Anistia e (in)justiça no Brasil: o dever de justiça e a impunidade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/1679849X73980

Palavras-chave:

Anistia, Ditadura civil-militar brasileira, Memória e justiça, Memória e direito, Perlaboração do passado

Resumo

O artigo trata das aporias implicadas na memória da ditadura civil-militar brasileira de 1964-1985. Ele analisa a diferença entre o conceito inicial implícito nas reivindicações pela anistia por parte da oposição e, por outro lado, a anistia de 1979, imposta pelos agentes da ditadura. Esta anistia implicou até hoje a impunidade dos crimes praticados pelo terrorismo de Estado. O texto apresenta a necessidade existente no trabalho da memória após regimes de exceção de se trazer a verdade à tona assim como de se levar adiante um "dever de justiça". Apenas por este processo a sociedade pode tentar construir uma democracia e um Estado de Direito. A obliteração da memória e o impedimento do trabalho da justiça levam a sociedade a permanecer presa ao seu passado e a repetir a mesma estrutura violenta. O texto ainda analisa os versos da música "Angélica" de Chico Buarque como uma modalidade de trabalho da memória traumática da ditadura.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Márcio Seligmann Silva, Universidade Estadual de Campinas

Doutorado em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Freie Universität Berlin e pós-doutor pelo Zentrum Für Literaturforschung Berlim e por Yale

Referências

AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção, trad. I. Poleti, São Paulo: Boitempo, 2004.

AMÉRY, Jean. "Die Tortur", in: Werke, vol. II, Stuttgart: Klett-Cotta, 2002.

BARTOV, Omer, GROSSMANN, Anita, NOLAN, Mary. "Introdução", in: BARTOV, Omer, GROSSMANN, Anita, NOLAN, Mary (orgs.) Crimes de guerra: culpa e negação no Século XX, trad. R. Rezende, Rio de Janeiro: Difel, 2005.

BENJAMIN, Walter. "Zur Kritik der Gewalt", in: Gesammelte Schriften, org. por R. Tiedemann und H. Schweppenhäuser, Frankfurt a.M.: Suhrkamp, vol. II: Aufsätze, Essays, Vorträge, 1974. Pp. 179-203.

BICUDO, Hélio. "Lei da Anistia e crimes conexos" [Folha de S.Paulo 6.12.1995, p. 3] in: Janaína Teles (org.), Mortos e desaparecidos políticos: Reparação ou impunidade? , São Paulo: Humanitas, segunda edição 2001. 85-87.

CELAN, Paul. Sete rosas mais tarde. Antologia poética, trad. J. Barrento, edição bilíngüe, segunda edição, Lisboa: Cotovia, 1996.

COMPARATO, Fábio Konder. "A responsabilidade do Estado Brasileiro na questão dos desaparecidos durante o regime militar" [1995], in: Janaína Teles (org.), Mortos e desaparecidos políticos: Reparação ou impunidade? , São Paulo: Humanitas, 2ª ed., 2001. p. 55-63.

DALLARI, Dalmo de Abreu. "Crimes sem anistia" [Folha de S.Paulo, 18.12.1992, p.3], in: Janaína Teles (org.), Mortos e desaparecidos políticos: Reparação ou impunidade? São Paulo: Humanitas, 2ª ed., 2001. p. 31-33.

DERRIDA, Jacques. Force de Loi, Paris: Galilée, 1994.

DERRIDA, Jacques. Pardoner: l'impardonable et l'imprescriptible, Paris: L'Herne, 2005.

DORFMAN, Ariel. A morte e a donzela, trad. Marcos Renaux, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

ÉSQUILO, Oréstia. Agamêmnon, Coéforas, Eumênides, trad. Mário da Gama Kury, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 6a. ed., 2003.

FREUD, Sigmund. "Recordar, repetir e perlaborar" [1914], in: Obras psicológicas completas, Standard ed., Rio de Janeiro: Imago, XII, p. 159-172.

IDOETA, Carlos Alberto. "Verdade e reconciliação" [1995], in: Janaína Teles (org.), Mortos e desaparecidos políticos: Reparação ou impunidade? , São Paulo: Humanitas, 2ª ed., 2001. p. 73-76.

MARTINS FILHO, João Roberto. "A memória militar sobre a tortura", in: Janaína Teles (org.), Mortos e desaparecidos políticos: Reparação ou impunidade? , São Paulo: Humanitas, 2ª ed., 2001. p. 109-115.

NEHRING, Marta. "Carta aos torturadores" [Folha de S.Paulo, 31.03.1999, p. 3], in: Janaína Teles (org.), Mortos e desaparecidos políticos: Reparação ou impunidade? , São Paulo: Humanitas, 2ª ed., 2001. p. 125-127.

NIETZSCHE, F. Jenseits von Gut und Böse, Zur Genealogie der Moral. Eine Streitschrift, in: Kritische Studienausgabe, org. G. Colli e M. Montinari, München: DTV/ Berlin-New York: Walter de Gruyter, vol. 5, 1988.

NIETZSCHE, F. Genealogia da Moral. Uma polêmica, trad. Paulo C. Souza, S. Paulo: Companhia das Letras, 1998.

REIS FILHO, Daniel Aarão. "A anistia recíproca no Brasil ou a arte de reconstruir a História" [Jornal da Tarde, São Paulo, 28.08.1999, p. 3], in: Janaína Teles (org.), Mortos e desaparecidos políticos: Reparação ou impunidade? São Paulo: Humanitas, 2ª ed., 2001. p. 131-137.

Remate de Males. Revista do Departamento de Teoria Literária do IEL, UNICAMP, 26.1, janeiro-junho/2006. Dossiê "Literatura como uma arte da memória".

SELIGMANN-SILVA, Márcio. "Walter Benjamin: o Estado de Exceção entre o político e o estético." In; outra travessia. Revista de Literatura, n. 5, 2º. semestre de 2005a. Curso de Pós-Graduação em Literatura. Centro de Comunicação e Expressão. UFSC, p. 25-38.

SELIGMANN-SILVA, Márcio. "Literatura e trauma: um novo paradigma", in: M. Seligmann-Silva, O local da diferença. Ensaios sobre memória, arte, literatura e tradução, São Paulo: Editora 34, 2005b. p. 63-80.

Downloads

Publicado

2007-01-01

Como Citar

Silva, M. S. (2007). Anistia e (in)justiça no Brasil: o dever de justiça e a impunidade. Literatura E Autoritarismo, (9). https://doi.org/10.5902/1679849X73980