Para além da imagem distributiva-alocativa: uma interpretação relacional da teoria da justiça de John Rawls

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/2179378667881

Palavras-chave:

Teorias da justiça, Justiça relacional, John Rawls, Iris Young, Elisabeth Anderson, Rainer Forst.

Resumo

O artigo desafia certa interpretação da teoria da justiça rawlsiana que a concebe como um paradigma distributivo-alocativo concentrado na “distribuição de coisas” para pessoas entendidas como “portadoras de coisas”, como objeta Iris Young na sua obra magna. Dada a influência da objeção da filósofa nos debates em teorias da justiça, na primeira seção é reconstruída sua crítica do paradigma distributivo-alocativo dos trabalhos de Rawls. Na segunda seção, com base no artigo divisor de águas de Elisabeth Anderson, é argumentado em que sentido a intuição original de Young acerta no diagnóstico das desventuras dos debates distributivos da época, momento no qual se disputava o sentido do “igualitarismo social” da justiça rawlsiana. Em congruência com o diagnóstico descrito pelas autoras, Rainer Forst condensa suas intuições na célebre distinção das duas “imagens da justiça”: a distributiva-alocativa e a relacional. Ao passo que Forst concorda que no cenário contemporâneo concorre uma imagem da justiça – e do igualitarismo rawlsiano – como uma teoria distributiva-alocativa focada estritamente em distribuir recursos e bens pelas instituições; todavia, Forst argumenta que a justiça rawlsiana melhor se encaixa com a imagem relacional. Para mostrar seus aspectos relacionais, na quarta seção, são reconstruídas três ideias fundamentais de “justiça como equidade”: sociedade, pessoa e sociedade bem-ordenada.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Diana Piroli, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil

Doutora pelo Programa de Pós-graduação em Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Seus principais interesses de pesquisa dizem respeito às Teorias da justiça, Teoria Crítica e Teorias do reconhecimento deontológicas. Durante o período de sua graduação foi pesquisadora do Programa de Iniciação Científica (PIBIC / CNPQ). Também atuou como assistente de ensino no Programa de Graduação em Filosofia em EAD (UFSC), como membro do Núcleo de Ética e Filosofia Política (Néfipo), do GT de Teorias da Justiça (GT-TJ) da ANPOF e como organizadora do Colóquio Justiça e Democracia (UFSC).

Referências

ALÌ, N. Economic Inequality and Proportionality. How rich should the 1% be? 2018. Tese (Doutorado em Filosofia) – CFH/UFSC, Santa Catarina, 2018.

ANDERSON, E. What Is the Point of Equality? Ethics, v. 109, n. 2, p. 287-337, 1999.

BARRY, B. Culture and Equality: An Egalitarian Critique of Multiculturalism. NJ: Cambridge Press, 2001.

COHEN, G. A. On the Currency of Egalitarian Justice. Ethics, v. 99, n. 4, 1989, p. 906-944.

COHEN, J. Rousseau. A Free Community of Equals. Oxford: University Press, 2010.

COHEN, J. For a Democratic Society. In: FREEMAN, Samuel (ed.). The Cambridge Companion to Rawls. Cambridge: Cambridge Press, 2003.

DARWALL, S. The Second-Person Standpoint: Morality, Respect and Accountability. Cambridge Mass.: Harvard Press, 2006.

DWORKIN, R. Sovereign Virtue: The Theory and Practice of Equality. Cambridge: Harvard University Press, 2000.

FORST, R. The Point of Justice: On the Paradigmatic Incompatibility between Rawlsian “Justice as Fairness” and Luck Egalitarianism. In: MANDLE, John; ROBERTS-CADY, Sarah. (ed.). John Rawls: Debating the Major Questions. Oxford: Oxford Press, 2020.

FORST, R. Political Liberalism: A Kantian View. Ethics, v. 128, Oct., p. 123–144, 2017.

FORST, R. The Right to Justification. Trad. by Jeffrey Flynn. NY: Columbia Press, 2011.

FORST, R. Radical Justice: On Iris Marion Young’s Critique of the “Distributive Paradigm”. Constellations, v. 14, n. 2, p. 260-265, 2007.

FORST, R. Contexts of Justice. Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism. California: California Press, 2002.

