As finanças no currículo da Matemática escolar: um olhar sobre a produção de sujeitos trabalhadores e consumidores
DOI:
https://doi.org/10.5902/1984644488451Palavras-chave:
Currículo Escolar, Livros didáticos, Matemática Financeira, Educação Financeira, Financeirização do CapitalResumo
O presente artigo problematiza alguns direcionamentos em relação às finanças no currículo da disciplina de Matemática, questionando: como o tema de finanças é apresentado nos materiais didáticos dos programas curriculares da Matemática escolar? Quais os direcionamentos relacionados às finanças nesses materiais? O corpus de análise da pesquisa constitui-se de 15 (quinze) livros didáticos de Matemática, publicados entre os anos de 1902 e 2003, do repositório institucional da Universidade Federal de Santa Catarina e da Biblioteca Estadual Juarez da Gama Batista de João Pessoa, Paraíba. Aponta-se dois direcionamentos em relação à educação financeira nos programas curriculares: (a) formação do sujeito trabalhador e (b) formação do sujeito consumidor. Destaca-se que a temática das finanças, como conteúdo escolar, assumiu a função de auxiliar na profissionalização dos estudantes, deslocando-se da preparação para entender e/ou trabalhar no segundo setor (empresas e comércio), para a constituição de sujeitos consumidores. Considera-se necessário tensionar os direcionamentos de finanças no currículo da Matemática escolar, questionando os poderes e saberes que sustentam as verdades sobre a produção dos sujeitos.
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