Agro a galope

alegorias da conquista e agrobolsonarismo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/2236672590501

Palavras-chave:

Agronegócio, Bolsonarismo, Branquitude, Cavalos, Soja

Resumo

Este artigo visa explicitar a linguagem alegórica ligada às formas de enunciação política de associações patronais de sojicultores em suas bases no Mato Grosso e na capital federal. A perspectiva etnográfica permite identificar estereótipos mobilizados na disputa pela “agricultura” travada entre a concertação política do agronegócio e os movimentos camponeses e povos e comunidades tradicionais. A alegoria do “gaúcho”, especialmente a imagem do herói a cavalo, corresponde a essa arma discursiva de poder que, operando enquanto estereótipo, tende a marcar a ausência de algo desejável no seu objeto que é justamente o “trabalho braçal” ou práticas laborais ligadas à rusticidade camponesa. A incorporação do cavalo nessas performances públicas, assim como o uso de “fronteira” para designar as áreas de interesse da plantation contemporânea, são mensagens reveladoras da persistência da guerra de conquista colonial.

Downloads

Biografia do Autor

Luciana Schleder Almeida, Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB)

Mestra e doutora em sociologia e antropologia (IFCS / UFRJ). Professora adjunta (nível III, classe C) da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab). Unidade Acadêmica: Instituto de Humanidades e Letras.

Referências

ALMEIDA, L. S. Significados locais da colonização interna no norte mato-grossense. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 23, 2021a. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbeur/a/sStcXbCqXCpX4bvGVMPQtGw/ Acesso dez 2024 DOI: https://doi.org/10.22296/2317-1529.rbeur.202101

ALMEIDA, L. S. Pandemia,“agro” e “sofrência”: jornalismo, propaganda e entretenimento no debate público sobre o modelo agrícola. Estudos Históricos (Rio de Janeiro), v. 34, p. 367-383, 2021b. Disponíve em:https://www.scielo.br/j/eh/a/X65LzqxMQKKG7KGgdDDR9vj/abstract/?lang=pt Acesso em dez. 2024. DOI: https://doi.org/10.1590/s2178-149420210208

BARBUY, H. O Brasil vai a Paris em 1889: um lugar na Exposição Universal. Anais do Museu Paulista, São Paulo, v. 4, 1996. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/anaismp/article/view/5342 DOI: https://doi.org/10.1590/S0101-47141996000100017

BENJAMIN, W. Paris, the capital of the nineteenth century. In: Jennings, H. et al. Selected Writings volume 3. Harvard University Press, 2002.

BENTO, M. A. O pacto da branquitude. Companhia das letras, 2022.

BENTO, M. A. Branqueamento e branquitude no Brasil. In: CARONE, I.; BENTO, M. A. Psicologia social do racismo – estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2002.

BRUNO, R. Bancada ruralista, conservadorismo e representação de interesses no Brasil contemporâneo. In: MALUF, R.; FLEXOR, G. (orgs.). Questões agrárias, agrícolas e rurais. Rio de Janeiro: E-papers, 2017.

BOSCATTI, Ana Paula; ADELMAN, Miriam. De cavalos e homens: história, poder, estratégias e representações. Estudos de Sociologia, v. 25, n. 49, 2020. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/estudos/article/view/14100 Acesso em dez 2024 DOI: https://doi.org/10.52780/res.14100

CASANOVA, P. G. Colonialismo interno (uma redefinição). In: BORÓN, A. et al. A teoria marxista hoje. São Paulo: Clasco, 2007. p. 431-458. Disponível em: http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/clacso/formacion-virtual/20100715084802/cap19.pdf. Acesso em dez 2024.

CHAMPAGNE, Patrick. La manifestation. La production de l'événement politique. Actes de la recherche en sciences sociales, v. 52, n. 1, p. 19-41, 1984. DOI: https://doi.org/10.3406/arss.1984.3329

COMERFORD, John. Produzindo moralidades: dilemas, polêmicas e narrativas em terras do “agronegócio”. In: WERNECK, A.; DE OLIVEIRA, L. (Orgs.). Pensando bem: estudos de sociologia e antropologia da moral. Casa da Palavra, p. 156-181, 2014.

