O caráter performativo das ocupações estudantis
DOI:
https://doi.org/10.5902/1984644442474Palavras-chave:
Ocupações, Movimento Estudantil, PerformanceResumo
O artigo analisa as ocupações secundaristas que ocorreram no ano de 2015 no estado de São Paulo, como reação à proposta de reorganização escolar que previa o fechamento de 94 escolas e a transferência compulsória de 311 mil alunos e 74 mil professores. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica e uma análise teórica das ocupações destacando sua dimensão performativa. Esta chave de análise é sustentada a partir de autores como Ernesto Laclau, Chantal Mouffe e Judith Butler, que enfatizam o caráter relacional e contingente das identidades, e a importância do corpo na gramática atual dos conflitos sociais. As conclusões indicam que as ocupações dos secundaristas foram atos performativos em três dimensões: na emergência dos sujeitos (a identidade secundarista que emergiu com a ocupação); no modo de apresentar algumas demandas educacionais (a produção de novas práticas escolares que materializavam as mudanças desejadas); na inversão do assujeitamento administrativo pela criação de outro “corpo estudantil” visível, vibrante e atuante. As ocupações extravasaram os canais tradicionais e consagrados de reivindicação previstos pela democracia representativa, tornando-se um movimento disruptivo, com forte teor transgressivo dos poderes instituídos e que, por isso, desencadearam forte repressão por parte do Estado. Ao mesmo tempo, foram espaços de produção de novas formas de educação e de uma vida escolar com mais liberdade, autonomia e sentido, corporificando críticas que os jovens vêm fazendo há muitos anos a respeito das políticas públicas e dos modelos de escolarização que lhes são oferecidos.
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