Cartografias do desalento: Schopenhauer e a ruína dos mundos futuros

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/2179378693470

Palavras-chave:

Pessimismo, Temporalidade, Antinatalismo

Resumo

Este artigo tem como objetivo examinar aspectos da conjuntura pessimista contemporânea, analisando a retomada dos debates sobre os pessimismos reprodutivos e os fundamentos do pessimismo cósmico a partir do legado filosófico de Arthur Schopenhauer. Partindo de discussões contemporâneas sobre o pessimismo de raízes schopenhauerianas, investigaremos tendências nas humanidades que respondem ao sentimento de catástrofe a partir da especulação afirmativa que busca a composição de mundos futuros como forma de reabilitação. Mostramos que as vertentes pessimistas e negativas não apenas hesitam diante dessa resposta produtiva, mas frequentemente a rejeitam, problematizando ainda as expectativas de um futuro aberto alicerçado no êxito da proliferação humana - retomando assim as reflexões seminais de Schopenhauer desenvolvidas em O mundo como vontade e como representação e no segundo volume de Parerga e Paralipomena. Defendemos que, no contexto dos debates atuais, elementos centrais do pensamento pessimista merecem ter sua lógica e argumentação rigorosamente examinados, em especial pelo modo como atualizam pressupostos schopenhauerianos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Fernando Ferraz Olszewski, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Mestre em filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2024). Bacharel em filosofia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (2022). Bacharel em economia pela Universidade da North Dakota (2012). Áreas de interesse na filosofia: metafísica, ética, filosofia da religião e pessimismo filosófico

Jorge Tibilletti de Lara, Fundação Oswaldo Cruz

Doutor em História das Ciências e da Saúde pela Casa de Oswaldo Cruz - FIOCRUZ com bolsa Nota 10 da FAPERJ e tese premiada com menção honrosa no Prêmio Oswaldo Cruz de Teses de 2024 (Ciências Humanas e Sociais). Em sua tese, estudou o papel dos isótopos radioativos nas transformações ocorridas na pesquisa brasileira em biologia, medicina e ecologia durante a segunda metade do século XX. Mestre em História das Ciências e da Saúde (2020) pela mesma instituição, com pesquisa sobre a história da virologia e da dengue no Brasil. Graduado em História pela Universidade Estadual do Paraná (2018). Atua como pesquisador em estágio pós-doutoral na Casa de Oswaldo Cruz, vinculado ao grupo de pesquisa História, Ecologia e Saúde no Antropoceno. É membro desde 2020 do Centro de Estudos dos Animais (CEA-UFMG), coordenado por Regina Horta Duarte, e desde 2024 coordena com Gabriel Lopes o Laboratório de História, Ansiedades Climáticas e Saúde (LHACS). Tem experiência na área de História, com ênfase em História das Ciências, atuando nos seguintes temas de pesquisa: história e filosofia das ciências da vida (virologia, radiobiologia, biologia molecular, ecologia), história da saúde pública, história da medicina, história dos animais, pessimismo, teoria da história e ansiedades climáticas

Gabriel Lopes, Fundação Oswaldo Cruz

Pesquisador do Departamento de Pesquisa da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz e professor do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde (PPGHCS) na mesma instituição. Doutor em História das Ciências e da Saúde pela Fiocruz (2016), com estágio de doutorado-sanduíche na Johns Hopkins University (2014/2015). Graduado e mestre em História pela UFRN (2005 e 2011). Coeditor da revista História, Ciências e Saúde - Manguinhos. Pesquisas em desenvolvimento nos seguintes campos: História dos animais; relação entre ansiedades climáticas e pessimismo; História da saúde em perspectiva global; História da saúde e meio ambiente (malária e arboviroses). Contato: gabriel.lopes@fiocruz.br. Publicações destacadas: O Feroz Mosquito Africano no Brasil (Editora Fiocruz, 2020); Uma história global e brasileira da AIDS, 1986-2021 (Editora Fiocruz, 2023); Capítulo em Framing Animals as Epidemic Villains (Palgrave Macmillan, 2019); Artigos publicados nas revistas Global Public Health; Latin American Research Review; Resgate: Revista Interdisciplinar de Cultura (Unicamp). Participação em projetos e grupos: Grupo de pesquisa Centro de Estudos dos Animais (CEA-UFMG); Projeto Amazônia como microcosmo do Antropoceno (Fiocruz); Laboratório de História, Ansiedades Climáticas e Saúde (Fiocruz).

