O som do rugido da onça: reescrever a história pelo encantamento do mundo
DOI:
https://doi.org/10.5902/1679849X86746Schlagworte:
Micheliny Verunshk, História, Iluminismo, Colonialismo, ReescritaAbstract
O romance O som do rugido da onça (VERUNSHK, 2021) narra a morte da menina Iñe-e. Criança indígena da tribo Miranha, a menina foi entregue por seu pai a dois pesquisadores para ser levada à Alemanha junto a outras crianças originárias, onde seriam exibidas como exemplo da fauna para a corte do país. A narração desse rapto é baseada em relatos historiográficos sobre a expedição do zoólogo Johann Baptist von Spix e do botânico Carl Friedrich Martius, considerados dois dos mais “famosos e importantes viajantes que desembarcaram no Brasil [...] [cuja viagem] propiciou a mais completa exploração da fauna e da flora brasileira até os dias de hoje” (LIMA, 2019). Este artigo analisa como a obra subverte a narrativa de uma historiografia hegemônica, escrita na perspectiva dos sequestradores-cientistas, a partir da mobilização da inserção de cosmovisões de povos originários. Essas cosmovisões surgem, ao longo do romance, como “rasuras” na história, e permitem que a personagem de Iñe-e compreenda seu lugar em um mundo onde indígenas como ela foram massacrados e explorados no processo colonizatório. Esse encantamento também permite a outra personagem, Josefa, situada na atualidade, voltar a pensar em si e rever suas origens historicamente e discursivamente apagadas. A argumentação elabora as conclusões: 1) de que a história não é linear nem homogênea; 2) o Iluminismo promoveu um desencantamento do mundo, substituindo a imaginação pelo saber para justificar uma série de violências coloniais; 3) se a realidade é dependente da ação humana, ela é passível de intervenção para sua modificação.
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