CORDEIRO, M. S. S. Pioneiros, fundadores e aventureiros – a ocupação de terra em Rondônia. Revista de Antropologia, v. 61, n. 1, p. 125-146, 2018. Disponível em: https://revistas.usp.br/ra/article/view/145519 Acesso em dez. 2024. DOI: https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2018.145519

CRAICE DA SILVA, C.; ALMEIDA, L. As águas do Rio Arrojado: disputa entre a monocultura de commodities e os modos de vida tradicionais dos Fundos e Fechos de Pasto. Revista Mutirõ. Folhetim de Geografias Agrárias do Sul, [S. l.], v. 4, n. 3, p. 260–268, 2024. DOI: 10.51359/2675-3472.2023.260808. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/index.php/mutiro/article/view/260808. Acesso em: 4 jul. 2024. DOI: https://doi.org/10.51359/2675-3472.2023.260808

DU BOIS, C.; TAN, C.; MINTZ, S. Introduction: the significance of soy. In: DU BOIS, C.; TAN, C.; MINTZ, S. The world of soy. Chicago: University of Illinois Press, 2008. p. 1-23.

ELIAS, D.; PEQUENO, R. Desigualdades socioespaciais nas cidades do agronegócio. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 9, n. 1, p. 25-39, maio de 2007. Disponível em: https://rbeur.anpur.org.br/rbeur/article/view/168. Acesso em dez. 2024. DOI: https://doi.org/10.22296/2317-1529.2007v9n1p25

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Soja em números. Disponível em: https://www.embrapa.br/soja/cultivos/soja1/dados-economicos. Acesso dez. 2024.

FREEMAN, S. T. Neighbors: the social contract in a Castilian Hamlet. Chicago: University of Chicago Press, 1971.

FERREIRA, C. A. Difusão do conhecimento científico e tecnológico no Brasil na segunda metade do século XIX: a circulação do progresso nas exposições universais e internacionais. 2011. 299 p. Tese (Doutorado em História das Ciências e da Saúde) – Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/16341 Acesso em dez. 2024.

GERHARDT, C. Agronegócio" desde o gene até o meme": a invasão do vírus/totem agro. Mana, v. 27, n. 3, p. e273206, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/mana/a/CB4DdpWntGr9ypDFygTNrct/?format=pdf&lang=pt Acesso em dez. 2024. DOI: https://doi.org/10.1590/1678-49442021v27n3a206

GUIMARÃES, D. A celebração da modernidade: a feira e a festa nas exposições agropecuárias do nordeste paulista. 1996. 211 p. Tese (Doutorado em História Social) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996.

HEREDIA, B.; PALMEIRA, M.; LEITE, S. P. Sociedade e economia do “agronegócio” no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 25, n. 74, p. 159-196, out. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v25n74/a10v2574.pdf. Acesso em: 30 ago. 2019. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-69092010000300010

HERZFELD, Michael. Cultural intimacy: Social poetics in the nation-state. Routledge, 2014. DOI: https://doi.org/10.4324/9780203826195

KLUG, João. A Exposição Nacional do Rio de Janeiro (1875) e os seus impactos na produção agropecuária e nas ciências naturais. In: NODARI, Eunice. S.; KLUG, João. (Orgs.). História Ambiental e Migrações. São Leopoldo: Oikos, 2012, p. 139-150.

LEAL, F. O. Os Gaúchos: cultura e identidade masculinas no pampa. Porto Alegre: Tomo, 2021.

LEAL, N. S. “É de agronegócio!”: circuitos, relações e trocas entre peões de manejo, peões de rodeio e tratadores de gado em feiras agropecuárias. 2008. 174f. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. Disponível em : https://repositorio.usp.br/item/001732263 Acesso em dez. 2024.

LEITE, S. P.; WESZ JR., V. J. Políticas públicas para o financiamento do agronegócio no Brasil:programas, instrumentos e resultados com ênfase no caso de Mato Grosso. In: BÜHLER, E.; GUIBERT, M. OLIVEIRA, V. L (org.) Agriculturas empresariais e espaços rurais na globalização: abordagens a partir da América do Sul. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2016. p.105-124. DOI: https://doi.org/10.7476/9786557250044.0006

MARQUES, A. C. D. Pioneiros de Mato Grosso e Pernambuco. Novos e velhos capítulos da colonização no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, n. 83, 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbcsoc/a/YyxvXCr77yRxVtPRGCcgTpz/ Acesso em dez. 2024. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-69092013000300006

MARTINS, J. S. Capitalismo e tradicionalismo. São Paulo: Livraria Pioneira, 1975.

