A gente não tinha capital, mas de verdade a gente era rico:

pobrezas e vidas dignas narradas por mulheres negras assentadas no sul do Brasil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/2318179685706

Palavras-chave:

Assentamentos, Desenvolvimento, Mulheres negras, Pobreza, Teorias locais

Resumo

Este ensaio problematiza a temática da pobreza experimentando levar a sério as vozes de mulheres negras assentadas, reconhecendo-as como teorias locais. O desafio foi o de juntar pistas sobre os modos como as noções de pobreza eclodem no cotidiano de mulheres que vivem em territórios associados a uma pobreza invariavelmente decodificada como destituição. Por meio de entrevistas em profundidade, sete mulheres que vivenciam a experiência da luta pela terra junto ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no assentamento Filhos de Sepé, no sul do Brasil, narram suas noções de pobreza, miséria, riqueza e vida digna. Revisitando suas memórias, as mulheres tramam teorias ancoradas em lutas cotidianas que ressoam uma ética comunitária de sustentação da vida que se deseja. Conectadas com a terra e ao bom gosto de viver, suas reflexões indicam a importância de um investimento epistêmico sobre os conceitos de pobrezas e misérias, bem como suas abissais diferenças.

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Biografia do Autor

Dayana Cristina Mezzonato Machado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Doutora em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal de Viçosa (2005), especialização em Agricultura Familiar Camponesa e Educação do Campo pela Universidade Federal de Santa Maria (2015) e mestrado em Desenvolvimento Rural pela UFRGS (2017). Experiência profissional como extensionista rural. Educadora no Instituto de Educação Josué de Castro. Membro do grupo Mulheres da Terra e do grupo Laboratório Urgente de Teorias Armadas (LUTA). Dentre os temas de pesquisa e ensino de interesse estão pobreza e desenvolvimento; teorias locais (nativas), pensamento indígena e afrodiaspórico; movimentos sociais; gênero e feminismos comunitários; agroecologia e racismo ambiental; processos de mediação e extensão rural.

Pâmela Marconatto Marques, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Professora do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural da UFRGS e do GT CLACSO "Autonomias, Territorios y Memorias: Geopoliticas en disputa". Professora do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Integrante do NEPEMIGRA/UFRGS. Pesquisadora dos GTs "Pensamiento crítico caribeño sobre raza y racismo" e  "Autonomias, Territórios y Memórias: Geopolíticas en Disputa" (Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales). Integrante do  GT LUTA - Laboratório Urgente de Teorias Armadas (NEAB-UFRGS).

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Publicado

2024-09-02

Como Citar

Machado, D. C. M., & Marques, P. M. (2024). A gente não tinha capital, mas de verdade a gente era rico:: pobrezas e vidas dignas narradas por mulheres negras assentadas no sul do Brasil. Extensão Rural, 31, e85706. https://doi.org/10.5902/2318179685706

Edição

Seção

Sociologia e Antropologia Rural