Relações raciais e amefricanas nas universidades ocidentalizadas: o recado está dado

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/1984644468079

Palavras-chave:

Racismo, História de África, Educação, Escrevivência., Campo problemático e pista para um futuro.

Resumo

A sala de aula nas universidades ocidentalizadas ainda se apresenta como espaço social de privilégio branco, fazendo com que a escrita e a interpretação sobre a história afrodiaspórica sigam o caminho de uma história única. Deste modo, o presente artigo objetiva problematizar o estudo das relações raciais, das relações amefricanas e da história da África nas universidades ocidentalizadas a partir da enunciação de corpos-políticos pretos performados em narrativas ficcionais. Sobre o caminho metodológico, apostamos em uma escrevivência em oralitura performada em narrativas ficcionais marcando na cena acadêmica uma política de escrita engajada e encharcada pela afirmação de uma ciência cuja racionalidade não é linear, constituindo-se pela complementariedade entre razão e emoção. As narrativas foram construídas a partir de memórias inscritas no corpo-político de duas mulheres pretas e um homem preto que responderam ao questionário on-line da pesquisa Necropolítica e População Negra, vinculada ao Núcleo de Estudos e Pesquisas E’léékò. A história afrodiaspórica e ladioamefricana resiste ao esquecimento, silenciamento, invisibilidade, apagamento nas paredes brancas das universidades ocidentalizadas, na cena brasileira, por meio da presença intelectual e militante de homens e mulheres pretas. A escrevivência em oralitura performada em narrativas ficcionais neste estudo, marca o ser-sendo na produção do conhecimento de muitas mulheres e homens pretas e pretos na universidade; marca o porvir do conhecimento produzido a partir das experiências pretas.

Biografia do Autor

Antonio Donizeti Fernandes, UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ

Professor Adjunto do curso de Pedagogia da UENP. Pós-Doutor em História Social pela UFGRS. Professor no Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em Ciências da Religião (UENP\CJ\CCHE). Mestre de Capoeira, Batuqueiro, é Coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indigenas UENP “Beatriz Nascimento”. Teve experiência como Sociólogo na área de Vigilância Sanitária em Saúde do Trabalhador. Foi Coordenador do Programa de Iniciação à Docência (Pibid).  Desenvolve, atualmente, pesquisas no campo da Sociologia da Educação, Antropologia, História da África e  Relações Raciais.

Miriam Cristiane Alves, Universidade Federal de Pelotas

Professora Adjunta do curso de Psicologia da UFPel. Professora Colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional da UFRGS. Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas E’léékò: agenciamentos epistemicos descoloniais e antirracistas UFPel/UFRGS. Idealizadora e coordenaora da Série Pensamento Negro Descolonial junto à Editora REDE UNIDA. Tem experiência em gestão em saúde pública, foi coordenadora da Política de Saúde da População Negra da Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul. Desenvolve pesquisas no campo da Psicologia e Relações Raciais, Saúde Mental Coletiva, Epistemologias e Metodologias Negras Descoloniais.

Referências

ADICHIE, Chimamanda. O perigo de uma história única. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

ARAÚJO, Maria Paula; SILVA, Izabel Pimentel; SANTOS, Desirree dos Reis (Orgs). Ditadura militar no Brasil: história, imagem e testemunho. Rio de Janeiro: Ponteio, 2013.

BASTIDE, Roger. As américas negras. São Paulo: DIEFEL, 1974.

BRASIL. Lei 10.639/2003, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº 9. 394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Ação compensatória visando à implementação do princípio da isonomia social do negro. Brasília, DF, 1983. Disponível em: <https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1167638&filename=Dossie+-PL+1332/1983> . Acesso em: 6 jul.2021.

BENJAMIM, César. Tortuosos caminhos. In: FRY, Peter et al. Divisões Perigosas: Políticas Raciais no Brasil Contemporâneo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.

BERNARDINO-COSTA, Joaze; MALDONADO-TORRES, Nelson; GROSFOGUEL, Ramon (Orgs). Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.

CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

CÉSAR, Chico. Respeitem meus cabelos, brancos. In: Respeitem meus cabelos, brancos. Rio de Janeiro, MZA Music, 2002. CD. Faixa 1 (3 mm 38s).

