Dinâmica espaço-temporal da extração seletiva de madeiras no estado de Mato Grosso entre 1992 e 2016

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/1980509836802

Palavras-chave:

Distúrbios florestais, Floresta tropical, Amazônia, Sensoriamento Remoto, Sistema de Informação Geográfica

Resumo

A extração seletiva de madeiras é uma atividade florestal que inclui a exploração de um grupo de espécies florestais em florestas nativas, normalmente as de maior valor ou interesse comercial. A extração seletiva de madeiras pode ser executada legalmente, em áreas de manejo e de exploração florestal para desmatamentos autorizados ou, ilegalmente, em situações não autorizadas, que ocorrem de forma predatória. No presente estudo, a dinâmica espaço-temporal da extração seletiva de madeiras no estado de Mato Grosso foi avaliada a partir de uma série temporal (de 1992 a 2016) de dados de florestas exploradas seletivamente detectadas, usando dados de sensoriamento remoto. A interpretação visual e a classificação semiautomática de imagens Landsat foram utilizadas para detectar as florestas alteradas por atividades de extração seletiva de madeiras na área de estudo. Com base nos presentes resultados, estimou-se que 41.926 km2 de florestas nativas foram exploradas ao menos uma vez entre 1992 e 2016 em Mato Grosso, com área média anual de 1.747 km2. As florestas exploradas seletivamente e detectadas com distúrbios persistentes ou recorrentes foram mais frequentes nos anos mais recentes desta análise. A maioria das florestas exploradas seletivamente na área e no período de estudo não foram desmatadas até 2016. Esse fato indica que a extração seletiva de madeiras consiste em um fenômeno desagregado do desmatamento no estado de Mato Grosso. Observou-se que uma média de 18 km2.ano-1 e 268,18 km2.ano-1 de florestas foram exploradas seletivamente dentro de Unidades de Conservação e Terras Indígenas, respectivamente, entre 1992 e 2016. As atividades de extração seletiva não apresentaram tendências significativas de aumento ou redução dentro de áreas protegidas no período analisado. As áreas de exploração seletiva de madeira foram persistentemente detectadas nos antigos polos madeireiros localizados na região centro-norte do Estado com, possivelmente, novos ciclos de corte nas áreas manejadas. Mais recentemente, a extração seletiva se expandiu à última fronteira florestal nativa no noroeste do estado de Mato Grosso. Finalmente, concluiu-se que a exploração madeireira impacta grande extensão de florestas nativas anualmente no estado de Mato Grosso e, por isso, precisa ser devidamente considerada e monitorada pelos órgãos ambientais devido aos seus potenciais impactos nas florestas e para apoiar a definição de políticas públicas para garantir a sustentabilidade da produção florestal futura naquele Estado.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Mariana Soares Moretti, Secretaria de Estado do Meio Ambiente de Mato Grosso, Cuiabá, MT

Possui graduação em Engenharia Florestal pela Universidade do Estado de Mato Grosso (2009) e mestrado em Ciências Florestais e Ambientais pela Universidade Federal de Mato Grosso (2013). Atualmente é Doutora em Ciências Florestais e Analista de Meio Ambiente - Secretaria Estadual de Meio Ambiente de Mato Grosso - SEMA. Tem experiência na área de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto, Recuperação de Áreas Degradadas, manejo florestal sustentável madeireiro e não madeireiro

Eraldo Aparecido Trondoli Matricardi, Universidade de Brasília, Brasília, DF

Engenheiro Florestal, com Mestrado e Doutorado em Geografia (concentração em Geoprocessamento) pela Michigan State University, EUA. Experiência em pesquisas e monitoramento ambiental na Amazônia, Zoneamento Ecológico-Econômico, degradação florestal por extração seletiva de madeiras e incêndios florestais com imagens de satélite,  mudanças do uso e cobertura da terra, análise de informações geográficas e sensoriamento remoto aplicado a análises florestais e ambientais.

