A racionalização da agricultura brasileira
DOI:
https://doi.org/10.5902/2236672594795Palavras-chave:
Agricultura, Classes sociais, RacionalizaçãoResumo
A atual agricultura empresarial brasileira constitui a etapa mais recente e prototípica de um longo processo de racionalização das práticas agropecuárias. Este processo, embora fomentado pelas classes dominantes, foi gradual e sub-repticiamente incorporado por diferentes grupos e classes do meio rural. Caracterizada pelo crescente domínio do homem sobre a Natureza, tendo em vista o aumento da produtividade e da lucratividade de uma propriedade agrícola, esta racionalização, cujos primórdios remontam ao século XVIII, passou a ser vivenciada, sobretudo após o início do século XX, como uma espécie de ética. Como tal, ela acarreta hoje em profundas convergências e divergências de classes, tanto ao nível cultural como econômico, uma vez que as perpassa com diferentes graus de intensidade e complexidade.
Downloads
Referências
ALBIERO, Daniel et al. Agriculture 4.0: a terminological introduction. Revista Ciência Agronômica, v. 51, n. especial, p. 1-8, 2020.
ALGRANTI, Leila M. O feitor ausente: estudo sobre a escravidão urbana no Rio de Janeiro. Petrópolis: Vozes, 1988.
AZEVEDO, Celia M. M. Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites - século XIX. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
BECKMANN, Elizangela; SANTANA, Antônio C. Modernização da agricultura na nova fronteira agrícola do Brasil: MAPITOBA e Sudeste do Pará. Revista em Agronegócio e Meio Ambiente, v. 12, n. 1, p. 81-102, jan./mar 2019.
BRUNO, Regina. Agricultura empresarial, povos e comunidades tradicionais: lutas simbólicas e negação dos direitos. Raízes, v. 37, n. 2, pp. 27-41, jul./dez. 2017.
______. Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA): campo de disputa entre ruralistas e petistas no Congresso Nacional. Estudos Sociedade e Agricultura, v. 29, n. 2, p. 461-502, jun./set. 2021.
______. O processo de construção da hegemonia do agronegócio no Brasil: recorrências históricas e habitus de classe. Trabalho Necessário, v. 20, n. 41, p. 1-26, jan./abr. 2022.
CAFFAGNI, Luiz C; NEGRINI, Alexandre. A racionalização das garantias no agro. Agroanalysis, v. 42, n. 10, p. 22-24, out. 2022.
CAUME, David J. Agricultura Familiar e Agronegócio: falsas antinomias. REDES – Revista do Desenvolvimento Regional, v. 14, n. 1, p. 26-44, jan./abr. 2009.
CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
CRISTINA, Tereza. Discurso por ocasião da cerimônia de transmissão de cargo, em 06 jan. 2019. Disponível em: https://youtu.be/nOt9-K48w3c. Acesso em: 21 jun. 2022.
ELIAS, Norbert. A solidão dos moribundos, e Envelhecer e morrer. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
______. Envolvimento e alienação. Tradução de Álvaro de Sá. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
______. O processo civilizador: formação do Estado e civilização. Tradução de Ruy Jungman. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1993.
FAVARETO, Arilson. A racionalização da vida rural. Estudos Sociedade e Agricultura, v. 14, n. 1, p. 9-48, abr. 2006.
FERNANDES, Florestan. A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica. 5° ed. 2° reimpr. São Paulo: Globo, 2008.
FONSECA, Antônio C. Manual do agricultor dos gêneros alimentícios. Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert, 1863.
GUIMARÃES, Bernardo. A escrava Isaura. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1875.
HEREDIA, Beatriz; PALMEIRA, Moacir; LEITE, Sérgio P. Sociedade e economia do “agronegócio” no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 25, n. 74, p. 159-176, set./dez. 2010.
HOFFMANN, Rodolfo; KAGEYAMA, Angela A. Modernização da agricultura e distribuição de renda no Brasil. Pesquisa e Planejamento Econômico, v. 15, n. 1, p. 171-208, abr. 1985.
KALBERG, Stephen. Max Weber’s types of rationality: cornerstones for the analysis of rationalization processes in history. The American Journal of Sociology, v. 85, n. 5, p. 1145-1179, mar. 1980.
LOPES, Carlos. Entrevista concedida ao Correio Braziliense, em 13 out. 2023. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=d1uD0qD3UMQ. Acesso em: 15 out. 2023.
MARTINE, George. A trajetória da modernização agrícola: a quem beneficia? Lua Nova, n. 23, p. 7-37, mar. 1991.
MARTINS, Francisco Dias. ABC do agricultor. 4° ed. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1921.
MARTINS, José S. Os camponeses e a política no Brasil: as lutas sociais no campo e seu lugar no processo político. Petrópolis: Vozes, 1981.
MATTOSO, Kátia M. Q. Ser escravo no Brasil. Tradução de James Amado. 3° ed. 2° reimpr. São Paulo: Brasiliense, 2003.
MEDEIROS, Leonilde S. 2021. Atores, conflitos e políticas públicas para o campo no Brasil contemporâneo. Caderno CRH, v. 34, p. 1-16, 2021.
