A gente não tinha capital, mas de verdade a gente era rico:
pobrezas e vidas dignas narradas por mulheres negras assentadas no sul do Brasil
DOI:
https://doi.org/10.5902/2318179685706Palavras-chave:
Assentamentos, Desenvolvimento, Mulheres negras, Pobreza, Teorias locaisResumo
Este ensaio problematiza a temática da pobreza experimentando levar a sério as vozes de mulheres negras assentadas, reconhecendo-as como teorias locais. O desafio foi o de juntar pistas sobre os modos como as noções de pobreza eclodem no cotidiano de mulheres que vivem em territórios associados a uma pobreza invariavelmente decodificada como destituição. Por meio de entrevistas em profundidade, sete mulheres que vivenciam a experiência da luta pela terra junto ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no assentamento Filhos de Sepé, no sul do Brasil, narram suas noções de pobreza, miséria, riqueza e vida digna. Revisitando suas memórias, as mulheres tramam teorias ancoradas em lutas cotidianas que ressoam uma ética comunitária de sustentação da vida que se deseja. Conectadas com a terra e ao bom gosto de viver, suas reflexões indicam a importância de um investimento epistêmico sobre os conceitos de pobrezas e misérias, bem como suas abissais diferenças.
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