FOURIE, C. SCHUPPERT, F. & WALLIMANN-HELMER, I. (2015) Social Equality: On What it Means to Be Equals. Oxford: Oxford Press.

FREEMAN, S. Rawls. NY: Routledge, 2007.

HABERMAS, J. Reconciliação pelo uso público da razão. In: HABERMAS, J. A inclusão do outro: Estudos de teoria política. Trad. de Denilson Werle. SP: UNESP, 2018.

LARMORE, C. Patterns of Moral Complexity. NY: Columbia Press, 1987.

LIPPERT-RASMUSSEN, K. Luck Egalitarianism. London: Bloomsbury, 2015.

LUKES, Steven. The Meanings of "Individualism". Journal of the History of Ideas, v. 32, n. 1, Jan.-Mar., 1971, p. 45-66.

MACINTYRE, A. After Virtue: A Study in Moral Theory. Notre Dame: Notre Dame Press, 2007.

MANDLE, J.; ROBERTS-CADY, S. Introduction. In: MANDLE, J; ROBERTS-CADY, S. (ed.). John Rawls: Debating the Major Questions. Oxford: Oxford Press, 2020.

MACLEOD, C. Advantage, mutual vs. reciprocal. In: MANDLE, J.; REIDY, D. (ed.). The Cambridge Rawls Lexicon. Cambridge: Cambridge Press, 2015.

NAGEL, T. Rawls on Justice. The Philosophical Review, v. 82, n. 2, Apr., 1973, p. 220-234.

NOZICK, R. Anarchy, State and Utopia. New York: Basic Books, 1974.

O’NEILL, M. What Should Egalitarians Believe? Philosophy & Public Affairs, v. 36, n. 2, p. 119-156, 2008.

PETRONI, L. A Moralidade da Igualdade. 2018. Tese (Doutorado em Ciência Política) – FFLCH/USP, São Paulo, 2017.

RAWLS, J. A Theory of Justice. Original Edition. Cambridge. MA: Belknap of Harvard Press, 2005.

RAWLS, J. Justice as Fairness: A Restatement. MA: Belknap of Harvard Press, 2001.

RAWLS, J. A Theory of Justice. Rev. ed. Cambridge. MA: Belknap of Harvard Press, 1999.

RAWLS, J. Political Liberalism. NY: Columbia Press, 1993.

SANDEL, M. Liberalism and the Limits of Justice. Sec. ed. NY: Cambridge University Press, 1998.

SCANLON, T. Why Does Inequality Matter? First ed. Oxford: Oxford Press, 2017.

SCHEMMEL, C. Why Relational Egalitarians Should Care about Distributions. Social Theory and Practice, v. 37, n. 3, 2011, p. 365–390.

SCHWARTZ, A. Moral Neutrality and Primary Goods. Ethics, v. 83, n. 4, Jul., p. 294-307, 1973.

TEITELMAN, M.. The Limits of Individualism. The Journal of Philosophy, v. 69, n. 18, Oct. 1972, p. 545-556.

VITA, A. Critical Theory and Social Justice. Brazilian Political Science Review, v. 8, n. 1, p. 109-26. 2014.

VITA, A. Liberalismo, Justiça Social e Responsabilidade Individual. DADOS – Revista de Ciências Sociais, v. 54, n. 4, 2011, p. 569-608.

WEITHMAN, P. Why Political Liberalism? On John Rawls’s Political Turn. NY: Oxford Press, 2010.

YOUNG, I. Taking the Basic Structure Seriously. Perspectives on Politics, v. 4, n. 1, p. 91-97, 2006.

YOUNG, I. Rawls’s Political Liberalism. The Journal of Political Philosophy, v. 3, n. 2, p. 181-19, 1995.

YOUNG, I. Justice and the Politics of Difference. NJ: Princeton Press, 1990.

Downloads

Publicado

2022-09-14 — Atualizado em 2022-09-14

Versões

Como Citar

Piroli, D. (2022). Para além da imagem distributiva-alocativa: uma interpretação relacional da teoria da justiça de John Rawls. Voluntas: Revista Internacional De Filosofia, 13(1), e5. https://doi.org/10.5902/2179378667881

Edição

Seção

Dossiê 50 anos da Teoria da Justiça de John Rawls