“O surdo é um sujeito visual, por isso é preciso usar materiais concretos nas aulas de matemática”: problematizações acerca da educação matemática para alunos surdos bilíngues

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/1984686X34343

Palavras-chave:

Alunos surdos, Educação Matemática, Foucault

Resumo

O artigo apresenta resultados de uma pesquisa desenvolvida com o propósito de examinar enunciados que constituem o discurso da educação matemática para alunos surdos bilíngues dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Como aportes teóricos utilizou-se o campo da Etnomatemática em seus entrecruzamentos com o pensamento de Michel Foucault. Os materiais escrutinados envolveram um conjunto de documentos de uma instituição de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, que oferece ensino bilíngue. A estratégia analítica utilizada para operar sobre esses materiais orientou-se pela análise do discurso, na perspectiva foucaultiana. O resultado dessa operação mostrou que na escola estudada circula um enunciado que diz: “o surdo é um sujeito visual, por isso é preciso usar materiais concretos nas aulas de matemática”. Pode-se verificar que o enunciado estudado se entrelaça com outros que circulam nos discursos contemporâneos da Educação de Surdos e da Educação Matemática, constituindo-se em uma verdade a respeito dos processos de ensinar matemática na forma de vida surda.

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Biografia do Autor

Fernando Henrique Fogaça Carneiro, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Doutorando na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.

Fernanda Wanderer, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Professora doutora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.

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Publicado

2019-12-12

Como Citar

Carneiro, F. H. F., & Wanderer, F. (2019). “O surdo é um sujeito visual, por isso é preciso usar materiais concretos nas aulas de matemática”: problematizações acerca da educação matemática para alunos surdos bilíngues. Revista Educação Especial, 32, e115/1–23. https://doi.org/10.5902/1984686X34343

Edição

Seção

Artigos – Demanda contínua