“Na torpeza nauseante havia muita coisa pura”: despersonalização e afirmação do sujeito em Memórias do Cárcere e nas Recordações da Casa dos Mortos.

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/1679849X31064

Palavras-chave:

Graciliano Ramos, Dostoiévski, Memória carcerária

Resumo

A “torpeza” e a “pureza” que dão título a este texto são observadas por Graciliano Ramos no presídio da Ilha Grande. Lançado num ambiente hostil e desconhecido, o autor registra o processo de negação dos direitos e da dignidade dos presidiários, descritos através de expressões como “rebanho” e “fantasmas”. A convivência com prisioneiros originários contextos sociais e culturais em ampla medida desconhecidos abre caminho ao estranhamento, mas também a aproximações. Em Memórias da casa dos mortos, Dostoiévski se encontra em posição semelhante, e registra, com grande ênfase, a “pureza” em meio à “torpeza”, a afirmação da vida e da personalidade entre os “mortos” recolhidos na “casa” siberiana. O presente artigo tem como objetivo estabelecer comparações e aproximações entre as memórias carcerárias de ambos os literatos, a partir da problemática da negação da dignidade humana, e, por outro lado, da resistência dos presidiários, que lutam para afirmar suas vidas e personalidades, diante de circunstâncias restritivas e brutais.

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Biografia do Autor

Ana Carolina Huguenin Pereira, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ

Doutora em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professora de História Contemporânea da Faculdade de Formação de Professores (FFP) da UERJ.

Referências

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Publicado

2018-08-31

Como Citar

Pereira, A. C. H. (2018). “Na torpeza nauseante havia muita coisa pura”: despersonalização e afirmação do sujeito em Memórias do Cárcere e nas Recordações da Casa dos Mortos. Literatura E Autoritarismo, (31). https://doi.org/10.5902/1679849X31064