O (não) pertencimento do migrante haitiano ao Brasil: a dobra subjetiva do dentro e fora
DOI:
https://doi.org/10.5902/2357797587847Palavras-chave:
Migrante, Raça, Identidades, EntrelugarResumo
Este artigo objetiva trazer à discussão traços da identidade dos haitianos que migraram para o Brasil, movimento decorrente dos atuais deslocamentos que se dão também no eixo Sul-Sul, por meio da análise de narrativas desses migrantes, disponibilizadas publicamente em plataforma digital do YouTube. É uma pesquisa de natureza qualitativa e interpretativa, que considera a narrativa como forma de expressão do sujeito, de sua identidade, além de uma perspectiva metodológica que possibilita a produção de conhecimento. A partir da seleção de trechos dessas narrativas, empreendeu-se uma análise de natureza discursiva para estudar efeitos de sentido sobre formas de pertencimento e não pertencimento do migrante haitiano à(s) cultura(s) e língua(s) do Brasil, relevando as condições que compõem os marcadores identitários desse migrante e que determinam o espaço discursivo que ele ocupa, tais como a língua, a classe social, o gênero e a raça. Trazemos para a discussão dois excertos que fazem parte de um dos eixos temáticos trabalhados na pesquisa geral, denominado como “a dobra subjetiva do dentro e fora”, o qual revela o movimento simultâneo de pertencer e não pertencer ao país em que atualmente habita, pelas dificuldades que enfrenta, mas que são colocadas como responsabilização pessoal, não levando em conta que ele, por sua vulnerabilidade e pela reunião de traços identitários que o definem como um sujeito de “segunda classe”, não pode gozar de seus direitos, ainda que esteja em condição legal no país em que vive, revelando a necessidade de se repensar decolonialmente os modelos da modernidade.
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