COSTA, Luis Artur. O corpo das nuvens: ouso da ficção na Psicologia Social. Fractal: Revista de Psicologia [online]. v. 26, n. spe, p. 551-576, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1984-0292/1317. Acesso em: 04 de junho de 2021.

DORIGNY, Marcel. Atlas das escravidões: Da antiguidade até os nossos dias. Petrópolis: Vozes, 2017.

ELLIS, Myriam. Comerciantes e contratadores do passado colonial. Revista IEB, n. 24, 1982.

EVARISTO, Conceição. A “escrevivência” na literatura feminina de Conceição Evaristo. [Entrevista cedida a] Bruno Barros. 14 min. 28s. Rio de Janeiro: TV PUC-Rio, 16 mai. 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=z8C5ONvDoU8. Acesso em: 04 de junho de 2021.

EVARISTO, Conceição. A escrevivência serve também para as pessoas pensarem. [Entrevista cedida a] Tayrine Santana, Itaú Social, e Alecsandra Zapparoli, Rede Galápagos, São Paulo: Dez perguntas para, 9 Nov. 2020. Disponível em: https://www.itausocial.org.br/noticias/conceicao-evaristo-a-escrevivencia-serve-tambem-para-as-pessoas-pensarem/. Acesso em 18 de setembro de 2021.

FANON, Frantz. Os condenados da terra. Juiz de Fora: UFJF, 2005. 376p.

FLORES, Maria Bernardete; MELO, Sabrina Fernandes. A liberdade de Cam: Discriminar para igualar. Sobre a questão racial brasileira. In: RODRIGUES, Cristina Carneiro; LUCA, Tania Regina de; GUIMARÃES, Valéria (Orgs). Identidades brasileiras: composições e recomposições. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2014.

FRY, Peter. A persistência da raça: Ensaios antropológicos sobre o Brasil e a África Austral. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.

FRY, Peter et al. Divisões Perigosas: Políticas Raciais no Brasil Contemporâneo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.

GEERTZ, Clifford. Nova luz sobre a antropologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

GIL, Gilberto. Oração pela África do Sul. In: Diadorim - Noite Neon. Rio de Janeiro: Ed. Warner,1985/2003. LP/CD. Faixa 8 (3 mm 35s).

GOMES, Ângela de Castro. Questão social e historiografia no Brasil do pós 1980: Notas para um debate. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 34, p. 157-186, 2004.

GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afrolatinoamericano. In: GONZALEZ, Lélia. Primavera para as rosas negras: Lélia Gonzalez em primeira pessoa. Diáspora Africana: Filhos da África, 1988/2018a.

GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural da Amefricanidade. In: GONZALEZ, Lélia. Primavera para as rosas negras: Lélia Gonzalez em primeira pessoa. Diáspora Africana: Filhos da África, 1988/2018b.

GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. In: RIOS, Flávia; LIMA, Marcia. Por um feminismo afro-latino-americano: Ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.

GROSFOGUEL, Ramón. A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Revista Sociedade e Estado, v.31, n.1, Jan./Abr. 2016.

hooks, bell. Erguer a voz: pensar como feminista, pensar como negra. São Paulo: Elefante, 2019.

JOFFLY, Bernardo. Isto é: Brasil 500 anos – Atlas Histórico. São Paulo: Três editorial, 2000.

LOPES, Nei. Enciclopédia brasileira da diáspora africana. São Paulo: Selo Negro, 2004.

LOPES, Nei ; MACEDO, José Rivair. Dicionário de história da África. Belo Horizonte: Autêntica, 2017

LOVEJOY, Paul. A escravidão na África: Uma história de suas transformações. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

MALHEIRO, Agostinho Marques Perdigão. A escravidão no Brasil: ensaio histórico jurídico – africanos. v. 3. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1867.

MARTINS, Leda Maria. Performances da oralitura: corpo, lugar da memória. Letras, Santa Maria, 26: 63-81, 2003. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/letras/article/view/11881/7308. Acesso em: 16 de maio de 2021.

MBEMBE, Aquille. Crítica Da Razão Negra. Editora Antígona, Lisboa, 2017.

MONTENEGRO, T. Antonio; RODESGUERO, Carla S.; ARAÚJO, Maria Paula (Orgs). Marcas da memória: história da Anistia no Brasil. Recife: Ed. Universitária da UFPE,2012.

MOURA, Clóvis. Quilombos: Resistência ao escravismo. 3 ed. São Paulo: Ática,19 93.

