Viagens aos Infernos: a experiência visionária como ensaio para uma filosofia pré e pós humanista

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/2179378656903

Palavras-chave:

Experiência Visionária, Sonhos, Humanismo, Michel Foucault, Swedenborg, Kant.

Resumo

Por que a experiência visionária perturba a filosofia (crítica)? Experimentando uma anarqueologia como procedimento de leitura, argumento que a relação entre filosofia e magia no curso da história ocidental pode ser encenada como uma peça paradoxal. Da mesma maneira que a filosofia racionalista conjura a magia, simultaneamente, tais saberes estiveram presentes de modo polifônico nos bastidores da encenação ilustrada. Para conjurar o demônio é necessário antes evocá-lo. Evoco, assim, o itinerário das viagens aos infernos ao qual certa visão xamanística de alma grega fecunda possibilidades para ensaiarmos um tipo de filosofia pré e pós crítica, onde a experiência visionária aparece posteriormente como pedra no sapato ao pensamento ilustrado, científico e humano. Exemplifico tal questão recorrendo à visão paradoxal de Immanuel Kant quando analisa as experiências visionárias de Emmanuel Swedenborg. Ao reconhecer contemporaneamente a nossa herança legítima como filhos da razão, será preciso reencarnar o lugar bastardo dos sonhos e da mediunidade exorcizada.

 

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Biografia do Autor

Tiago Brentam Perencini, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Marília, SP

Doutorando em Filosofia e História da Educação no Brasil, pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Marília, SP

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Publicado

2021-01-15

Como Citar

Perencini, T. B. (2021). Viagens aos Infernos: a experiência visionária como ensaio para uma filosofia pré e pós humanista. Voluntas: Revista Internacional De Filosofia, 11(3), 100–122. https://doi.org/10.5902/2179378656903