4° Dossiê Temático (2026): Crítica literária afrorreferenciada: acordar os da Casa Grande

2025-11-17

Organizadores:

Prof. Dr. Alexandre Fernandes (IFBA)

Profa. Dra. Mariana Fernandes dos Santos (IFBA)

Prof. Dr. Gildeci de Oliveira Leite (UNEB / PPGEL)

Prof. MsC. Nkembo Olugbala Silva Santos (UFBA)

 

 

A presente chamada da Revista InterAção (ISSN: 2357-7975) se interessa por estudos que tenham como temática uma crítica literária afrorreferenciada. O que ocorreria se uma cosmovisão negro-diaspórica enfeitiçasse “essa estranha instituição chamada Literatura” (Derrida, 2014) e, à moda de um ebó de palavras e um contregum literário (Nkembo Olugbala Santos, 2021), interpelasse a crítica? Que poderes emanariam de uma estética do ronkó e de um “quilombismo / dum povo / todo / que nem alcunha pessoa / guardava guarida / mas se fez alafiar” (Nascimento, 2018, p.56)? E se saberes que vem de longe, consoante com uma lírica-preta não fetichista (Morrison, 2019), produzissem uma demanda epistêmica outra (Fernandes, 2023)? Potencialmente, os artigos acolhidos nessa chamada eletrônica, podem ofertar à Academia: (i) epistemes outras – resultado de um corpo-a-corpo com uma linguagem ancestral, da camarinha ao ronkó, do padê às encruzilhadas, do marafo ao pó de pemba, ressignificando narrativas e rasurando a metafísica ocidental, fortemente contrariando regimes neopatriarcais e neocoloniais; (ii) uma outra sintaxe, uma gramática crítica e política, assentada no feminismo negro, na decolonialidade, nos estudos de terreiro e cuier, colaborando para rasurar discursos de ódio e fundamentalismos cada vez mais crescentes em nossa sociedade; (iii) uma crítica de textos literários, cuja trajetória se aproxime e se diferencie das ciências diversas (história, sociologia, semiótica, estruturalismo, pós-estruturalismo, desconstrução, pós-colonialismo, psicologia, psicanálise, filosofia, estudos da recepção) e, sobretudo, que, rasure a branquitude e a positividade das Luzes, como uma das práticas mais bem-sucedidas do racismo na Literatura e na Crítica; (iv) análises de literatura em campo expandido, cujas metodologias de pesquisa e análise contracoloniais, não-hegemônicas, levem à sério o hálito da benzedeira, a força das correntezas, o epô perfumado de Odara, encantarias de exus e pretos velhos dos terreiros, mitos de Lègba do Vodum Daomeano, a folha de arruda e o poder da cabaça, o dendezeiro e a adicissa, as caboclas e o axé dos boiadeiros, o Corpus Literário de Ifá, corpo da tradição oral iorubá, contrapondo-se à “violência distópica contra corporalidades [e epistemologias] negras, indígenas, trans e desobedientes de gênero” (Mombaça, 2021). Em termos outros, estimulada por uma “negroesia” (Cuti, 2007, p. 29), esta chamada se interessa por escritas que incomodem os da casa grande (Evaristo, 2020) e reposicione a Crítica Literária, pois ora, assimetrias e desigualdades não são falha da sociedade, mas, matéria de que esta é feita.

 

Prazo final para envio dos textos: 31 de julho de 2026.

UTI. Negroesia. Em: Negroesia (antologia poética). Belo Horizonte: Mazza Edições, 2007.

DERRIDA, Jacques. Essa estranha instituição chamada literatura: uma entrevista com Jacques Derrida. Trad. Marileide Dias Esqueda. Revisão técnica e introdução de Evando Nascimento. Belo Horizonte: UFMG, 2014. 

EVARISTO, Conceição. “Da grafia-desenho de minha mãe, um dos lugares de nascimento de minha escrita”. In: DUARTE, Constância Lima & NUNES, Isabella Rosado (org.). Escrevivência: a escrita de nós. Reflexões sobre a obra de Conceição Evaristo. Rio de Janeiro: Mina Comunicação e Arte, 2020.

FERNANDES, Alexandre. Literatura à demanda de Exu ou notas para a desconstrução da literatura. UNEB: Revista Tabuleiro de Letras, v. 17, n. 01, p. 99-112, 2023.

