O (des)governo da velhice: cartogenealogias de/em uma pandemia
DOI:
https://doi.org/10.5902/1984644464068Palavras-chave:
Envelhecimento, Covid-19, GovernamentalidadeResumo
Este trabalho acompanha a emergência de redes enunciativas em torno do “governo da velhice” no contexto da pandemia provocada pela Covid-19. O lócus central de análise parte de pedagogias e artefatos culturais associados à interpelação da população idosa como grupo de/em risco. Através de um estudo cartogenealógico investigamos algo da emergência de pedagogias e representações que reforçam a autorresponsabilização dos/as idosos/as por supostos riscos auto-infligidos, reforçados por tutela parental e social. As evidências empíricas (memes e cards) que apoiam nossas problematizações sugerem a correlação entre elementos de cultura idadista associada ao recrudescimento de vulnerabilidade social dos/as idosos/as. Ponderamos ainda que esta correlação de forças é, neste momento, mais fortemente balizada por racionalidade biopolítica neoliberal, ademais de (im)posturas ultraconservadoras e negacionistas que passam a redefinir os termos da governamentalidade contemporânea local.
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