MOORE, Carlos. Racismo e sociedade: Novas bases epistemológicas para entender o racismo. 2 ed., Belo Horizonte: Nandyala, 2012.

MUNANGA. Kabengele. Prefácio. In: MOORE, Carlos. Racismo e sociedade: novas bases epistemológicas para entender o racismo. 2 ed. Belo Horizonte: Nandyala, 2012.

NASCIMENTO, Abdias do. O quilombismo: Documentos de uma militância pan-africanista. Petrópolis: Vozes, 1980.

NASCIMENTO, Abdias do. O negro revoltado (Org.). 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982

OLIVA, Anderson Ribeiro. A história da África nos bancos escolares; representações e imprecisões na leitura didática. Estudos Afro-Asiáticos, v. 25, n. 3, p. 421-461. 2003.

PATTERSON, Orlando. Escravidão e morte social: um estudo comparativo. São Paulo: EDUSP, 2008.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidaddel poder, cultura y conocimientoen América Latina. AnuarioMariateguiano, Lima, Peru, v. 9, n. 9, p. 113-122, 1997.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. In: CLACSO, Consejo Latinoamericano de CienciasSociales. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005. p.117-142.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidaddel poder y clasificación social. In: CASTRO-GÓMEZ, S.; GROSFOGUEL (Orgs.). El giro decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica más alládel capitalismo global. Bogotá: SiglodelHombre Editores; U.C., I.E.S.C. y PontifiiaUniversidadJaveriana, Instituto Pensar, 2007. p. 93-126.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder e classificação social. In: SANTOS, B. de S.; MENESES, M.P. (Org.). Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010. p.84-130.

RAMOS, Arthur. A mestiçagem no Brasil. Maceió: EDUFAL, 2004.

REIS, Daniel Arão (Coord.). Modernização, ditadura e democracia. 1964 – 2010. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014.

RICOUER, Paul. A memória, a história e o esquecimento. Campinas: UNICAMP, 2007.

ROCHA, Maria; PANTOJA, Selma. Rompendo silêncios: História da África nos currículos da educação básica. Brasília – DF: DP Comunicações, 2004.

ROSA, Evellyn Gonçalves da, ALVES, Míriam Cristiane. Estilhaçando a Máscara do Silenciamento: Movimentos de (Re)Existência de Estudantes Negros/Negras.Psicologia: Ciência e Profissão. v. 40, n. spe, p. 1-14, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1982-3703003229978. Acesso em 10 de junho de 2021.

RUBIM, Christina de Resende. Antropólogos brasileiros e a antropologia no Brasil: A era da pós-graduação. 1996. Tese (Doutorado) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas. Disponível em: <http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/280027>. Acesso em: 5 jul.2021.

SALVADOR, José Gonçalves. Os magnatas do tráfico negreiro: Séculos XVI – XVII. São Paulo: Pioneira/Edusp, 1981.

SILVA, Alberto da Costa. Um rio chamado Atlântico: África no Brasil e o Brasil na África. Rio de Janeiro: Nova Fronteira/UFRJ, 2003.

SILVA, Alberto da Costa. A manilha e o libambo: A África e a escravidão, de 1500 a 1700. 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira e Participações, 2011.

TRAJANO FILHO, Wilson. História da África: para quê? In: FRY, Peter; MAGGIE, Yvonne; MAIO, Marcos Chor; MONTEIRO, Simone; SANTOS, Ricardo Ventura. Divisões Perigosas: Políticas Raciais no Brasil Contemporâneo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.

VERGER. Pierre. Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos: Dos séculos XVII a XVIX. São Paulo: Corrupio, 1987.

VEIGA, Lucas. As diásporas da bixa preta: sobre ser negro e gay no Brasil. Revista Tabuleiro de Letras, v. 12, nº. 01, p.77-88, 2018.

WEINRICH, Harald. Leteo: Arte y crítica del olvido. Madrid - Espana: Siruela, 1999.

Publicado

2022-12-22

Como Citar

Fernandes, A. D., & Alves, M. C. (2022). Relações raciais e amefricanas nas universidades ocidentalizadas: o recado está dado. Educação, 47(1), e111/ 1–27. https://doi.org/10.5902/1984644468079

Edição

Seção

Dossiê: Educação das Relações Étnico-Raciais e a Améfrica Ladina