“Num dia comum de hoje”. Transfigurações entre discursos de reivindicação da ditadura em 1975 e em 2019

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/2179219438817

Palavras-chave:

discurso político, relações parafrásticas, ditadura militar brasileira, governo Bolsonaro

Resumo

Abordamos comparativamente duas peças audiovisuais produzidas, uma em 1975 e outra em 2019, para comemorar laudatoriamente o golpe militar de 1964 no Brasil. A análise focaliza pontos obscuros relativos à sua realização, divulgação e filiação institucional; a interlocução posta em cena; a narrativa repetida; a estabilização de alguns objetos de discurso, e, no caso do vídeo de 2019, uma fissura na sintaxe. Encontramos entre os dois vídeos nítidas relações parafrásticas, mas também anacronismos e diferenças relevantes que dizem respeito às formações imaginárias na interlocução, à construção das entidades em conflito e às modalidades de ênfase e refutação. A partir dos resultados, hipotetizamos o atravessamento atual da regularização de um discurso militarista e autoritário por traços específicos de movimentos recentes.

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Biografia do Autor

Adrián Pablo Fanjul, Universidade de São Paulo (USP) Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

Professor Associado no Departamento de Letras Modenras da Universidade de São Paulo. Pesquisador com Bolsa de Pordutividade em Pesquisa nível 2 do CNPq.

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Publicado

2020-02-10 — Atualizado em 2022-03-24

Versões

Como Citar

Fanjul, A. P. (2022). “Num dia comum de hoje”. Transfigurações entre discursos de reivindicação da ditadura em 1975 e em 2019. Fragmentum, (54), 71–94. https://doi.org/10.5902/2179219438817 (Original work published 10º de fevereiro de 2020)