O laboratório de Schopenhauer? Benjamin Libet e seu experimento seminal

Autores

  • Renato César Cardoso Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG. https://orcid.org/0000-0001-8374-6462
  • Waldir Severiano de Medeiros Júnior Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG.

DOI:

https://doi.org/10.5902/2179378633764

Palavras-chave:

Schopenhauer, Benjamin Libet, Liberdade da Vontade

Resumo

Estudar a filosofia de Schopenhauer sem perder de vista a nossa paisagem
científica revela-nos conexões interessantes. Poder-se-ia facilmente encontrar muitos insights que mais tarde seriam provados relevantes em diferentes campos como na física, na biologia, na psicologia e na literatura. Foi a neurociência, entretanto, que produziu algumas das mais intrigantes
confirmações da filosofia de Schopenhauer. Suas considerações sobre o tema do livre-arbítrio encontraram provas consideráveis no conhecimento moderno do cérebro. O neurofisiologista Benjamin Libet, por exemplo, encontrou evidências científicas convincentes de que a "vontade" precede a vontade consciente, tal como sustentada há quase duzentos anos pelo pensador alemão. Minar a ideia de livre arbítrio, no entanto, traz sérios problemas para as teorias éticas e legais tradicionais. Assim, sustentamos que os emergentes campos da Neuroética e do Neurodireito poderiam ganhar muito com o tipo de solução determinista (figurada na ideia de
uma imputabilidade prospectivista, ou seja, voltada para o futuro) proposto por Schopenhauer.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Renato César Cardoso, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG.

Pós-Doutor em Filosofia do Direito pela Universidade de Barcelona Professor do Programa de Pós-Graduação em Direito da FDUFMG.

Waldir Severiano de Medeiros Júnior, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG.

Mestre em Filosofia do Direito pela FDUFMG. Doutorando em Filosofia do Direito pela FDUFMG.

Referências

ALEXANDER, Larry. Criminal and moral responsibility and the Libet experiments. In: SINNOTTARMSTRONG, Walter; NADEL, Lynn (Ed.). Conscious will and responsibility: a tribute to Benjamin Libet. Nova York: Oxford University, 2011, p. 204-206.

CACCIOLA, Maria Lúcia Mello e Oliveira. Schopenhauer e a questão do dogmatismo. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1994.

CARDOSO, Renato César. A ideia de justiça em Schopenhauer. Belo Horizonte: Argvmentvn, 2008.

CARDOSO, Renato César. Liberdade da vontade? In: Actas de las Jornadas de Filosofía, Universitat de Barcelona. Disponível em: http://www.ub.edu/filosofia-esteticacultura/sobrelalibertad/renatocesarcardoso.html. Acesso em: 21 fev. 2017.

DURANTE, Felipe dos Santos. A formulação das doutrinas do Estado e do Direito elaboradas pelo jovem Schopenhauer. Revista Voluntas: Estudos sobre Schopenhauer, Rio de Janeiro, v. 3, nº 1 e 2, 1º e 2º semestres de 2012, p. 143-155.

EAGLEMAN, David. Incógnito: as vidas secretas do cérebro. Trad. Ryta Vinagre. Rio de Janeiro: Rocco, 2012.

FICHTE, Johann Gottlieb. A doutrina da ciência e o saber absoluto. In: FICHTE, Johann Gottlieb. A doutrina da ciência de 1794 e outros ensaios. Trad. Rubens Rodrigues Torres Filho. 2 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1984, p. 253-293.

FREUD, Sigmund. Uma dificuldade da psicanálise. In: FREUD, Sigmund. Obras completas em vinte volumes. Trad. Paulo César de Souza. Vol. XIV. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 240-251.

FRISCH, Wolfgang. Sobre el futuro del derecho penal de la culpabilidad. In: SÁNCHEZ, Bernardo José Feijoo (Ed.). Derecho Penal de la culpabilidad y neurociências. Pamplona: S. L. Civitas Ediciones, 2012.

