Áreas de Preservação Permanente (APP) no topo de morros no estado do Rio de Janeiro: uma avaliação dos dispositivos legais em diferentes unidades geomorfológicas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/1980509832492

Palavras-chave:

Áreas protegidas, Geoprocessamento, Legislação ambiental

Resumo

As Áreas de Preservação Permanente (APP), instituídas pelo Código Florestal em 1965, representam elemento integrador e, conforme definido pelo Plano Nacional de Áreas Protegidas, devem ser consideradas no planejamento da paisagem com a função estratégica de conectar os fragmentos florestais. No entanto, a Lei de Proteção da Vegetação Nativa de 2012 alterou os parâmetros topográficos (altura, declividade e base das elevações) que definem as APP no topo de morros, o que ocasionou o quase desaparecimento deste tipo de APP no país. Por sua vez, para recuperar parte da área perdida, o Instituto Estadual do Ambiente (INEA) promulgou a Resolução 93 em 2014, que estabeleceu uma metodologia própria para a delimitação APP no topo de morros no estado do Rio de Janeiro. Como forma de analisar o arranjo espacial decorrente das alterações nos dispositivos legais, este estudo realizou a delimitação e calculou as métricas de paisagem das manchas de APP no topo de morros em quatro unidades geomorfológicas representativas no estado do Rio de Janeiro, tendo como base o Código Florestal de 1965, a Lei de Proteção da Vegetação Nativa de 2012 e Resolução INEA de 2014. Os mapeamentos foram realizados de modo automático através de Geoprocessamento e com uso de Modelo Digital de Terreno na escala 1:25.000. Os resultados mostraram que as alterações nos dispositivos legais acarretaram a redução da área (até 96%) e do número de manchas (até 95%) na APP no topo de morros, bem como o aumento da distância média (de 135 m para mais que 800 m) entre as manchas. Constatou-se que a distribuição das APP se mantém nas unidades geomorfológicas mapeadas de acordo com o Código de Florestal de 1965, contudo, nos demais dispositivos legais, os indicadores pioram nos terrenos menos acidentados. Conclui-se, assim, que a adoção da Lei de Proteção da Vegetação Nativa de 2012 implica em um cenário de paisagem fragmentada com quase desaparecimento das APP no topo de morros. Este cenário é amenizado pela Resolução INEA de 2014, que mantém parte expressiva das APP apenas na área de relevo mais acidentado, enquanto o Código Florestal de 1965 possui os melhores indicadores que expressam a extensão, a conectividade e o arranjo espacial nas unidades geomorfológicas estudadas. Dessa forma, a alteração dos dispositivos legais correspondeu a um cenário de maior fragmentação e menor conectividade estrutural entre as manchas de APP no topo de morros.

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Biografia do Autor

Thuany Gomes de Oliveira, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ

Possui graduação em Ciência Ambiental pela Universidade Federal Fluminense (2014) e mestrado em Engenharia de Biossistemas pela Universidade Federal Fluminense (2017). Tem experiência na área de Geociências, atuando principalmente nos seguintes temas: geoprocessamento, legislação ambiental, Áreas de Preservação Permanente, água e desenvolvimento sustentável.

Cristiane Nunes Francisco, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ

Possui graduação em Bacharelado em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1991), graduação em Licenciatura em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1987), mestrado em Engenharia de Transportes (Geoprocessamento) pela Universidade de São Paulo (1995) e doutorado em Geociências (Geoquímica) pela Universidade Federal Fluminense (2004). Realizou Pós-Doutoramento em Sensoriamento Remoto pelo INPE (2011). Atualmente é professora associada da Universidade Federal Fluminense. Tem experiência em Geociências, com ênfase na aplicação de Sistemas de Informação Geográfica e Sensoriamento Remoto na análise espacial de áreas protegidas e bacias hidrográficas, no mapeamento do uso e cobertura da terra, no planejamento territorial de municípios.

Claudio Belmonte de Athayde Bohrer, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ

Engenheiro Florestal graduado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1981), com mestrado em Manejo de Recursos Naturais (1990) e doutorado em Geografia (1998), ambos pela University of Edinburgh. Atualmente é professor associado da Universidade Federal Fluminense. Tem experiência na área de Recursos Florestais e Engenharia Florestal, com ênfase em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais, atuando principalmente nos seguintes temas: mata atlântica e amazonia legal; planejamento ambiental e do uso do solo; mapeamento da vegetação, sensoriamento remoto e SIG; ecologia da paisagem, biogeografia e conservação da natureza.

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Publicado

15-03-2021

Como Citar

Oliveira, T. G. de, Francisco, C. N., & Bohrer, C. B. de A. (2021). Áreas de Preservação Permanente (APP) no topo de morros no estado do Rio de Janeiro: uma avaliação dos dispositivos legais em diferentes unidades geomorfológicas. Ciência Florestal, 31(1), 491–514. https://doi.org/10.5902/1980509832492

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