MOMBAÇA, Jota. Não vão nos matar agora. Rio de Janeiro: Cobogó, 2021.

SANTOS, Nkembo Olugbala Silva Contreguns literários em giras de autopublicação: negras escrevivências. Revista Eletrônica Espaço Acadêmico (Online), v. 20, p. 28-41, 2021.

 

 

Sobre os organizadores:

 

Prof. Dr. Alexandre Fernandes (IFBA)

Doutor em Ciências da Literatura (UFRJ). Professor de Língua Portuguesa e Literatura do IFBA/Porto Seguro. Atualmente desenvolve pesquisa de pós-doutorado intitulada “Muniz Sodré e a crítica literária: epistemologias de arkhé”, sob a supervisão do prof. Dr. Gildeci de Oliveira Leite, no Programa de Pós-graduação em Linguagem (PPGEL) da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).

 

Profa. Dra. Mariana Fernandes (IFBA)

 

Filha de Dona Nalva e Mãe de Ana Flor. Egressa de escola pública. Escritora. Doutora em Ensino, Filosofia e História das Ciências. Mestra em Estudo de Linguagens. Especialista em Literatura Africana, Indígena e Latina.Especialista em Ensino de Língua Portuguesa e Literatura .Especialista em Educação a Distância.Possui licenciatura em Letras e em Pedagogia. Docente de Língua Portuguesa e Literatura do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia- IFBA , atua na Educação Profissional e Tecnológica e Currículo Integrado, nos níveis/forma Ensino Técnico Integrado ao Médio, Técnico Subsequente, Graduação e Pós-Graduação. Docente permanente do Mestrado em Educação Profissional e Tecnológica - PROFEPT do IFBA e do Programa de Pós-graduação em Ensino e Relações Étnico-Raciais - PPGER - UFSB. Atuou como Leitora Crítica do PNLD 2020 (MEC). Colunista da revista África e Africanidades (ISSN 1983-2354). Diretora Acadêmica do IFBA-Eunápolis (2019.2-2023.2). Pesquisadora (PD) e orientadora (iniciação tecnológica) do projeto Inovar para Pessoas Negras (parceria IFBA-UFBA-NUBANK- ensino, pesquisa e extensão) (2023-2024). Desenvolve estudos em grupos de pesquisas do IFBA ( Líder do grupo de pesquisa GEICES) e interinstitucionais(Educação Transversal), nas áreas de Educação Profissional e Tecnológica, Currículo, Processos formativos docentes, discentes e de outros/as profissionais da educação, Educação, Inovação e Tecnologias Sociais, Análise de discursos em contra-colonialidades e Linguística Aplicada, atuando principalmente nos seguintes temas: Política linguística, Educação Linguística, Letramentos, Interculturalidade, contra-colonialidades, Gênero, Educação das/para relações Étnico-raciais e Diversidade sexual. Membra da Associação Brasileira de Pesquisadoras/es Negras/os (ABPN). Membra da Associação de Linguística Aplicada do Brasil (ALAB). Membra da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação - ANPED. Membra do Coletivo Escritoras Negras e do Coletivo Escritores da Editora África e Africanidades. Membra da Associação Brasileira de Estudos Africanos - ABEÁfrica. Foi membra das comissões de trabalho no IFBA para implantação dos NEABis e Bancas de Heteroidentificação. Membra de Bancas Heteroidentificação. Coordenadora do NEABI- IFBA- Eunápolis (2021-2025). Conselheira no Conselho Geral de NEABis-IFBA. Foi membra da comissão que construiu a Política de Prevenção e Enfretamento ao Assédio Sexual e Moral no IFBA.

 

Prof. Dr. Gildeci de Oliveira Leite (UNEB / PPGEL)

 

Doutor em Difusão do Conhecimento pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Docente permanente do Programa de Pós-graduação em Estudo de Linguagem (PPGEL) – UNEB, e de Literatura no curso de Licenciatura em Língua Portuguesa e Literaturas da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).

 

Prof. MsC. Nkembo Olugbala Silva Santos (UFBA)

 

Kumbeyro. Licenciado em Letras (UESB). Mestre em Relações Étnicas e Contemporaneidade. Doutorando em Estudos Étnicos e Africanos pelo Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Estudos Étnicos e Africanos (POSAFRO) da Universidade Federal da Bahia (UFBA).