A queda pandêmica do céu: contágios entre o palácio e a floresta
DOI:
https://doi.org/10.5902/2179378685084Schlagworte:
covid-19, floresta de cristal, Palácio de Cristal, perspectivismo, xawara, YanomamiAbstract
O que significa dizer, como fez o coletivo Indigenous Action em meio à pandemia de covid-19, que “o capitalismo é pandêmico” e que “nós [indígenas] somos os anticorpos”? Quais os vínculos entre crises pandêmicas, o capitalismo em seu estágio globalizado e a emergência climática que ficou conhecida como “Antropoceno”? De que modo esse vínculo é visto por aqueles, como os povos indígenas, que, não obstante à margem do processo, são os mais diretamente afetados por seus efeitos deletérios? Com base nessa provocação e nas diversas articulações feitas por Davi Kopenawa, em diálogo com Bruce Albert, entre mercadoria, epidemia (xawara) e fim do mundo (“queda do céu”), buscamos, neste ensaio, pensar a relação entre capitalismo e catástrofe a partir da noção-chave de “contágio”. Nossa suspeita é de que, com a repetição deliberada do termo “xawara” ao longo de A queda do céu, Kopenawa não está apenas utilizando um termo técnico para doenças epidêmicas em geral, mas caracterizando conceitualmente o tipo de relação “imunológica” que os brancos (napë pë), “povo da mercadoria”, estabelecem com a alteridade em geral.
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