Silêncio, destruição, criação
A propósito de 'Infinito silêncio', de Ferreira Gullar
DOI:
https://doi.org/10.5902/1679849X72374Palavras-chave:
Ferreira Gullar, Subjetividade, História, Crítica imanenteResumo
No poema “Infinito silêncio”, de Ferreira Gullar, a política está ausente: não é tema, nem há a ela nenhuma alusão ostensiva. O poema é um mergulho do poeta em sua subjetividade, da qual emerge, como imagem fundamental, o vazio absoluto anterior à organização da elementar matéria. Mergulho que se desdobra num duplo reconhecimento: por um lado, o apagamento de certas possibilidades históricas, o aniquilamento de algumas esperanças; e, por outro, a percepção de que a vitória não foi absoluta ou definitiva. Lido de uma perspectiva adorniana, o relativo abandono do engajamento político, ao invés de recuo, pode ser interpretado como um modo de reação à derrocada de boa parte das possibilidades de superação histórica com que o século XX se debateu. De forma que, ao voltar-se sobre si e sobre a mais absoluta vastidão do cosmo, “Infinito silêncio” encena uma resistência ao atual estado de coisas, expressando negativamente a ideia de harmonia e incorporando as contradições a sua própria estrutura.
Downloads
Referências
ADORNO, Theodor W. Notas de literatura I. São Paulo: Duas Cidades: Editora 34, 2003. (Palestra sobre lírica e sociedade, p. 65-89).
ADORNO, Theodor W. Prisms. Cambridge, MA: The MIT Press, 1991.
CAMENIETZKI, Eleonora Ziller. Poesia e política: a trajetória de Ferreira Gullar. Rio de Janeiro: Revan, 2006.
FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização, Novas conferências introdutórias e outros textos: 1930-1936. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. (Obras completas, vol.18; tradução de Paulo César de Souza).
FREUD, Sigmund. A transitoriedade. In: SOUZA, Paulo C. de. Freud, Nietzsche e outros alemães. Rio de Janeiro: Imago, 1995. (p. 24-28).
GULLAR, Ferreira. Melhores poemas. 7.ed. São Paulo: Global, 2004.
GULLAR, Ferreira. Em alguma parte alguma. Rio de Janeiro: José Olympio, 2010.
JAY, Martin. A imaginação dialética: história da Escola de Frankfurt e do Instituto de Pesquisas Sociais – 1923-1950. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
DECLARAÇÃO DE ORIGINALIDADE E EXCLUSIVIDADE E CESSÃO DE DIREITOS AUTORAIS
Declaro que o presente artigo é original e não foi submetido à publicação em qualquer outro periódico nacional ou internacional, quer seja em parte ou na íntegra. Declaro, ainda, que após publicado pela Literatura e Autoritarismo, ele jamais será submetido a outro periódico. Também tenho ciência que a submissão dos originais à Literatura e Autoritarismo implica transferência dos direitos autorais da publicação digital. A não observância desse compromisso submeterá o infrator a sanções e penas previstas na Lei de Proteção de Direitos Autorais (nº 9610, de 19/02/98).