Farmacologia e toxicologia do ácido ascórbico: uma revisão
DOI:
https://doi.org/10.5902/2179460X27114Resumo
O L–ácido ascórbico (AA) ou vitamina C, é uma cetolactona de 6 carbonos, estruturalmente relacionada com a glicose e outras hexoses. As fontes de AA na ieta são as frutas cítricas, morango, melão, pimentão verde, repolho, batata, tomate e vegetais de folhas verdes. O AA atua em reações de oxi-redução em pelo menos 10 sistemas enzimáticos. Dessa maneira, a vitamina C tem influência na síntese do colágeno, carnitina e neurotransmissores; transformação de colesterol em ácidos biliares; biotransformação de xenobióticos; absorção do ferro; formação e neutralização de radicais livres de oxigênio. Por suas propriedades antioxidantes, o AA é usado como aditivo alimentar. Terapeuticamente, é usado como suplemento nutricional durante estados de deficiência da vitamina, que é o caso do escorbuto. Os seres humanos e outros primatas, bem como as cobaias e alguns tipos de morcegos são os únicos mamíferos conhecidos incapazes de sintetizar o AA; em consequência, necessitam da vitamina C na dieta para a prevenção do escorbuto. O rato sintetiza o ácido ascórbico a partir da glicose, através da formação intermediária de ácido D-glicurônico, ácido L-gulônico e L-gulonolactona. O homem não possui a enzima hepática gulonolactona oxidase, que fez a última reação da via de síntese, que é a conversão da L-gulonolactona em ácido L-ascórbico. As funções do sistema nervoso, imune e cardiovascular, o tecido periodontal assim como a função de detoxificação do fígado são negativamente influenciados pela deficiência de vitamina C. Assim, têm sido relatados vários benefícios da ingestão de suplementos da vitamina, inclusive de megadoses que podem alcançar até 18g diárias, como diminuição do colesterol LDL. Apesar de ter surgido uma extensa literatura a respeito da aplicação da vitamina C em uma grande variedade de doenças, há uma falta de eficácia clinica das megadoses, além de alguns efeitos colaterais que podem surgir, como diarreia e cálculos de oxalato nos rins. No entanto, a dose diária ideal de vitamina C ainda é desconhecida. Isso porque a dose diária recomendada atualmente baseia-se em uma única função do AA, a de evitar o escorbuto. A ingestão diária de AA deve ser igual à quantidade excretada ou destruída pela oxidação, levando em conta os sistemas enzimáticos nos quais a vitamina atua. Na verdade, a vitamina C é necessária para a saúde em pequenas quantidades e danosa em grandes doses. Isso acontece porque as células estão em constante manutenção de seus processos de oxidação e redução, e o AA em grande quantidade assume características oxidativas, interferindo então neste equilíbrio. Apesar de várias evidências indicando a toxicidade do AA em altas doses, também há autores que afirmam que a ingestão de grandes doses de vitamina C é segura, apesar de admitir que os dados disponíveis são muito contraditórios.
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