Pode o Sul ser meu país? Nacionalismo, identidade nacional e separatismo no sul do Brasil
DOI:
https://doi.org/10.5902/2357797593213Parole chiave:
O Sul é o Meu País, Identidade Nacional, Nacionalismo, SeparatismoAbstract
Este artigo analisa o movimento separatista O Sul é o Meu País a partir de teorias do nacionalismo (especialmente Ernst Renan, Ernest Gellner, Benedict Anderson e Eric Hobsbawm). Diferentemente de estudos que privilegiam a viabilidade econômica ou jurídica do movimento, o foco aqui é identificar os ecos de uma identidade sulista em oposição à identidade nacional brasileira. Para tanto, adotamos uma abordagem qualitativa e interpretativa, articulando revisão crítica de teorias clássicas do nacionalismo com análise histórico-discursiva do movimento. O percurso analítico envolve: a) examinar o acoplamento histórico entre Estado e nação na formação de um tipo específico de unidade política; b) discutir o desenvolvimento de uma identidade nacional “oficial” brasileira e suas implicações; c) confrontar essa identidade nacional com a autoimagem mobilizada pelo movimento OSMP, em diálogo com o processo histórico de formação da região; e d) avaliar a inviabilidade jurídico-política do movimento à luz desses elementos. Argumenta-se que a reivindicação de independência é apresentada como destino natural da região e, mesmo sem viabilidade jurídica ou política, mantém relevância na formação de um imaginário político local – seja como “comunidade imaginada” ou “tradição inventada”. Nesse sentido, as contribuições teóricas examinadas oferecem instrumentos para compreender os sulistas como uma nação em si, embora tal reconhecimento não implique, dada a irrelevância política prática do movimento, qualquer possibilidade de realização de seus objetivos separatistas.
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