FUSTER, Joaquín. Cerebro y libertad: los cimientos cerebrales de nuestra capacidad para elegir. Trad. Joan Soler Chic. Barcelona: Ariel, 2014.

GIACÓIA JUNIOR, Oswaldo. Livre-arbítrio e responsabilidade. In: Filosofia Unisinos, 8(1):22-32, jan/abr 2007, p. 22-32.

GOMES, Alexandre Travessoni. O fundamento de validade do Direito - Kant e Kelsen. 2 ed. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004.

GRAVES, Tashina; MANISCALCO, Brian; LAU, Hakwan. Volition and the function of consciousness. In: SINNOTT-ARMSTRONG, Walter; NADEL, Lynn (Ed.). Conscious will and responsibility: a tribute to Benjamin Libet. Nova York: Oxford University, 2011, p. 113-114.

GREENE, Brian. O tecido do cosmo: o espaço, o tempo e a textura da realidade. Trad. José Viegas Filho. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

HALLET, Mark. Volition: How physiology speaks to the issue of responsibility. In: SINNOTTARMSTRONG, Walter; NADEL, Lynn (Ed.). Conscious will and responsibility: a tribute to Benjamin Libet. Nova York: Oxford University, 2011, p. 61-69.

HORGAN, Terry. The phenomenology of agency and the Libet results. In: SINNOTT-ARMSTRONG, Walter; NADEL, Lynn (Ed.). Conscious will and responsibility: a tribute to Benjamin Libet. Nova York: Oxford University, 2011, p. 159-172.

JANAWAY, Christopher. Will and nature. In: The Cambridge companion to Schopenhauer. Nova York: Cambridge University Press, 1999, p. 138-170.

KANT, Immanuel. Crítica da razão prática. Trad. Valério Rohden. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Trad. Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão. 7 ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.

KELSEN, Hans. Causalidade e retribuição. In: KELSEN, Hans. O que é justiça?: a justiça, o direito e a política no espelho da ciência. Trad. Luís Carlos Borges. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 301-321.

LEHRER, Jonah. Proust era um neurocientista. Trad. Ana Carneiro. Alfragide: Lua de Papel, 2009.

LIBET, Benjamin. ¿Tenemos voluntad libre?. In: CORTINA, Adela (Edición). Guía Comares de Neurofilosofía Práctica. Ed. Comares, 2012, p. 217-234.

MAGEE, Bryan. The philosophy of Schopenhauer. New York: Oxford University Press, 1997.

MEDEIROS JÚNIOR, Waldir Severiano. A ideia de liberdade e o problema da condição de possibilidade da responsabilização jurídica: um estudo da posição de Kant em contraposição à crítica de Schopenhauer. Tese de Dissertação. FDUFMG, Belo Horizonte, 2016.

MOTA, Rodrigo. Caráter e liberdade da vontade em Arthur Schopenhauer. Revista Voluntas: Estudos sobre Schopenhauer, Rio de Janeiro, v. 6, nº 1, 1º semestre de 2015, p. 155-170.

NEIMAN, Susan. O mal no pensamento moderno: uma história alternativa da filosofia. Trad. Fernanda Abreu. Rio de Janeiro: DIFEL, 2003.

PACHERIE, Elisabeth; HAGGARD, Patrick. What are intentions? In: SINNOTT-ARMSTRONG, Walter; NADEL, Lynn (Ed.). Conscious will and responsibility: a tribute to Benjamin Libet. Nova York: Oxford University, 2011, p. 70-84.

PERNIN, Marie-José. Schopenhauer: decifrando o enigma do mundo. Trad. Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995.

PINKER, Steven. Tábula rasa: a negação contemporânea da natureza humana. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

POCKETT, Susan; PURDY, Suzanne. Are voluntary movements initiated preconsciously? The relationships between readiness potentials, urges, and decisions. In: SINNOTT-ARMSTRONG, Walter; NADEL, Lynn (Ed.). Conscious will and responsibility: a tribute to Benjamin Libet. Nova

York: Oxford University, 2011, p. 34-46.

