A IRONIA DE MACHADO EM DOM CASMURRO: REFLEXÃO SOBRE A CORDIALIDADE ANTI TRÁGICA

Auteurs-es

  • Kathrin Holzermayr Rosenfield

DOI :

https://doi.org/10.5902/2176148511910

Résumé

Em Dom Casmurro, Machado ironiza os pendores românticos e trágicopatéticos  da  cultura  brasileira.  Ele  impõe  uma  modulação  burlesca  à  tradição narrativa de Flaubert, que este estudo confronta a algumas variantes européias dessa  desconstrução  –  Nietzsche,  Kafka  e  Musil.  O  distanciamento  do  foco narrativo e o sarcasmo burlesco da enunciação inscrevem-se no viés anti-trágico da tradição luso-brasileira. Em vez de focalizar um “antes” idílico, idade de ouro, perdida  “depois”  da  descoberta  da  suposta  infidelidade,  procuramos  mostrar que o “Mal” machadiano se prepara nas constelações da timidez, da moleza dos sentidos e do espírito. Nesta perspectiva, Dom Casmurroé uma versão moderna da temida acedia melancólica que Machado desenha, com um misto de ironia e ternura, a fisionomia moderna do vício, que Dürer fixou na sua famosa litografia “A Melancolia”. No acanhamento tímido desaparece a transgressão positiva ou passional e, no lugar de uma ação fatal, surge a entrega passiva ao que é dado – o gosto indulgente da repetição e o ressentimento.

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Publié-e

2006-06-01

Comment citer

Rosenfield, K. H. (2006). A IRONIA DE MACHADO EM DOM CASMURRO: REFLEXÃO SOBRE A CORDIALIDADE ANTI TRÁGICA. Letras, (32), 71–90. https://doi.org/10.5902/2176148511910