MENDONÇA, Maria L. O papel da agricultura nas relações internacionais e a construção do conceito de agronegócio. Contexto Internacional, v. 37, n. 2, p. 375-402, mai./ago. 2015.
MENDONÇA, Sônia R. Estado e hegemonia do agronegócio no Brasil. História e Perspectivas, v. 1, n. 32-33, p.1-28, jan./dez. 2005.
MESSERLI, Bruno et al. From nature-dominated to human-dominated environmental changes. Quaternary Science Reviews, v. 19, n. 1-5, p. 459-479, jan. 2000.
MILES, Christopher. The combine will tell the truth: on precision agriculture and algorithmic rationality. Big Data & Society, v. 6, n. 1, p. 1-12, jan./jun. 2019.
MITIDIERO JR., Marco A.; GOLDFARB, Yamila. O agro não é tech, o agro não é pop e muito menos tudo. ABRA/Friedrich-Ebert-Stiftung (FES) Brasil, set. 2021.
MOREIRA, Alceu. Entrevista. Revista Aviação Agrícola, v. 3, n. 4, p. 24-33, out./dez. 2020.
______. Entrevista concedida ao Jornal da Cidade Online, em 03 abr. 2022. Disponível em: https://youtu.be/_6xBPMH8WZ8. Acesso em: 04 abr. 2022.
NAVARRO, José G. M. Discurso sobre o melhoramento da economia rústica do Brasil: pela introdução do arado, reforma das fornalhas e conservação de suas matas etc. Lisboa: Oficina de Simão T. Ferreira, 1799.
PALMEIRA, Moacir. Modernização, Estado e questão agrária. Estudos Avançados, v. 3, n. 7, p. 87-108, set./dez. 1989.
PEREIRA, Bartolomeu B. Entrevista. Aviação Agrícola, v. 3, n. 6, p. 22-29, jan/mar. 2020.
PIRES, Murilo J. S. O termo modernização conservadora: sua origem e utilização no Brasil. Revista Econômica do Nordeste, v. 40, n. 3, p. 411-424, jul./set. 2009.
POMPEIA, Caio. “Agro é tudo”: simulações no aparato de legitimação do agronegócio. Horizontes Antropológicos, ano 26, n. 56, p. 195-224, jan./abr. 2020a.
______. Concertação e poder: o agronegócio como fenômeno político no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 35, n. 104, p. 1-17, set./dez. 2020b.
RATINEAU, Jacques. La rationalisation de l’exploitation agricole. Bulletin de la Société française d’économie rurale, v. 1, n. 3, p. 89-90, 1949.
RAMOS, Ronaldo. Entrevista concedida ao autor. Brasília, 26 out. 2022.
REIS, João J. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês 1835. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986.
SANTOS, Robério F. O crédito rural na modernização da agricultura brasileira. Revista de Economia e Sociologia Rural, v. 26, n. 4, p. 393-404, out./dez. 1988.
SELL, Carlos E. Racionalidade e racionalização em Max Weber. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 27, n. 79, 153-172, jun. 2012.
SEVERO, Marconi. O agronegócio brasileiro: hegemonia e projeto de sociedade. Tese (Doutorado em Ciências Sociais). Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, Santa Maria, 2023a.
______. A classe média rural e o agronegócio: cooptação e hegemonia. Lua Nova, n. 120, p. 123-166, set./dez. 2023b.
SIMAS, Plínio. Entrevista concedida ao autor. Palmeira das Missões, 25 out. 2022.
SLENES, Robert W. Na senzala uma flor. Esperanças e recordações na formação da família escrava: Brasil, Sudeste, século XIX. 2° ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2011.
STÉDILE, João P. Entrevista concedida ao Canal Tutameia, em 03 set. 2021. Disponível em: https://youtu.be/MiRIlYCGdss. Acesso em: 09 mar. 2022.
SWIDLER, Ann. The Concept of Rationality in the Work of Max Weber. Sociological Inquiry, v. 43, n. 1, p. 35–42, 1973.
VIOLA, Eduardo; MENDES, Vinícius. Agricultura 4.0 e mudanças climáticas no Brasil. Ambiente & Sociedade, v. 25, p.1-20, 2022.
VISWANATHAN, P. K. The rationalization of agriculture in Kerala: implications for the natural environment, agro-ecosystems and livelihoods. Agrarian South: Journal of Political Economy, v. 3, n. 1, p. 63–107, 2014.
WANDERLEY, Maria N. B. O campesinato brasileiro: uma história de resistência. Revista de Economia e Sociologia Rural, v. 52, supl. 1, p. 25-44, 2014.
WEBER, Max. A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. Tradução de José M. M. Macedo. 1° ed. 6° reimpr. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
WERNECK, Francisco Peixoto de Lacerda (2° Barão de Paty do Alferes). Memória sobre a fundação e custeio de uma fazenda na província do Rio de Janeiro. 1° ed. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert, 1847.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Marconi Severo

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Autores que publicam na Século XXI: Revista de Ciências Sociais concordam com os seguintes termos:
Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).