Referências

Abel, C. The effects of COVID-19 on imagined reproductive futures. BioSocieties, v. 19, p. 452-478, 2023.

Agrillo, C.; Nelini, C. Childfree by choice: a review. Journal of Cultural Geography, v. 25, n. 3, p. 347-363, 2008.

Alves, J.E.D. "Crescimento demoeconômico no Antropoceno e negacionismo demográfico." Liinc em Revista 18.1, e5942, 2022.

Disponível em: https://revista.ibict.br/liinc/article/view/5942/5595. Acesso em: 7 jul. 2025

Anti-natalism. Cambridge Dictionary (online), 2024. Disponível em: https://dictionary.cambridge.org/dictionary/english/anti-natalism. Acesso em: 12 jan. 2024.

Beiser, F. C. Weltschmerz: Pessimism in German Philosophy, 1860-1900. New York: Oxford University Press, 2016.

Benatar, D. Better never to have been: the harm of coming to existence. New York: Oxford University Press, 2006.

Bessire, L.; Bond, D. Ontological anthropology and the deferral of critique. American Ethnologist, v. 41, n. 3, p. 440-456, 2014.

Cabrera, J. A ética e suas negações: não nascer, suicídio e pequenos assassinatos. Rio de Janeiro: Rocco, 2011.

Cabrera, J. Mal-estar e moralidade: situação humana, ética e procriação responsável. Brasília: SciELO-Editora UnB, 2018.

Cabrera, J.; Di Santis, T. L. Porque te amo não nascerás! = Nascituri te salutant. Brasília: LGE Editora, 2009.

Chandler, D.; Reid, J. Becoming Indigenous: the ‘speculative turn’ in anthropology and the (re)colonisation of indigeneity. Postcolonial Studies, v. 23, n. 4, p. 485-504, 2020.

Cioran, E. Do inconveniente de ter nascido. Lisboa: Letra Livre, 2010.

Costa, A. C. Cosmopolíticas da Terra: modos de existência e resistência no Antropoceno. 2019. Tese (Doutorado em Filosofia) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019.

Debona, V. Pessimismo produtivo: por uma (re)definição de pessimismo crítico. Veritas, v. 70, n. 1, p. 1-18, 2025.

Dekeyser, T. et al. Negativity: Space, politics and affects. Cultural Geographies, v. 29, n. 1, p. 5-21, 2022.

Dekeyser, T.; Jellis, T. Besides affirmationism? On geography and negativity. Area, 53(2), p. 318-325, 2021.

Dekeyser, T. Pessimism, futility and extinction: An interview with Eugene Thacker. Theory, Culture & Society, v. 37, n. 7-8, p. 367-381, 2020.

Dekeyser, T. Worldless futures: On the allure of 'worlds to come'. Transactions of the Institute of British Geographers, v. 48, n. 2, p. 338-350, 2023.

Dienstag, J. F. Pessimism. In: GIBBONS, M. T. (Ed.). The Encyclopedia of Political Thought. Wiley Online Library, 2014. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/9781118474396.wbept0762. Acesso em: 23 jul. 2025.

Dienstag, J. F. Pessimism: Philosophy, ethic, spirit. Princeton: Princeton University Press, 2009.

Domańska, E. The paradigm shift in the contemporary humanities and social sciences. In: Kuukkanen, J. (ed.). Philosophy of history: twenty-first-century perspectives. London: Bloomsbury, p. 180-197, 2021.

Grossberg, L.; Behrenshausen, B. G. Cultural studies and Deleuze-Guattari, part 2: From affect to conjunctures. Cultural Studies, London, v. 30, n. 6, p. 1001-1028, 2016.

Harrington, R. Childfree by Choice. Studies in Gender and Sexuality, v. 20, n. 1, p. 22-35, 2019. DOI: https://doi.org/10.1080/15240657.2019.1559515.

