v. 36 n. 1 (2023): Desinformação, Extrema Direita e Manipulação
Em 2016, a expressão fake news se popularizou, durante a campanha de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. No ano seguinte, o termo foi eleito a palavra do ano pelo Dicionário britânico Collins. Apesar de popular, a expressão não é a mais adequada para se referir ao fenômeno da desinformação, que abarca conteúdos produzidos para confundir, enganar, lucrar ou engajar em uma causa. Não são apenas conteúdos falsos que fazem parte dessa desordem informacional, característica da denominada era da pós-verdade. Paródias, sátiras, conexões falsas entre manchetes e “notícias”, vídeos, imagens manipuladas, material impostor que imita fontes credíveis são parte desse ecossistema.
Grande parte desses conteúdos é produzida por grupos de extrema direita interessados em usar os algoritmos das plataformas de mídias digitais para arrebanhar militantes, minando democracias ao redor do mundo. As bolhas e ‘câmaras de eco’ desse ecossistema desinformativo são mantidas por meio de discursos de ódio que criam uma realidade paralela, com ataques às instituições e seus representantes. Ciência, imprensa e os poderes que constituem a democracia são atacados, descredibilizados e transformados em inimigos a ser combatidos. O problema é que esse processo não fica restrito à internet, saindo para as ruas por meio de atentados, atos terroristas, mortes. É inegável o papel da manipulação das massas, presente em movimentos fascistas em diferentes períodos da história, agora ampliados por meio das redes digitais.
Para dar visibilidade à relação entre a desinformação, extrema direita e manipulação, a Revista Sociais e Humanas, do Centro de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Federal de Santa Maria realiza uma chamada de artigos para compor um Dossiê Temático, no qual se busca refletir sobre as causas, consequências e possíveis soluções para o problema.