Olívia Bueno da Costa, Universidade de Brasília, Brasília, DF

Possui graduação em Engenharia Florestal (2005), Mestrado e Doutorado em Ciências Florestais pela Universidade de Brasília (2013 e 2017). Atua nas áreas de sensoriamento remoto e sistemas de informações geográficas aplicados a análise ambiental

Marcos Antônio Pedlowski, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes, RJ

Possui graduação em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1986), mestrado em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1990) e doutorado em Environmental Design And Planning - Virginia Polytechnic Institute and State University (1997). Desde 1998 é professor associado da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, com atuação no âmbito do Laboratório de Estudos do Espaço Antrópico do Centro de Ciências do Homem da UENF. Participa de dois programas de Pós-Graduação na UENF: Políticas Sociais e Ecologia e Recursos Naturais. Além disso, atua no curso de Graduação de Ciências Sociais. Tem experiência na área de estudos geográficos, atuando principalmente nos seguintes temas: reforma agrária; impactos ambientais associados ao uso da terra e à mudança da cobertura vegetal com ênfase na Amazônia brasileira ; políticas de conservação ambiental, e estudos urbanos ligados ao planejamento territorial e ambiental

Nilson Clementino Ferreira, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO

Possui graduação em Engenharia Cartográfica pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1990), mestrado em Engenharia de Transportes pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Ciências Ambientais pela Universidade Federal de Goiás (2006). Atuou no Centro de Sensoriamento Remoto do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais entre 1995 e 2003. Foi docente da Universidade de Brasília, junto ao Centro Integrado de Ordenamento Territorial entre 1998 e 2001. Atualmente é professor da Escola de Engenharia Civil da Universidade Federal de Goiás. É professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais- CIAMB/UFG e do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental e Sanitária PPGEAS/UFG. . Tem experiência na área de Geociências, com ênfase em Geoprocessamento, atuando principalmente nos seguintes temas: Geoprocessamento, Cartografia, Sensoriamento Remoto, SIG, Monitoramento Ambiental e Zoneamento Ecológico e Econômico

Eder Pereira Miguel, Universidade de Brasília, Brasília, DF

Engenheiro Florestal, Mestrado Pela Universidade Federal do Paraná UFPR, concentrando-se suas atividades na área de Inventário e Manejo Florestal. Doutorado em Manejo Florestal pela Universidade de Brasília (UnB), onde é Professor Adjunto II, ministrando aulas na graduação e pós-graduação no departamento de engenharia florestal. Atua nas linhas de pesquisa envolvendo Implantação e Condução de Povoamento Florestais, Inventário Florestal, Biomassa, Carbono, Estrutura, Dinâmica e Modelagem do Crescimento e da Produção de Florestas Nativas e Plantadas

Referências

ASNER, G. P. et al. Selective logging and its relation to deforestation. Amazonia and Global Change, Washington, v. 186, p. 25-42, 2009.

ASNER, G. P. et al. Selective logging in the Brazilian Amazon. Science,Washington, v. 310, p. 479-482, 2005.

BRASIL. Medida Provisória nº 1.511, de 25 de Julho de 1996. Dá nova redação ao art. 44 da Lei nº 4.771, de 15 set. 1965, e dispõe sobre a proibição do incremento da conversão de áreas florestais em áreas agrícolas na região Norte e parte da Norte da Centro Oeste. Diário Oficial da União, Brasília DF, 26 jul. 1996.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Biomas brasileiros. Download de dados geográficos. Brasília, 2020. Disponível em: http://mapas.mma.gov.br/i3geo/datadownload.htm. Acesso em: 26 fev. 2020.

CELENTANO, D. et al. Desmatamento, degradação e violência no "Mosaico Gurupi" - A região mais ameaçada da Amazônia. Estudos Avançados,São Paulo, v. 32, n. 92, p. 315-339, 2018.

CHANDER, G.; MARKHAM, B. L.; HELDER, D. L. Summary of current radiometric calibration coefficients for Landsat MSS, TM, ETM+, and EO-1 ALI sensors.Remote Sensing of Environment,Amsterdam,v. 113, n. 5, p. 893-903, 2009.

COCHRANE, M. A. et al. Positive feedbacks in the fire dynamics of closed canopy tropical forests. Science, Washington, v. 284, p. 1832-1835, 1999.

