As matrículas na Educação de Jovens e Adultos no Ensino Médio em meio à crise da ideologia neodesenvolvimentista
DOI:
https://doi.org/10.5902/1984644461413Palavras-chave:
Educação de Jovens e Adultos, Ensino Médio, Neodesenvolmentismo.Resumo
O propósito deste artigo é compreender a redução das matrículas na Educação de Jovens e Adultos (EJA) no ensino médio na última década. Especificamente, investiga a oferta de EJA/ensino médio no Brasil, de 2009 a 2019, relacionando-a com alguns dos suportes que guiaram as políticas públicas para a modalidade nessa etapa da educação básica: a forma de lidar com a demanda, a flexibilização do tipo de oferta e a ampliação da certificação. Em seguida, analisa algumas das implicações dessas políticas para a educação da classe trabalhadora, em um período que abarca a crise e o colapso da ideologia neodesenvolvimentista e a ascensão dos ultraliberais ao poder. Com base nos dados quantitativos, em documentos oficiais e na literatura especializada, busca desvelar alguns dos aspectos da correlação de forças responsáveis pela redução e pela estagnação das matrículas na EJA/ensino médio no período, que resultaram no fortalecimento de ações educacionais como, por exemplo, elaborar e/ou aprimorar exames nacionais. O itinerário das políticas públicas constituído nessa correlação de forças demonstrou que tais ações incentivaram a certificação, potencializando o mercado da educação não formal. Conclui-se, portanto, que, seja por meios como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), o neoliberalismo e o neodesenvolvimentismo contribuíram para esvaziar o direito à escolarização de ensino médio de jovens e adultos da classe trabalhadora e fortaleceram os vínculos do potencial estudante da EJA com a educação não formal e, em sentido mais amplo, com o mercado de certificação.
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