Corpus: a vida política

Auteurs

  • Flávia Biff Cera Universidade Federal de Santa Catarina

DOI :

https://doi.org/10.5902/1679849X73952

Mots-clés :

Literatura marginal, Corpo, Política

Résumé

O último livro de Ferréz, Ninguém é inocente em São Paulo, reabre a discussão sobre culpados e inocentes. Discussão que remete à leitura que Giorgio Agamben fez da zona cinza de Primo Levi em O que resta de Auschwitz. O filósofo refere-se a esta zona cinza como uma zona de irresponsabilidade, onde há indistinção entre vítimas e carrascos: o opressor vira oprimido e oprimido vira opressor. Esta zona nebulosa não diferencia exceção e regra, é o espaço propício para o permanente Estado de exceção em que vivemos. Não por acaso encontrarmos no livro referido de Ferréz um conto com o título “Terminal (Nazista)” no qual não conseguimos saber com precisão se se trata de um terminal de ônibus ou de um campo de concentração nazista: “eu tentava olhar diretamente para olhos, os que não tinham cabeças muito baixas não tinham globos oculares”. Resta-nos, então, procurar uma saída ética e, portanto, política, para derrotar a constante tentativa de naturalização do inumano, do horror e da catástrofe. Agamben aponta para a profanação e Jean-Luc Nancy insiste no tema do contato: duas formas que colocam o corpo no centro das atenções políticas. Políticas que não devem ser fundadas na politização da vida nua, que só faz manter a relação do bando soberano, ou seja, permite a captura e abandono, a inclusão-exclusiva, mas sim políticas fundadas na potência política contida no cerne da vida nua, porque esta vida é a própria política e tem como objetivo a busca da felicidade.

Téléchargements

Les données relatives au téléchargement ne sont pas encore disponibles.

Biographie de l'auteur

Flávia Biff Cera, Universidade Federal de Santa Catarina

Mestranda em Teoria Literária na UFSC, Bolsista CNPq

Références

AGAMBEN, Giorgio. A comunidade que vem. Trad. António Guerreiro. Lisboa: Editorial Presença, 1993.

AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: O poder soberano e a vida nua. Trad. Henrique Burigo. Belo Horizonte: UFMG, 2002.

AGAMBEN, Giorgio. Quel che resta di Auschwitz: l’archivio e il testemone. Torino: Bollati Boringhieri, 2005.

AGAMBEN, Giorgio. Profanaciones. Trad. Flavia Costa y Edgardo Costa. Adriana Hidalgo: Buenos Aires, 2005a.

AGAMBEN, Giorgio. Il regno e la gloria: per una genealogia teologica dell’economia e del governo. (Homo sacer Vol. II, t. 2). Vicenza: Neri Pozza, 2007.

BADIOU, Alain. El siglo. Trad. Horacio Pons. Buenos Aires: Manantial, 2005.

BENJAMIN, Walter. Teses sobre o conceito da história. Trad. Jeanne Marie Gagnebin . Mimeografado, 2003.

BLANCHOT, Maurice. La escritura del desastre. Trad. Pierre de Place. Caracas: Monte Ávila, 1983.

DELEUZE, Gilles. Abecedário de Gilles Deleuze. “O abecedário de Gilles Deleuze”. Entrevista com Claire Parnet. In: Dossiê Gilles Deleuze. Disponível em http://br.geocities.com/polis_contemp/deleuze_abc.html. Acesso em 03/08/2006.

DELEUZE, Gilles. Post Scriptum sobre a sociedade do controle. In: Conversações: 1972-1990. Trad. Peter Pal Pelbart. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.

FERRÉZ. Ninguém é inocente em São Paulo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006.

FERRÉZ. Entrevista concedida a Pedro Alexandre Sanches em 22/08/2006. Disponível em: http://pedroalexandresanches.blogspot.com/2006/09/ferrz-manual-prtico-dos-afetos.html. (2006b).

DVD 100% Favela. Grupo Negredo (Orgs). 2006c. FERRÉZ. Capão Pecado. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.

FERRÉZ. www.ferrez.blogspot.com

FOUCAULT, M. Em defesa da sociedade. Trad. Maria E. Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

HALL, Stuart. Da diáspora identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.

KEHL, Maria Rita. A Fratia Órfã: o esforço civilizatório do rap na periferia de São Paulo. ROCHA, João Cezar de Castro (Org). In: Nenhum Brasil Existe: pequena enciclopédia. Rio de Janeiro: UniverCidade e Topbooks, 2003.

LACAN, Jacques. Televisão. Trad. Atonio Quinet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.

NANCY, Jean-Luc. Corpus. Trad. Patrício Bulnes. Madrid: Arena Libros, 2003.

PELBART, Peter. O corpo informe. In: GREINER, Christine; AMORIN, Claudia (Orgs). Leituras do Corpo. São Paulo: Annablume, 2003.

RANCIÈRE, Jacques. Deleuze e a literatura. Trad. Ana Lucia Oliveira. In: Matraga, n.12, ago-dez 1999.

SCHOLLHAMMER, Karl Eric. As práticas de uma língua menor: reflexões sobre Deleuze e Guattari. In: Revista Ipotesi. v. 5,n.1. Juiz de Fora: UFJF, jul-dez 2001.

ZIZEK, Slavoj. Bem-vindo ao deserto do Real! : cinco ensaios sobre o 11 de setembro e datas relacionadas. Paulo Cezar Castanheira (trad.). São Paulo: Boitempo, 2003.

Téléchargements

Publiée

2007-07-01

Comment citer

Cera, F. B. (2007). Corpus: a vida política. Literatura E Autoritarismo, (10). https://doi.org/10.5902/1679849X73952