E quando não eram fake news? Boato e cisma sobre vacinação no Brasil de 1999/2000

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/2175497772282

Palavras-chave:

Boato, Gripe, Vacinação

Resumo

Este artigo tem o objetivo de analisar como é produzido um problema público quando não havia desinformação no sistema classificatório vigente no período da vacinação para idosos nos anos de 1999 e 2000. Para tal, realizamos uma pesquisa documental na Hemeroteca Nacional, nos acervos e nas páginas dos jornais de grande circulação da época, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo, O Globo e O Estado de S. Paulo. Vimos que as notícias além de tentarem consensualizar   representações sobre a campanha e seu público-alvo, também buscavam desmentir boatos acionando diferentes atores para conceder legitimidade à narrativa. Nesse sentido, discutimos o que é boato e suas principais diferenças para compreender o que vem a ser desinformação. 

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Biografia do Autor

Hully Guedes Falcão, Fundação Oswaldo Cruz

Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), mestrado em Sociologia pela Universidade Federal Fluminense (PPGS/UFF) e doutorado em Antropologia pelo PPGA/UFF. Atualmente é pesquisadora de pós-doutorado no Laboratório de Comunicação e Saúde e no Programa de Pós-graduação em Informação e Comunicação em Saúde (ICICT/FIOCRUZ). Realizou pesquisa de pós-doutorado com bolsa da CAPES vinculada ao Instituto Nacional de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos (INCT-InEAC) e ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense (PPGA/UFF). É pesquisadora associada ao Núcleo de Estudos em Comunicação, História e Saúde (NECHS - Fiocruz/UFRJ), ao Núcleo Fluminense de Estudos e Pesquisa (NUFEP/UFF-InEAC) e ao Núcleo de Estudos Estratégicos de Circulação e Políticas Científicas (NEECPC/CITE-LAB/UFF). É professora no curso de Tecnólogo em Segurança Pública na UFF/CEDERJ, participando da coordenação dos grupos de iniciação cientifica nos diferentes polos do CEDERJ através do Laboratório de Iniciação Acadêmica e Científica (LABIAC), junto a isso integra o comitê editorial da Revista Campo Minado: estudos acadêmicos em Segurança Pública. Integrou entre 2016 e 2017 a Comissão de Integridade Científica do Instituto Oswaldo Cruz-IOC Fiocruz. Foi Bolsista Doutorado FAPERJ NOTA 10 de 07/2016 a 07/2018. Tem experiência na área de Antropologia, com ênfase em Antropologia da Política e do Estado, Antropologia do Direito e Teoria Antropológica, atuando principalmente nos seguintes temas: regulação da ética em pesquisa, controle, governança científica, conflitos, segurança pública, populações costeiras e territorialidades.

Flávia Leiroz, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Graduada em Jornalismo pelo Centro Universitário da Cidade (1990), mestrado (1995) e doutorado (2011) em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio, sob orientação da Profª. Drª Heidrun Krieger Olinto. Sua pesquisa abrangeu questões sobre narrativas autobiográficas, teóricas e relações entre jornalismo, história e literatura. Ministrou aulas para cursos de Comunicação Social, trabalhou como assessora de comunicação, jornalista e coordenadora de programa de Comunicação e sustentabilidade. Atua como consultora da área de comunicação e marketing, redatora, revisora e editora de texto para diversos clientes . Tem experiência na área de Comunicação Social, com ênfase em jornalismo. Atualmente, é pesquisadora colaboradora do Núcleo de Estudos em Comunicação, História e Saúde (Nechs) da Fiocruz e faz estágio de pós-doutorado na Escola de Comunicação e Cultura da UFRJ, trabalhando com temas relacionados à comunicação e saúde, memória, autobiografia, construção de realidade e subjetividades em meios audiovisuais, digitais e no jornalismo.

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Publicado

24-01-2023

Como Citar

Sacramento, I., Falcão, H. G., & Leiroz, F. (2023). E quando não eram fake news? Boato e cisma sobre vacinação no Brasil de 1999/2000. Animus. Revista Interamericana De Comunicação Midiática, 21(47). https://doi.org/10.5902/2175497772282

Edição

Seção

Dossiê - Comunicação e Ciência: narrativas, desinformação, checagem