Cooperação internacional para o combate à fome: desafios entre Brasil, Angola e Moçambique
DOI:
https://doi.org/10.5902/2357797591208Palavras-chave:
Angola, Cooperação Sul-Sul, Desenvolvimento rural, Insegurança alimentar, MoçambiqueResumo
A cooperação internacional, fundamentada no princípio da reciprocidade, torna-se um instrumento crucial para o enfrentamento de desafios compartilhados dentro do sistema internacional. Este artigo tem como objetivo analisar a cooperação entre Brasil, Angola e Moçambique no combate à fome, afim de identificar se a cooperação tem atuado como instrumento atenuante ou agravante da insegurança alimentar. A pesquisa está guiada pelo seguinte questionamento: por que as iniciativas de combate à fome em Angola e Moçambique não alcançaram resultados significativos sob o enfoque da cooperação brasileira? A pesquisa é explicativa, sendo assim, de caráter qualitativo. Tem como instrumentos de pesquisa a análise documental e bibliográfica, guiada pelo método hipotético-dedutivo e comparativo. A delimitação da pesquisa abrange a cooperação bilateral para o combate à fome entre Brasil, Angola e Moçambique, durante o período de 2005 a 2024. Angola e Moçambique se destacam como dois dos principais beneficiários da cooperação brasileira no continente africano, e o ano de 2005 foi marcado por um aumento significativo no número de projetos desenvolvidos por agências brasileiras de cooperação. Com o estudo concluiu-se que a persistência da insegurança alimentar em Angola e Moçambique está calcada na falta de subsídios ao fortalecimento da agricultura familiar como produtora e fornecedora de alimentos; na instabilidade das capacidades estatais destes países, as quais estão centradas nos interesses das elites políticas em primazia, ante o fortalecimento imediato de políticas assertivas de combate à fome; e na conversão da cooperação internacional em mera assistência técnica incapaz de produzir efeitos estruturantes de longo prazo.
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