A escuta de amor na escrita da dor: narrativa autobiográfica como processo catártico

Autores

  • Sandra Cristina Rodrigues Lopes Universidade Estadual de Goiás - UEG
  • Débora Cristina Santos e Silva Universidade Estadual de Goiás - UEG

DOI:

https://doi.org/10.5902/1984644435473

Palavras-chave:

Escrita e Identidade. Narrativa Autobiográfica. Narrativa Catártica. Sublimação.

Resumo

Este artigo apoia-se no diálogo entre as abordagens histórico-cultural e psicanalítica para desenvolver uma reflexão sobre a importância das narrativas autobiográficas como mecanismo de investigação da construção identitária do sujeito. A partir da consideração acerca de como o sujeito se apropria da linguagem escrita, segundo a psicologia histórico-cultural e da análise da função catártica que a narrativa autobiográfica é capaz de produzir no indivíduo, são desvelados outros pontos fundamentais em relação à aprendizagem dos conteúdos essenciais para o desenvolvimento do sujeito e sua inserção crítica na sociedade. Para isso, observa a relação estabelecida entre a escrita como projeção do eu e os eventos traumáticos, histórias de vida íntimas desse sujeito, na medida que propõe uma análise sobre a narrativa autobiográfica como veículo de investigação das implicações desses problemas para a aprendizagem e desenvolvimento da linguagem; além de chamar a atenção para o aspecto da função catártica e sublimatória da autobiografia para externar os conflitos e reelaborá-los por meio da escrita.

Biografia do Autor

Sandra Cristina Rodrigues Lopes, Universidade Estadual de Goiás - UEG

S. C. R. Lopes é Mestranda em Educação, Linguagem e Tecnologia da UEG. PPG-IELT– Anápolis-GO.  Graduada em Letras pela Universidade Estadual de Goiás – UEG. Especialista em Docência Universitária pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC-GO. Graduada em Psicologia pela Faculdade Anhanguera de Anápolis – FAA. Especialista em Terapia Familiar Sistêmica pela AVM – Faculdade Integrada do Rio de Janeiro. Professora da Rede Estadual de Educação de Goiás. Psicóloga (CRP 09/010532) de abordagem Sistêmica.  E-mail para contato: onlytwt@gmail.com  

Débora Cristina Santos e Silva, Universidade Estadual de Goiás - UEG

D. C. S. Silva é Mestre em Literatura Brasileira (UFG/1996/Bolsista CAPES). Doutora em Teoria Literária (UNESP /2002/Bolsista FUNADESP). Pós-doutora em Literatura e Hipermédia pela Universidade Fernando Pessoa (UFP-Porto/2010/Bolsista CAPES). Pós-doutoranda em Arte e Cultura Visual na Universidade Federal de Goiás (FAV-UFG/2016-2018). Docente do PPG Interdisciplinar em Educação, Linguagem e Tecnologias da Universidade Estadual de Goiás (PPG-IELT/UEG). Docente do curso de Letras do Campus Anápolis de Ciências Sócio-Econômicas e Humanas (CCSEH/UEG). Líder do GP ARGUS - Estudos de Cultura, Linguagem e Comportamento (CNPq/2004 -). Membro da Rede Goiana de Pesquisa em Leitura e Ensino de Poesia (REDEPESQ/ FAPEG/2007-2010). Pesquisadora do Projeto PO.EX ́70-80 - Arquivo Digital da Literatura Experimental Portuguesa?, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT/União Europeia/Refª: PTDC/CLE-LLI/098270/2008), no Centro de Estudos Culturais, da Linguagem e do Comportamento (CECLICO) da Universidade Fernando Pessoa (UFP/Porto/ 2010-2014).

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Publicado

2019-06-18

Como Citar

Rodrigues Lopes, S. C., & Santos e Silva, D. C. (2019). A escuta de amor na escrita da dor: narrativa autobiográfica como processo catártico. Educação, 44, e47/ 1–25. https://doi.org/10.5902/1984644435473

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