MBEMBE, Achille. The Banality of Power and the Aesthetics of Vulgarity in the Postcolony. The Anthropology of the State: a reader, v. 4, p. 381-400, 2006.

MEYER, Gustavo; GERHARDT, Cleyton. Dos intrépidos gaúchos aos responsáveis homens de camisa azul: moralidade, sociabilidade e hierarquia na sociedade do agronegócio. Dados, v. 67, p. e20220080, 2023. Disponível em: https://www.scielo.br/j/dados/a/qPp6GRRqHgf55XqvxVrwLkp/abstract/?lang=pt Acesso em dez. 2024. DOI: https://doi.org/10.1590/dados.2024.67.4.337

MIES, M. Patriarchy & Accumulation on a world scale: women in the Internacional division of labour. Zed Books, 1998.

MINTZ, S. Dulzura y poder. México: Siglo XXI, 1996.

MONBEIG, P. Pioneiros e fazendeiros de São Paulo. São Paulo: Hucitec, 1998.

NEVES, M. As vitrines do progresso. Rio de Janeiro: PUC-Rio/FINEP/CNPq, 1986.

OLIVEN, R. G. A tradição revisitada: a (re)construção da identidade gaúcha no Brasil moderno. In: MATO, D. (org.). Teoria y política de la construcción de identidades y diferencias en America Latin y el Caribe. Caracas: Nueva Sociedad, 1994.

PITT-RIVERS, Julian. The place of grace in anthropology. HAU - Journal of Ethnographic Theory, v. 1, n. 1, p. 423-450, 2011. Disponível em: https://www. journals.uchicago.edu/doi/full/10.14318/hau1.1.017. Acesso em: 26 abr. 2023. DOI: https://doi.org/10.14318/hau1.1.017

POMPEIA, C. Concertação e Poder: o agronegócio como fenômeno político no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v.35, n. 104, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbcsoc/a/bWNJXhwGrcqZRqjJF6rD5pv/?lang=pt Acesso em dez. 2024. DOI: https://doi.org/10.1590/3510410/2020

POMPEIA, Caio. Agri-bolsonarism: a movement led by agricultural elites and far-right politicians in Brazil. The Journal of Peasant Studies, p. 1-25, 2024. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/03066150.2023.2301440. Acesso em dez. 2024.

SANDAJ, N. Exposições internacionais: uma abordagem historiográfica a partir da América Latina. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, vol. 24, n. 3, 2017.Disponível em: https://www.scielo.br/j/hcsm/a/Gfjz6kn7bGspj83MFdbWpRt/abstract/?lang=pt Acesso em dez. 2024. DOI: https://doi.org/10.1590/s0104-59702017000300013

SANTI, A. Do Partenon à Califórnia: o nativismo e suas origens. Porto Alegre: UFRGS, 2004.

SEVCENKO, Nicolau. Alegorias da experiência marítima e a construção do europocentrismo. In: Raca e Diversidade. São Paulo: Edusp/Estação Ciência, 1996.

SEYFERTH, G. Imigração e cultura no Brasil. Brasília: Ed. da UnB, 1990.

THOMAZ, O. R. “O bom povo português”: usos e costumes d’aquém e d’além-mar. Mana, v. 7, n.1, 2001. Disponível em: https://www.scielo.br/j/mana/a/9fHVhR4wrPLgPpRCNCPY85p/ Acesso em dez. 2024. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-93132001000100004

TSING, Anna. Viver nas ruínas: paisagens multiespécies no Antropoceno. Brasília: IEB Mil Folhas, p. 119-123, 2019.

WALLACE, Rob. Pandemia e agronegócio: doenças infecciosas, capitalismo e ciência. Editora Elefante, 2020.

WOLFORD, Wendy. The Plantationocene: A lusotropical contribution to the theory. Annals of the American Association of Geographers, v. 111, n. 6, p. 1622-1639, 2021. DOI: https://doi.org/10.1080/24694452.2020.1850231

Downloads

Publicado

2024-12-27

Como Citar

Almeida, L. S. . (2024). Agro a galope: alegorias da conquista e agrobolsonarismo. Século XXI – Revista De Ciências Sociais, 14(2), 91–108. https://doi.org/10.5902/2236672590501

Edição

Seção

Dossiê