI:
https://doi.org/10.5902/1984686X87311Palavras-chave:
Autismo infantil, Uso de internet, Contexto sociofamiliarResumo
As famílias contemporâneas são impactadas pela transformação digital. Mais de 80% dos domicílios no Brasil possuem acesso à internet e a algum equipamento digital (CGI, 2024). Neste texto, nosso objetivo é analisar a percepção dos responsáveis legais por crianças com autismo, acompanhadas em um serviço de saúde mental no município de Recife/PE, acerca do uso de telas no cotidiano sociofamiliar. Trata-se de um estudo qualitativo (Minayo; Deslandes; Gomes, 2011), que utilizou entrevistas semiestruturadas e a análise dos dados, baseada no referencial da análise de conteúdo (Bardin, 2016). Os resultados apontam que, no contexto doméstico de famílias em vulnerabilidade social, as orientações fornecidas pelos serviços de saúde sobre o uso de telas na infância são frequentemente consideradas inviáveis. Nesses casos, as telas digitais assumem, muitas vezes, o papel de acompanhantes e supervisoras das crianças, permitindo que os pais realizem determinadas tarefas. Identificamos que a maioria dos pais associa o uso de telas a prejuízos, como problemas oftalmológicos, prejuízos no humor, no comportamento, na fala e na interação social. Por outro lado, os benefícios relatados incluem o aprendizado de habilidades específicas. Com relação ao contexto escolar, os participantes relatam que o YouTuBe é uma plataforma que promove aprendizado, podendo ser utilizada como reforço escolar e para melhor compreensão de conteúdos não assimilados na escola. Conclui-se que as telas digitais impactam o cotidiano e a rotina das famílias, mas, quando utilizadas com responsabilidade, contribuem para o desenvolvimento das crianças.
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