Alterações microclimáticas e perfil térmico no território quilombola Morro de São João, Tocantins
DOI:
https://doi.org/10.5902/2236499464403Palavras-chave:
Temperatura do ar, Microclimas, Transecto móvel, Quilombo, AgronegócioResumo
A Comunidade Quilombola Morro de São João, no sul do Tocantins, foi reconhecida em 2006, embora seu processo de regularização fundiária ainda não tenha sido concluído. Em razão disso, seu território passou a ser incorporado pelo agronegócio, sobretudo pela pecuária bovina e sojicultura, implicando em mudanças ambientais relacionadas a novas formas de ocupação, uso e cobertura do solo. A retirada da vegetação do bioma Cerrado é um dos fatores percebidos pelos quilombolas para a alteração do clima, com destaque para a elevação das temperaturas do ar. A partir dessa perspectiva, este trabalho teve como foco a abordagem microclimática por meio de transectos móveis pelo referido território, com ênfase na temperatura do ar. Mais especificamente, buscou-se investigar a relação dessas temperaturas com a paisagem no entorno dos pontos de coleta, considerando seus usos por quilombolas ou pelo agronegócio. Foram realizados registros em episódios nas quatro estações do ano, entre 2019 e 2020. Os resultados revelaram particularidades de acordo com os horários do dia, o período do ano, os tipos de tempo e o uso e cobertura do solo no percurso. Destacou-se a ocorrência de maiores temperaturas à tarde sobre áreas de lavouras e pastagens (médias dos episódios acima de 35°C, em comparação com médias nas faixas de 33°C e de 34°C em áreas quilombolas e de cerrado), em especial sob condições de estabilidade atmosférica. Já à noite, os valores tendem a se manter sutilmente mais altos sobre as áreas de moradia dos quilombolas, entre outros motivos pela maior retenção de calor (médias dos episódios na faixa de 25°C, em comparação com médias na faixa de 24°C em áreas sob domínio do agronegócio e áreas de cerrado). Assim, as mudanças ambientais relacionadas às diferentes apropriações do território se refletem no mosaico de microclimas, o que nos remete à qualidade de vida e ao papel da vegetação nativa para as comunidades tradicionais.
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