POSNER, Richard Allen. Problemas de filosofia do Direito. Trad. Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 20 ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

ROGER, Alain. Prefácio: Atualidade de Schopenhauer. In: SCHOPENHAUER, Arthur. Sobre o fundamento da moral. Trad. Maria Lúcia Mello Oliveira Cacciola. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. VII-LXXXI.

ROSKIES, Adina. Why Libet’s studies don’t pose a threat to free will. In: SINNOTT-ARMSTRONG, Walter; NADEL, Lynn (Ed.). Conscious will and responsibility: a tribute to Benjamin Libet. Nova York: Oxford University, 2011, p. 11-22.

SAFRANSKI, Rudiger. Schopenhauer e os anos mais selvagens da filosofia: uma biografia. Trad. William Lagos. São Paulo: Geração Editorial, 2011.

SAGAN, Carl. O mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro. Trad. Rosaura Eichemberg. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

SALGADO, Joaquim Carlos. A ideia de justiça em Kant: seu fundamento na liberdade e na igualdade. Belo Horizonte: UFMG, 1986.

SÁNCHEZ, Bernardo José Feijoo. Apresentação. In: SÁNCHEZ, Bernardo José Feijoo (Ed.). Derecho penal de la culpabilidad y neurociências. Pamplona: S. L. Civitas Ediciones, 2012.

SCHOPENHAUER, Arthur. La cuádruple raiz del principio de la razón suficiente. Trad. Eduardo Ovejero y Maury. Biblioteca Nueva: Buenos Aires, 1943.

SCHOPENHAUER, Arthur. Los dos problemas fundamentales de la ética. Trad. Pilar Lopéz de Santa María. 2 ed. Madri: Siglo XXI, 2002.

SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. Trad. Jair Barboza. Tomo I. São Paulo: UNESP,

SCHOPENHAUER, Arthur. Crítica da filosofia kantiana. In: SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como

representação. Trad. Jair Barboza. Tomo I. São Paulo: UNESP, 2005, p. 522-623.

SCHOPENHAUER, Arthur. Fragments for the history of philosophy. In:

SCHOPENHAUER, Arthur. Parerga and paralipomena: short philosophical essays. Vol. I. Oxford: Oxford University Press, 2010, p. 29-136.

SCHOPENHAUER, Arthur. Sobre a vontade na natureza. Trad. Gabriel Valladão Silva. Porto Alegre: L&PM, 2013.

SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação. Trad. Eduardo Ribeiro da Fonseca. Tomo II, Vol. I. Curitiba: Editora da UFPR, 2014.

SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação. Trad. Eduardo Ribeiro da Fonseca. Tomo II, Vol. II. Curitiba: UFPR, 2014.

TALMI, Deborah; FRITH, Chris. Neuroscience, free will, and responsibility. In: SINNOTTARMSTRONG, Walter; NADEL, Lynn (Ed.). Conscious will and responsibility: a tribute to Benjamin Libet. Nova York: Oxford University, 2011, p. 124-133.

WEATLHEY, Thalia; LOOSER, Christine. Prospective codes fulfilled: A potential neural. In: SINNOTT-ARMSTRONG, Walter; NADEL, Lynn (Ed.). Conscious will and responsibility: a tribute to Benjamin Libet. Nova York: Oxford University, 2011, p. 147-172.

WEISSMANN, Karl. Vida de Schopenhauer. Belo Horizonte: Livraria Cultura Brasileira, 1980.

Downloads

Publicado

2017-06-01

Como Citar

Cardoso, R. C., & Medeiros Júnior, W. S. de. (2017). O laboratório de Schopenhauer? Benjamin Libet e seu experimento seminal. Voluntas: Revista Internacional De Filosofia, 8(1), 172–210. https://doi.org/10.5902/2179378633764

Edição

Seção

Artigos