Häyry, M.; sukenick, A. Antinatalism, Extinction, and the End of Procreative Self-Corruption. Cambridge: Cambridge University Press, 2024.

Hegel, G. W. F. A Razão na história: uma introdução geral à filosofia da história. 2. ed. São Paulo: Centauro, 2004.

Heti, S. Maternidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

Heti, S. Parem de perguntar às mulheres que não têm filhos por que elas não têm. El País Brasil, 26 abr. 2019. Entrevista concedida a Adrián Cordellat. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/04/26/internacional/1556264752_630548.html. Acesso em: 27 jul. 2025.

Holbraad, M.; Pedersen, M. A. Introduction: the ontological turn in anthropology. In: Holbraad, M.; Pedersen, M. A. (Org.). The Ontological Turn: An Anthropological Exposition. Cambridge: Cambridge University Press, 2017, p. 1-29.

Houseknecht, S. K. Voluntary childlessness. In: SUSSMAN, M. B.; STEINMETZ, S. K. (eds.). Handbook of marriage and the family. New York: Plenum Press, 1987, p. 369-395.

Iaconelli, V. Manifesto Antimaternalista: Psicanálise e políticas da reprodução. Rio de Janeiro: Zahar, 2023.

Ivanova, K.; Balbo, N. Societal pessimism and the transition to parenthood: a future too bleak to have children? Population and Development Review, v. 50, n. 2, p. 323-342, 2024.

Janaway, C. Schopenhauer: A Very Short Introduction. Oxford: Oxford University Press, 2002.

Jardim, F. A. A.; PELEGRINI, M. A.; CÔRTES, M. M. P. Perspectivas apocalípticas e anti-apocalípticas para habitar o presente: re-existir, pensar, experimentar, e viver juntos o fim do mundo. Resgate: Revista Interdisciplinar de Cultura, v. 32, e024010, 2024.

Kant, I. A metafísica dos costumes. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2011.

Kant, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Lisboa: Edições 70, 2007.

Lara, J. T.; Lopes, G. A marcha dos espectros não-nascidos: antinatalismo, assombrologia e futuros históricos. Resgate: Revista Interdisciplinar de Cultura, Campinas, v. 32, n. 00, e024011, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.20396/resgate.v32i00.8676118. Acesso em: 26 jul. 2025.

Lee, J.; Jeong, E. The 4B movement: envisioning a feminist future with/in a non-reproductive future in Korea. Journal of Gender Studies, v. 30, n. 5, p. 633-644, 2021. DOI: 10.1080/09589236.2021.1929097.

Ligotti, T. The Conspiracy Against the Human Race: A Contrivance of Horror. New York: Hippocampus Press, 2011.

Lovelock, J. E.; Margulis, L. M. Atmospheric homeostasis by and for the biosphere: The Gaia hypothesis. Tellus, v. 26, p. 2-10, 1974.

Lopes, M. V. Pessimismo como postura: o elemento afetivo da tese do pior dos mundos possíveis. Voluntas: Revista Internacional de Filosofia, Santa Maria, v. 10, n. 2, p. 82-95, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.5902/2179378638203. Acesso em: 07 jul. 2025.

Margulis, L. Symbiotic Planet: A New Look at Evolution. New York: Basic Books, 2008.

Oliveira, A. M. G. O antinatalismo benatariano e o pessimismo metafísico de Schopenhauer. Voluntas: Revista Internacional de Filosofia, Santa Maria, v. 15, n. 1, e88376, p. 01-27, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.5902/2179378688376. Acesso em: 07 jul. 2025.

Oliveira, D. P. Movimento de abstinência sexual ganha força após eleição de Trump. Deutsche Welle, 27 nov. 2024. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/movimento-de-abstin%C3%AAncia-sexual-ganha-for%C3%A7a-ap%C3%B3s-elei%C3%A7%C3%A3o-de-trump/a-70888970. Acesso em: 8 jul. 2025.

Olszewski, F. F. Interpretações do conceito de história e da ideia de progresso a partir da obra de Emil Cioran. Revista Aproximação, v. 17, p. 57-69, 2020.

