“Olha eu chorando e dando porrada na mesa”: consumo cultural e violência naturalizada contra as mulheres em letras de sertanejo
DOI:
https://doi.org/10.5902/2316882X84947Palavras-chave:
Consumo cultural, Sertanejo, Comunicação, Indústria Cultural, Violência contra a mulherResumo
O presente artigo busca compreender como o consumo cultural da música sertaneja contribui para a perpetuação de uma violência naturalizada contra as mulheres. Para isso, adota três perspectivas teóricas que se mostram profícuas ao entendimento do fenômeno: a) uma compreensão que toma o consumo da indústria como instituidor de relações (Canclini, 1997); b) uma problematização da relação entre indústria sertaneja e gênero, nos contextos relacionais contemporâneos (Esteban, 2007); e c) uma reflexão sobre a indústria do sertanejo e as emoções, na perspectiva da experiência estética de Gumbrecht (2010). A partir de uma metodologia inspirada nas análises sobre emoções propostas por Illouz (2009) e Esteban (2007), foi selecionado um corpus com 6 (seis) letras de 3 (três) artistas, a fim se observar como a indústria cultural se apropria das emoções e as transforma em um objeto de consumo. Os resultados apontam que a violência contra mulher, embora esteja presente nas letras, se mostra latente no modo como são consumidas, sobretudo a partir de determinados elementos rítmicos de presença, perpetuados por uma lógica industrial de mercado. Tal latência colabora para que não se abram espaços de discussões mais aprofundadas sobre tais violências, no contexto das relações contemporâneas de consumo.
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