O EXEMPLO DAQUELAS MULHERES: REFLEXÕES COMPARATISTAS SOBRE A LITERATURA DE AUTORIA FEMININA
DOI:
https://doi.org/10.5902/2179219426938Palavras-chave:
Literatura de autoria feminina, Página em branco, ComparatismoResumo
Tradicionalmente, a ideia de que a caneta se identifica com o masculino tem seu contraponto histórico na recorrência da imagem da página em branco associada ao feminino. Gubar (1981), ao analisar um conto de Karen Blixen ([1957] 1991), propõe que a criatividade feminina está associada a uma “ansiedade da autoria”. A autoria feminina é um fenômeno verificável na maneira como escritoras e tradutoras retomam os textos de mulheres que vieram antes delas, como se a trama da palavra engendrasse uma comunidade de textos, a qual, por sua vez, é comparatista e internacional, pois inclui autoras de diferentes épocas e culturas. Em O Livro de Cabeceira, filme de Peter Greenaway, de 1996, que é uma adaptação de O Livro de Travesseiro, de Sei Shônagon (séculos X–XI), reencontramos as metáforas do texto-têxtil e do corpo-página, presentes tanto como um eco do texto japonês antigo, como de questões teóricas da pós-modernidade, que o diretor encenou em muitos de seus filmes. O filme O Livro de Cabeceira pode ser lido como uma expansão das reflexões de Susan Gubar sobre a página em branco.
Downloads
Referências
ALMEIDA, L. Linhagens e ancestralidade na literatura de autoria feminina. Ângulo, n.117, v. 8, p. 11-17, 2010.
BLIXEN, K. [também referenciada como Isak DINESEN]. Last Tales. Tradução do dinamarquês ao inglês pela própria autora. Nova Iorque: RandomHouse, [1957] 1991.
CUNHA, A. O Livro de Travesseiro: questões de autoria, tradução e adaptação. 2016. 299 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2016.
FOUCAULT, M. Qu’est-ce qu’un auteur?.Revue de Psychanalyse Littoral, Paris, n. 9, p. 3-37, jun. 1983.
GADAMER, H. Verdade e Método. Tradução de Flávio Meurer. Petrópolis: Vozes, 1997.
GUBAR, S. “The Blank Page” and the Issues of Female Creativity. Critical Inquiry, v. 8, n. 2, Writing and Sexual Difference, p. 243-263, Winter, 1981.
LIVRO das Mil e Uma Noites. v. 1, ramo sírio. Tradução de Mamede Mustafa Jarouche. São Paulo: Globo, 2006.
KODAMA, M. Prólogo. In: SEI, S. El Libro de la Almohada. Tradução de Jorge Luis Borges e María Kodama. Madrid: Alianza, 2004. p. 7-12.
O LIVRO de Cabeceira (Título original: The Pillow Book). Direção de Peter Greenaway. Produção de KeesKasander. Roteiro de Peter Greenaway, adaptado da obra Makura no Sôshi de Sei Shônagon. 1996 (produção); s/d (DVD). 1 filme (120min), DVD, son., color.
MCCULLOUGH, W. The Heian Court. In: SHIVELY, D.;
MCCULLOUGH, W. The Cambridge History of Japan, v. 2. Cambridge: Cambridge University, 2008. p. 20-96.
MCKINNEY, M. Introduction. In: SEI, S. The Pillow Book. Tradução, introdução e notas de Meredith McKinney. Londres: Penguin, 2006. p.153-632.
MORRIS, I. The World of the Shining Prince.Nova Iorque: Vintage, 2013.
MURASAKI, S. O Romance do Genji I. Tradução, prefácio e notas de Carlos de Oliveira. Lisboa: Relógio d’Água, 2008.
OCAMPO, S. Poesía Completa I. Buenos Aires: Emecé, 2002.
SCHMIDT, R. Cânone, valor e a história da literatura: pensando a autoria feminina como sítio de resistência e intervenção. El Hilo de la Fábula, v. 10, p. 59-74, 2012.
SEI, S. El Libro de la Almohada. Tradução de Jorge Luis Borges e María Kodama. Madrid: Alianza, 2004.
SEI, S. Makura no Sôshi. Shinpen Nihon Koten Bungaku Zenshû, v.18. Edição de Kura Toshinori. Tradução de Matsuo Satoshi. Introdução, notas e apêndices de Nagai Kazuko. Tóquio: Shôgakukan, 2011.
SEI, S. O Livro de Travesseiro. Tradução de Andrei Cunha. Porto Alegre: Escritos, 2008.
SEI, S. O Livro do Travesseiro. Tradução de G. Wakisaka, J. Ota, L. Hashimoto, L. Yoshida e M. Cordaro. São Paulo: Editora 34, 2013.
SEI, S. The Pillow Book. The Diary of a Courtesan in Tenth Century Japan. Tradução e notas de Arthur Waley. Introdução e revisão de Dennis Washburn. Tóquio: Tuttle, 2011.
SEI, S. The Pillow Book of Sei Shônagon.Tradução, introdução e notas de Ivan Morris. Londres: Penguin, 1971.
SEI, S. The Pillow Book.Tradução, introdução e notas de Meredith McKinney. Londres: Penguin, 2006.
SHIRANE, H. Traditional Japanese Literature: nature, literature, andthearts. Nova Iorque: Columbia University, 2012.
WAKISAKA, G.; CORDARO, M. Sobre a obra, a autora, o contexto e a tradução. In: SEI, S. O Livro do Travesseiro. Tradução de G. Wakisaka, J. Ota, L. Hashimoto, L. Yoshida e M. Cordaro. São Paulo: Editora 34, 2013. p. 7-41.
WALEY, A. Notes. In: SEI, S. The Pillow Book – the diary of a courtesan in tenth century Japan. Tradução e notas de Arthur Waley. Introdução e revisão de Dennis Washburn. Tóquio: Tuttle, 2011 [texto digital].
WASHBURN, D. Notes. In: SEI, S. The Pillow Book – the diary of a courtesan in tenth century Japan. Tradução e notas de Arthur Waley. Introdução e revisão de Dennis Washburn. Tóquio: Tuttle, 2011 [texto digital].
WOOLF, V. A Room of One’s Own. Adelaide: University of Adelaide Library, 2015.
WOOLF, V. The Tale of Genji. In: WOOLF, V. The Essays of Virginia Woolf, v. 4, 1925-1928. Nova Iorque: Harcourt, 1994. p. 164-169.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Ficam concedidos a Fragmentum todos os direitos autorais referentes aos trabalhos publicados. Os originais não devem ter sido publicados ou submetidos simultaneamente a outro periódico e não serão devolvidos. Em virtude de aparecerem nesta revista de acesso público, os artigos são de uso gratuito, com atribuições próprias, em aplicações educacionais e não comerciais.