Olszewski, F. F. Pessimismo e Gnose: Schopenhauer, Cioran e a apropriação das religiões anticósmicas. 2024. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2024.

Olszewski, F. Procissão de dor. São Paulo: UICLAP, 2023.

Olszewski, F. Tanatosfera. Exilado Metafísico (blog), 2025. Disponível em: https://www.exiladometafisico.com/2025/06/tanatosfera.html. Acesso em: 07 jul. 2025.

Pádua, J. A.; Saramago, V. O Antropoceno na perspectiva da análise histórica: uma introdução. Topoi (Rio de Janeiro), v. 24, n. 54, p. 659-669, 2023.

Pettman, D.; Thacker, E. Sad Planets. Hoboken: John Wiley & Sons, 2024.

Ramos, F. C. Horkheimer leitor de Schopenhauer: uma tradução e um breve comentário. Cadernos de Filosofia Alemã: Crítica e Modernidade, v. 12, p. 99-113, 2008.

Sagan, D.; Whiteside, J. H. Gradient Reduction Theory: Thermodynamics and the Purpose of Life. In: Schneider, S. H. et al. (Ed.). Scientists Debate Gaia: The Next Century. Cambridge: MIT Press, 2004. p. 17-28. Disponível em: https://doi.org/10.7551/mitpress/9780262194983.003.0017. Acesso em: 19 abr. 2025.

Schmitt, M. Spectres of Pessimism: A Cultural Logic of the Worst. Cham: Palgrave Macmillan, 2023.

Schopenhauer, A. O mundo como vontade e como representação. Tomo I. 2ª ed. Trad. Jair Barboza. São Paulo: Unesp, 2015 (W I).

Schopenhauer, A. O mundo como vontade e como representação. Tomo II 2ª ed. Trad. Jair Barboza. São Paulo: Unesp, 2015 (W II).

Schopenhauer, A. Parerga and Paralipomena. v. 2. Trad. E. F. J. Payne. Oxford: Oxford University Press, 1974 (P II).

Schopenhauer, A. Sobre o fundamento da moral. Trad. Maria Lúcia Cacciola. São Paulo: Martins Fontes, 2001(E II).

Seixlack, A. G. C. Um fazer histórico xamânico: o potencial cosmo-histórico de reconectar territórios no Antropoceno. Topoi (Rio de Janeiro), v. 24, n. 54, p. 725-746, 2023.

Simon, Z. B.; Tamm, M. The Opening of Historical Futures. History and Theory, v. 63, n. 3, p. 303-318, 2024.

Stengers, I. No Tempo das Catástrofes. São Paulo: Cosac Naify, 2015.

Sztutman, R. No limiar entre ciência e ficção: especulação e imaginação para responder ao Antropoceno. In: Marras, S.; Taddei, R. (Org.). O Antropoceno: sobre modos de compor mundos. Belo Horizonte: Fino Traço, 2022. p. 130-185.

Sztutman, R. Perspectivismo contra o Estado. Uma política do conceito em busca de um novo conceito de política. Revista de Antropologia, v. 63, n. 1, p. 185-213, 2020.

Thacker, E. Cosmic Pessimism. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2016.

Thacker, E. In the Dust of This Planet: Horror of Philosophy vol. 1. Winchester: Zero Books, 2011.

Thacker, E. Infinite Resignation. London: Watkins Media, 2018.

Thacker, E. Starry Speculative Corpse: Horror of Philosophy vol. 2. Winchester: Zero Books, 2015.

Van der Lugt, M. Begetting: What Does It Mean to Create a Child? Princeton: Princeton University Press, 2024.

Van Der Lugt, M. Dark Matters: Pessimism and the Problem of Suffering. Princeton: Princeton University Press, 2021.

Downloads

Publicado

2025-11-27

Como Citar

Olszewski, F. F., Lara, J. T. de, & Lopes, G. (2025). Cartografias do desalento: Schopenhauer e a ruína dos mundos futuros. Voluntas: Revista Internacional De Filosofia, 16(1), e93470. https://doi.org/10.5902/2179378693470

Edição

Seção

Estudos Schopenhauerianos (Fluxo Contínuo)