Surdez audível: narrativas docentes sobre o ingresso de um estudante na Universidade Federal do Rio de Janeiro

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/1984644464119

Palavras-chave:

Ações afirmativas, Surdez, Ensino Superior

Resumo

A universidade brasileira foi composta historicamente por estudantes detentores de uma base sólida de conhecimento tanto em seu ambiente doméstico quanto escolar. Dessa forma, poucos brasileiros alcançaram o nível superior. Na década de 2010, observou-se a democratização do ensino superior por meio de políticas afirmativas, como a Lei de Cotas, que viabilizou o acesso de estudantes oriundos da educação pública, além de diferenciais de renda e distinções étnico-raciais. No ano de 2016, a política de cotas foi ampliada para as pessoas com deficiência. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro, no primeiro semestre de 2018, o ingresso de um estudante Surdo, por meio da Lei de Cotas, motivou inúmeras discussões, reflexões e ações de responsabilidade social, em prol de sua acessibilidade e inclusão, uma vez que ele tem a Língua Brasileira de Sinais como primeira língua e possui pouco conhecimento da língua portuguesa. Assim, o presente estudo analisou a centralidade das narrativas pela perspectiva docente acerca do ingresso do estudante Surdo. Realizou-se uma pesquisa de caráter qualitativo, por entrevista semiestruturada. Foram utilizados o método de Análise de Conteúdo sobre os resultados de processamento oriundos do software de análise textual Iramuteq. Os participantes da pesquisa foram dez docentes que estavam próximos ao estudante no primeiro semestre de 2018. Concluímos que a trajetória acadêmica do estudante, apesar de parecer mais justa quando assegurada por políticas redistributivas de acesso ao ensino superior, demonstra também, total falta de reconhecimento e atendimento individualizado para sua acessibilidade.

Biografia do Autor

Felipe Di Blasi, Universidade Federal do Rio de Janeiro

 

Felipe Di Blasi é professor licenciado pela Escola de Educação Física e Desportos (UFRJ – 2002); lotado no Centro de Pesquisa e Formação em Ensino Escolar de Arte e Esporte; Unidade de Extensão da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro (E/SUBE/3ªCRE/SME-RJ) está situada no Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira (IMASNS); centro de memória, pesquisa, formação e cultura historicamente reconhecido no bairro do Engenho de Dentro. Atende tanto à extensão educacional quanto a pesquisa e oferece atividades esportivas e culturais pautadas no desenvolvimento de oficinas de lutas, para estudantes regularmente matriculados na rede municipal de educação, com idades entre 5 e 16 anos. Sua articulação comunitária é desenvolvida segundo perspectivas de diversidade e inclusão. Seu trabalho é inspirado na experiência com esportes radicais e de combate; aos quais imprime, oportunamente, o debate necessário sobre demandas sociais de inclusão e da diversidade dentro e fora do ambiente educacional formal. Atualmente, desenvolve sua pesquisa de doutorado pelo Programa de Educação, Gestão e Difusão em Biociências do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PEGeD/IBqM/UFRJ). Nesta pesquisa, sobre continuidade, observa o acesso e a permanência de estudantes com deficiência no ensino superior, bem como, as barreiras encontradas pelos mesmos. É também Membro Pesquisador da Academia Paralímpica Brasileira (APB) e coordenador do Laboratório de Inclusão e Diversidade (LID).


Jane de Carlos Santana Capelli, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Doutora em Ciências. Curso de Nutrição. Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ-Campus Macaé Professor Aloisio Teixeira, Macaé, Rio de Janeiro - Brasil.

Flávia Barbosa da Silva Dutra, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Flávia Barbosa S. Dutra é Professora Adjunta do Departamento de Educação Inclusiva e Continuada da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Atua no curso de Pedagogia presencial e à distância, modalidade na qual é responsável pela acessibilidade de materiais e avaliações para estudantes com deficiência. É Membro Pesquisador da Academia Paralímpica Brasileira (APB); professora Colaboradora do Mestrado Profissional do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis (MP-EGeD/IBqM/UFRJ) e coordenadora do Laboratório de Inclusão e Diversidade (LID).

Vivian Mary Barral Dodd Rumjanek, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Membro titular da Academia Brasileira de Ciências, Cientista do Nosso estado da FAPERJ e Pesquisador Sênior do CNPq. Foi coordenadora de pesquisa no Instituto Nacional do Câncer. Atualmente é professor titular/colaborador aposentado do Instituto de Bioquímica Médica lLopoldo de Meis, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Desde 2005 pesquisa e atua no ensino de ciências para Surdos e é responsável pelo Projeto Surdos-UFRJ. Faz parte da Rede Nacional de Educação e Ciência - Novos Talentos da Rede Pública da qual foi Coordenadora e é agora Presidente da Associação da Rede Nacional Leopoldo de Meis de Educação e Ciência.

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Publicado

2022-11-03

Como Citar

Di Blasi, F., Capelli, J. de C. S., Dutra, F. B. da S., & Rumjanek, V. M. B. D. (2022). Surdez audível: narrativas docentes sobre o ingresso de um estudante na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Educação, 47(1), e96/1–23. https://doi.org/10.5902/1984644464119