COSTA, O. B. et al. Selective logging detection in the Brazilian Amazon.Revista Floresta e Ambiente, Rio de Janeiro, v. 26, n. 2, p. 2-10, 2019.

COX, D. R.; STUART, A. Some quick tests for trend in location and dispersion. Biometrika, London, v. 42, p. 80-95, 1955.

DAI, X.; KHORRAM, S. The effects of image misregistration on the accuracy of remotely sensed change detection. IEEE Transactions on Geoscience and Remote Sensing, Pasadeña,v. 36, n. 5, p. 1566-1577, 1998.

DYKSTRA, D. P. Reduced impact logging: concepts and issues. In: INTERNATIONAL CONFERENCE, 2001, Kuching, Malaysia. Proceedings […]. Bangkok: FAO,2001. 526 p.

DING, Y. et al. The impacts of selective logging and clear-cutting on wood plant diversity after 40 years of natural recovery in a tropical montane rain forest, South China. Science of the Total Environment, Oxoford, v. 579, p. 1683-1691, 2017.

GERWING, J. J. Degradation of forests through logging and fire in the eastern Brazilian Amazon. Forest Ecology and Management,Amsterdam, v. 157, p. 131-141, 2002.

GORE, M. L.; RATSIMBAZAFY, J.; LUTE, M. L. Rethinking corruption in conservation crime: insights from Madagascar. Conservation Letters, Nova Jersey, v. 4, p. 430-438, 2013.

GRECCHI, R. C. et al. An integrated remote sensing and GIS approach for monitoring areas affected by selective logging: a case study in northern Mato Grosso, Brazilian Amazon. International Journal of Obs Geoinformation,Amsterdam, v. 61, p. 70-80, 2017.

IBGE. Geociências. Cartas e maps estaduais.Rio de Janeiro, 2020. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/geociencias/cartas-e-mapas/mapas-estaduais.html. Acesso em: 26 fev. 2020.

IBGE. SIDRA - Sistema IBGE de Recuperação Automática. Rio de Janeiro, 2018. Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br. Acesso em: 27 set. 2018.

JOSHI, N. et al. Mapping dynamics of deforestation and forest degradation in tropical forests using radar satellite data. Environmental Research Letters, Filadelfia, v. 10, n. 3, 034014, 2015.

LAWSON, S. Illegal logging and related trade: indicators of the global response.London: Royal Institute of International Affairs, 2010. 8 p.

MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Meio Ambiente. SISFLORA Auditoria. Cuiabá, 2018. Disponível em: https://monitoramento.sema.mt.gov.br/auditoria/. Acesso em: 26 ago. 2018.

MATRICARDI, E. A. T. et al. Assessment of forest disturbances by selective logging and forest fires in the Brazilian Amazon using Landsat data. International Journal of Remote Sensing,London, v. 34, p. 1057-1086, 2013.

MATRICARDI, E. A. T. et al. Monitoring selective logging in Tropical Evergreen Forests using Landsat: multitemporal Regional analyses in Mato Grosso, Brazil. Earth Interactions,Boston,v. 9, n. 24, p. 1-24, nov. 2005.

MATRICARDI, E. A. T. et al. Multi-Temporal assessment of selective logging in the Brazilian Amazon Using Landsat Data. International Journal of Remote Sensing, Londres, v. 28, n. 1, p. 63-82, 2007.

MONTEIRO, A. L. S. et al. Impactos da exploração madeireira e do fogo em florestas de transição da Amazônia Legal. Scientia Forestalis, Piracibaca, n. 65, p. 11-21, 2004.

MORETTIN, P. A.; TOLOI, C. M. D. C. Modelos para previsão de séries temporais.São Paulo: Blucher, 2006. 280 p.

NELSON, A.; CHOMITZ, K. M. Effectiveness of Strict vs. Multiple Use Protected Areas in Reducing Tropical Forest Fires: A Global Analysis Using Matching Methods.PLOS One,São Francisco, v. 6, n. 8, p. e22722, 2011.

NEPSTAD, D. et al. Slowing Amazon deforestation through public policy and interventions in beef and soy supply chains. Science,Washington, v. 344, n. 6188, p. 1118-1123, 2014.

