“O resto é silêncio”: Hamlet, os cortes e a contemporaneidade

Autores

  • Michael Dobson University of Birmingham

DOI:

https://doi.org/10.5902/2176148564671

Palavras-chave:

Hamlet, Garrick, Hunter, Fortimbrás, Cortes, Abreviamentos, Interrupção, Ontologia, Adaptação, Laszlo, Tyler, Quarto, Edições para a cena, Iluminismo

Resumo

Este ensaio reflete sobre a longa história de abreviações de Hamlet para a
cena, desde os primeiros quartos e o texto do Folio até as produções pós-modernas, como as de Bocsardi Laszlo, de Kelly Hunter e de Daniel Tyler (todas de 2015). Coloca em questão o que as pessoas almejavam cortar quando operavam cortes em Hamlet; pondera em que época o público que frequentava o teatro começa a desejar um Hamlet sem cortes, e indaga se a peça em si era considerada como um filtro, um meio termo ou um agregado de todas as suas muitas iterações. Mostra que muitas edições impressas até 1800, que registram cortes e pequenas modernizações verbais feitas pelos produtores de teatro, não viam diferença entre o legível da página e o visível no teatro, e propõe-se a discutir se os cortes em pauta seriam compatíveis com as estratégias de interrupção e abreviação da própria peça. O ensaio argumenta que a percepção de uma fissura entre a peça encenada e o estudo da peça surgiu somente no século XIX, e foi levada em consideração na virada do século XX por produções de nichos “puristas” que revivificaram estritamente o texto do Q1 ou priorizaram ostensivamente as impraticáveis longas conflações do Q2 e F, recentemente anunciadas como versões (sem cortes). Nos nossos dias, Hamlet é tão conhecido que é considerado à prova de cortes (como na produção de Laszlo, na qual, mesmo com as linhas não ditas internalizadas pelo elenco, os personagens stanislavskianos se recusavam a falar certas frases conhecidas) e, portanto, suscetíveis a abreviações que privilegiam a interioridade sobre a trama (como a de Hunter), ou a alocação de uma confusa e fastidiosa herança – como em The Hamlet Archive de Tyler, um espetáculo criado para uma locação específica, organizado em uma biblioteca, na qual várias versões das cenas principais da peça foram encenadas no meio de um lixo alusivo de sobras de adereços, estilos, clipes de filmes e motivos do histórico da recepção múltipla da peça. Todas essas produções sugerem que chegamos a um estágio muito tardio da performance e da história literária da peça. levada em consideração na virada do século XX por produções de nichos “puristas” que revivificaram estritamente o texto do Q1 ou priorizaram ostensivamente as impraticáveis longas conflações do Q2 e F, recentemente anunciadas como versões (sem cortes). Nos nossos dias, Hamlet é tão conhecido que é considerado à prova de cortes (como na produção de Laszlo, na qual, mesmo com as linhas não ditas internalizadas pelo elenco, os personagens stanislavskianos se recusavam a falar certas frases conhecidas) e, portanto, suscetíveis a abreviações que privilegiam a interioridade sobre a trama (como a de Hunter), ou a alocação de uma confusa e fastidiosa herança – como em The Hamlet Archive de Tyler, um espetáculo criado para uma locação específica, organizado em uma biblioteca, na qual várias versões das cenas principais da peça foram encenadas.

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Biografia do Autor

Michael Dobson, University of Birmingham

Michael Dobson é diretor e professor de Shakespeare Studies no The Shakespeare Institute, Stratford-upon-Avon, University of Birmingham, Reino Unido. Ele é um regente honorário da the Royal Shakespeare Company, curador do Flute Theatre, e co-diretor do Shakespeare Centre, na China. Ele lecionou em instituições incluindo Oxford (onde recebeu o Charles Oldham Shakespeare Prize em 1981 e obteve o seu doutorado em 1990), Harvard, a University of Illinois em Chicago, e a University of London. Dobson recebeu doutorados honorários da University of Craiova, na Romênia, e da Lund University, na Suécia. Ele recebeu visiting fellowships e visiting appointments na UCLA, Lund University, Sorbonne, e Peking University. Ele proferiu plenárias honorárias que incluem a Rector’s Lecture at Lodz University, Polônia, the Notre Dame London Shakespeare Lecture in Honour of Professor Sir Stanley Wells, e a Rushton Lecture na University of Virginia, Charlottesville. Suas publicações incluem The Making of the National Poet (1992), The Oxford Companion to Shakespeare (com Stanley Wells, 2001), England's Elizabeth (com Nicola Watson, 2002), Performing Shakespeare's Tragedies Today (2006), Shakespeare and Amateur Performance (2011), and Shakespeare: A Playgoers’ and Readers’ Guide (com Stanley Wells, 2020), assim como muitos ensaios acadêmicos, artigos de resenha (especialmente para a The London Review of Books), e notas teatrais para programas de companhias teatrais.

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Publicado

2021-03-11 — Atualizado em 2022-08-01

Versões

Como Citar

Dobson, M. (2022). “O resto é silêncio”: Hamlet, os cortes e a contemporaneidade. Letras, 55–70. https://doi.org/10.5902/2176148564671 (Original work published 11º de março de 2021)