O EXEMPLO DAQUELAS MULHERES: REFLEXÕES COMPARATISTAS SOBRE A LITERATURA DE AUTORIA FEMININA

Autores

  • Andrei dos Santos Cunha Universidade Federal do Rio Grande do Sul

DOI:

https://doi.org/10.5902/2179219426938

Palavras-chave:

Literatura de autoria feminina, Página em branco, Comparatismo

Resumo

Tradicionalmente, a ideia de que a caneta se identifica com o masculino tem seu contraponto histórico na recorrência da imagem da página em branco associada ao feminino. Gubar (1981), ao analisar um conto de Karen Blixen ([1957] 1991), propõe que a criatividade feminina está associada a uma “ansiedade da autoria”. A autoria feminina é um fenômeno verificável na maneira como escritoras e tradutoras retomam os textos de mulheres que vieram antes delas, como se a trama da palavra engendrasse uma comunidade de textos, a qual, por sua vez, é comparatista e internacional, pois inclui autoras de diferentes épocas e culturas. Em O Livro de Cabeceira, filme de Peter Greenaway, de 1996, que é uma adaptação de O Livro de Travesseiro, de Sei Shônagon (séculos X–XI), reencontramos as metáforas do texto-têxtil e do corpo-página, presentes tanto como um eco do texto japonês antigo, como de questões teóricas da pós-modernidade, que o diretor encenou em muitos de seus filmes. O filme O Livro de Cabeceira pode ser lido como uma expansão das reflexões de Susan Gubar sobre a página em branco. 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Andrei dos Santos Cunha, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Doutor em literatura comparada, tradutor público juramentado de japonês e professor adjunto de literatura japonesa do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, Porto Alegre, Brasil). 

Referências

ALMEIDA, L. Linhagens e ancestralidade na literatura de autoria feminina. Ângulo, n.117, v. 8, p. 11-17, 2010.

BLIXEN, K. [também referenciada como Isak DINESEN]. Last Tales. Tradução do dinamarquês ao inglês pela própria autora. Nova Iorque: RandomHouse, [1957] 1991.

CUNHA, A. O Livro de Travesseiro: questões de autoria, tradução e adaptação. 2016. 299 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2016.

FOUCAULT, M. Qu’est-ce qu’un auteur?.Revue de Psychanalyse Littoral, Paris, n. 9, p. 3-37, jun. 1983.

GADAMER, H. Verdade e Método. Tradução de Flávio Meurer. Petrópolis: Vozes, 1997.

GUBAR, S. “The Blank Page” and the Issues of Female Creativity. Critical Inquiry, v. 8, n. 2, Writing and Sexual Difference, p. 243-263, Winter, 1981.

LIVRO das Mil e Uma Noites. v. 1, ramo sírio. Tradução de Mamede Mustafa Jarouche. São Paulo: Globo, 2006.

KODAMA, M. Prólogo. In: SEI, S. El Libro de la Almohada. Tradução de Jorge Luis Borges e María Kodama. Madrid: Alianza, 2004. p. 7-12.

O LIVRO de Cabeceira (Título original: The Pillow Book). Direção de Peter Greenaway. Produção de KeesKasander. Roteiro de Peter Greenaway, adaptado da obra Makura no Sôshi de Sei Shônagon. 1996 (produção); s/d (DVD). 1 filme (120min), DVD, son., color.

MCCULLOUGH, W. The Heian Court. In: SHIVELY, D.;

MCCULLOUGH, W. The Cambridge History of Japan, v. 2. Cambridge: Cambridge University, 2008. p. 20-96.

MCKINNEY, M. Introduction. In: SEI, S. The Pillow Book. Tradução, introdução e notas de Meredith McKinney. Londres: Penguin, 2006. p.153-632.

MORRIS, I. The World of the Shining Prince.Nova Iorque: Vintage, 2013.

MURASAKI, S. O Romance do Genji I. Tradução, prefácio e notas de Carlos de Oliveira. Lisboa: Relógio d’Água, 2008.

OCAMPO, S. Poesía Completa I. Buenos Aires: Emecé, 2002.

SCHMIDT, R. Cânone, valor e a história da literatura: pensando a autoria feminina como sítio de resistência e intervenção. El Hilo de la Fábula, v. 10, p. 59-74, 2012.

SEI, S. El Libro de la Almohada. Tradução de Jorge Luis Borges e María Kodama. Madrid: Alianza, 2004.

SEI, S. Makura no Sôshi. Shinpen Nihon Koten Bungaku Zenshû, v.18. Edição de Kura Toshinori. Tradução de Matsuo Satoshi. Introdução, notas e apêndices de Nagai Kazuko. Tóquio: Shôgakukan, 2011.

SEI, S. O Livro de Travesseiro. Tradução de Andrei Cunha. Porto Alegre: Escritos, 2008.

SEI, S. O Livro do Travesseiro. Tradução de G. Wakisaka, J. Ota, L. Hashimoto, L. Yoshida e M. Cordaro. São Paulo: Editora 34, 2013.

SEI, S. The Pillow Book. The Diary of a Courtesan in Tenth Century Japan. Tradução e notas de Arthur Waley. Introdução e revisão de Dennis Washburn. Tóquio: Tuttle, 2011.

SEI, S. The Pillow Book of Sei Shônagon.Tradução, introdução e notas de Ivan Morris. Londres: Penguin, 1971.

SEI, S. The Pillow Book.Tradução, introdução e notas de Meredith McKinney. Londres: Penguin, 2006.

SHIRANE, H. Traditional Japanese Literature: nature, literature, andthearts. Nova Iorque: Columbia University, 2012.

WAKISAKA, G.; CORDARO, M. Sobre a obra, a autora, o contexto e a tradução. In: SEI, S. O Livro do Travesseiro. Tradução de G. Wakisaka, J. Ota, L. Hashimoto, L. Yoshida e M. Cordaro. São Paulo: Editora 34, 2013. p. 7-41.

WALEY, A. Notes. In: SEI, S. The Pillow Book – the diary of a courtesan in tenth century Japan. Tradução e notas de Arthur Waley. Introdução e revisão de Dennis Washburn. Tóquio: Tuttle, 2011 [texto digital].

WASHBURN, D. Notes. In: SEI, S. The Pillow Book – the diary of a courtesan in tenth century Japan. Tradução e notas de Arthur Waley. Introdução e revisão de Dennis Washburn. Tóquio: Tuttle, 2011 [texto digital].

WOOLF, V. A Room of One’s Own. Adelaide: University of Adelaide Library, 2015.

WOOLF, V. The Tale of Genji. In: WOOLF, V. The Essays of Virginia Woolf, v. 4, 1925-1928. Nova Iorque: Harcourt, 1994. p. 164-169.

Downloads

Publicado

2017-12-12

Como Citar

Cunha, A. dos S. (2017). O EXEMPLO DAQUELAS MULHERES: REFLEXÕES COMPARATISTAS SOBRE A LITERATURA DE AUTORIA FEMININA. Fragmentum, (49), 103–122. https://doi.org/10.5902/2179219426938