NOLTE, C. et al. Governance regime and location influence avoided deforestation success of protected areas in the Brazilian Amazon. PNAS, Washignton,v. 110, n. 13, p. 4956-961, 2013.

OZDEMIR, I. et al. Predicting bird species richness and micro-habitat diversity using satellite data. Forest Ecology Management,Amsterdam, v. 424, p. 483-493, 2018.

PEDLOWSKI, M. A. et al. Conservation units: a new deforestation frontier in the Amazonian state of Rondônia, Brazil. Environmental Conservation,Cambridge, v. 32, n. 2, p. 149-155, 2005.

PINHEIRO, T. F. et al. Forest Degradation Associated with Logging Frontier Expansion in the Amazon: the BR-163 Region in Southwestern Pará, Brazil. Earth Interactions, Washington,v. 20, n. 17, p. 1-26, 2016.

RONDON, X. J. et al. The Effects of Selective Logging Behaviors on Forest Fragmentation and Recovery.International Journal of Forestry Research, Amsterdam, ID 170974, 2012.

ROS-TONEN, M. Novas perspectivas para a gestão sustentável da floresta Amazônica: explorando novos caminhos. Ambiente & Sociedade,[s. l.],v. 10, n. 1, p. 11-25, 2007.

SCHNEIDER, R. R. et al. Sustainable Amazon: limitations and opportunities for rural development. Brasília: World Bank and Amazon, 2000. 78 p.

SIST, P. et al. The tropical managed forests observatory: a research network addressing the future of tropical logged forests. Applied Vegetation Science,New York, v. 18, n. 1, p. 171-174, 2015.

SOUZA JUNIOR, C. M. et al. Ten-Year Landsat Classification of Deforestation and Forest Degradation in the Brazilian Amazon. Remote Sensing, Basel, v. 5, p. 5493-5513, 2013.

THOMPSON, I. D. et al. An operational framework for defining and monitoring forest degradation. Ecology and Society,Wolfville,v. 18, n. 2, p. 20, 2013.

TRITSCH, I. et al. Multiple patterns of forest disturbance and logging shape forest landscape in Paragominas, Brasil. Forests, [s. l.], v. 7, n. 12, p. 315, 2016.

TYUKAVINA, A. et al. Types and rates of forest disturbance in Brazilian Legal Amazon, 2000-2013. Science Advances, Washington,v. 3, n. 4, p. 1-15, 2017.

UHL, C.; BUSCHBACHER, R. A disturbing synergism between cattle ranch burning practices and selective tree harvesting in the eastern Amazon. Biotropica, New York, v. 17, p. 265-268, 1985.

UHL, C. et al. Natural Resource Management in the Brazilian Amazon. BioScience, Oxford, v. 47, n. 3, p. 160-168, 1997.

UHL, C.; VIEIRA, I. C. G. Ecological impacts of selective logging in the Brazilian Amazon: a case study from the Paragominas region of the state of Pará. Biotropica, New York, v. 21, p. 98-106, 1989.

VERISSIMO, A. et al. Logging impacts and prospects for sustainable forest management in an old Amazonian frontier: the case of Paragominas. Forest Ecology and Management, Amsterdam,v. 55, p. 169-199, 1992.

VINCENT, J. R. The tropical timber trade and sustainable development. Science, Washington, v. 256, n. 5064, p. 1651-1655, 1992.

WOOD, E. M. et al. Image texture as a remotely sensed measure of vegetation structure. Remote Sensing of Environment,Amsterdam, v. 121, p. 516-526, 2012.

ZHURAVLEVA, I. et al. Satellite-based primary forest degradation assessment in the Democratic Republic of the Congo, 2000–2010. Environmental Research Letters,Bristol, v. 8, n. 2, 024034, 2013.

Downloads

Publicado

01-09-2020

Como Citar

Moretti, M. S., Matricardi, E. A. T., Costa, O. B. da, Pedlowski, M. A., Ferreira, N. C., & Miguel, E. P. (2020). Dinâmica espaço-temporal da extração seletiva de madeiras no estado de Mato Grosso entre 1992 e 2016. Ciência Florestal, 30(3), 796–808. https://doi.org/10.5902/1980509836802

Edição

Seção

Artigos

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)