Raça e psiquiatria: uma análise genealógica da questão racial na psiquiatria brasileira
DOI:
https://doi.org/10.5902/2236672531916Palavras-chave:
Raça, Racismo, Negro, Psiquiatria, GenealogiaResumo
O propósito deste trabalho é problematizar a tematização da questão racial na psiquiatria brasileira. A partir do debate sobre raça e racismo (presente em Fredrickson, Hund e Wade), esse trabalho busca analisar a noção de raça e racismo a partir do quadro analítico desenvolvido por Michel Foucault. Nesse sentido, o objetivo desse trabalho é compreender qual a especificidade da questão racial e do negro nas práticas e discursos da psiquiatria brasileira entre o final do século XIX e início do século XX. Em termos metodológicos, considerou-se a psiquiatria como um dispositivo: uma rede de práticas de poder, discursos de saber e modos de concepção de sujeitos. Assim, nos discursos e nas práticas psiquiátricas desse período, analisamos como características físicas e fenotípicas de indivíduos e grupos negros foram operacionalizadas, submetendo esses sujeitos à condições de inferioridade e de desigualdade. Por último, buscamos apresentar contribuições para as possíveis reflexões sobre a relação entre as práticas psiquiátricas de racismo interno e a proposta de “branqueamento” da nação (compreendendo-a como uma estratégia biopolítica de gestão da população brasileira).
Downloads
Referências
ALVAREZ, M. C. Michel Foucault e a Sociologia: aproximações e tensões. Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 20, n. 38, p. 15-33, 2015.
AZEVEDO, C. M. M. de. Abolicionismo. Estados Unidos e Brasil, uma história comparada. São Paulo: AnnaBlume, 2003.
BARBOSA, R. M. Uma instituição modelar: o Hospício do Juquery. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, Fundação Seade, v. 6, n. 4, p.92-103, 1992.
BELUCHE, R. O corte da sexualidade: o ponto de viragem da psiquiatria brasileira no século XIX. São Paulo: Annablume, 2008.
CARNEIRO, M. L. T. Negros, Loucos Negros. Revista USP. Dossiê Brasil/ África, São Paulo, n. 18, p. 144-151, 1993.
CUNHA, M. C. P. O espelho do mundo: Juquery, a história de um asilo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
CUNHA, M. C. P. Cidadelas da ordem: a doença mental na República. São Paulo: Brasiliense, 1990.
DREYFUS, H.; RABINOW, P. Michel Foucault: uma trajetória filosófica – para além do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995.
ENGEL, M. G. As fronteiras da anormalidade: psiquiatria e controle social. História, Ciências, Saúde, Rio de Janeiro, v. 5, n. 3, p. 547-563, 1999.
ENGEL, M. G. Os delírios da razão: médicos, loucos e hospícios (Rio de Janeiro, 1830-1930). Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2001.
FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: Editora da USP. 1994.
FERNANDES, F. O negro no mundo dos brancos. São Paulo: Global, 2007.
FOUCAULT, M. História da Sexualidade: A Vontade de Saber (Vol. 1). Rio: Graal, 1985.
FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1987.
FOUCAULT, M. O sujeito e o poder. In: DREYFUS, H.; RABINOW, P. MICHEL FOUCAULT. Uma Trajetória Filosófica. Para além do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995, p. 231-239.
FOUCAULT, M. Em Defesa da Sociedade: curso no Collège de France (1975- 1976). São Paulo: Martins Fontes, 1999.
FOUCAULT, M. Foucault. In: FOUCAULT, M. Ditos & Escritos V: Ética, Sexualidade, Política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. p. 234-239.
FOUCAULT, M. Os anormais: curso no Collège de France (1974-1975). São Paulo: Martins Fontes, 2010.
FOUCAULT, M. Diálogo sobre o poder. In: FOUCAULT, M. Ditos e escritos IV – Estratégia Saber-Poder. São Paulo: Forense Universitária, 2012.
FOUCAULT, M. Aulas sobre a vontade de saber: curso no Collège de France (1970-71). São Paulo: Martins Fontes, 2014.
FOUCAULT, M. O nascimento da medicina social. In: FOUCAULT, M, Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2016a, p. 143- 170.
FOUCAULT, M. Sobre a história da sexualidade. In: FOUCAULT, M, Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2016b, p. 243-276.
FREDRICKSON, G. Racismo, uma breve história. Porto: Campo das Letras, 2004.
GUIMARÃES, A. S. Classes, raças e democracia. São Paulo: Editora 34, 2002.
HOFBAUER, A. O conceito de “raça” e o ideário do “branqueamento” no século XIX: bases ideológicas do racismo brasileiro. Teoria e Pesquisa, São Carlos (UFSCar), v. 42 e 43, p. 63-110, 2003.
HOFBAUER, A. Ações afirmativas e o debate sobre racismo no Brasil. Lua Nova, São Paulo, n. 68, p. 9-56, 2006.
HUND, W. Inclusion and exclusion: dimensions of racism. Wiener Zeitschrift zur Geschichte der Neuzeit, v. 1, p. 6-19, 2003.
LIMA BARRETO, A. H. de. Diário do hospício e O cemitério dos vivos. São Paulo: Cosac Naify, 2010.
LOBO, L. F. Os infames da história: pobres, escravos e deficientes no Brasil. Rio de Janeiro: Lamparina, 2008.
MACHADO, R. Introdução: Por uma genealogia do poder. In: FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2016, p. 7-34.
MUNANGA, K. Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia. In: SEMINÁRIO NACIONAL RELAÇOES RACIAIS E EDUCAÇÃO-PENESB. Rio de Janeiro, 2003. Anais... Rio de Janeiro, 2003. Disponível em: http://www. acaoeducativa.org.br/downloads/09abordagem.pdf. Acesso em: 26 ago. 2017.
ODA, A. M. G. R. A teoria da degenerescência na fundação da psiquiatria brasileira: contraposição entre Raimundo Nina Rodrigues e Juliano Moreira. Psychiatry Online Brazil - part of The International Journal of Psychiatry, v. 6, n. 12, 2001. Disponível em: www.polbr.med.br/arquivo/wal1201.htm. Acesso em: 30 ago. 2017.
PATTO, M. H. S. Estado, ciência e política na Primeira República: a desqualificação dos pobres. Estudos Avançados. São Paulo, v. 13, n. 35, p. 167-198, 1999.
PENA, S. D. J. Razões para banir o conceito de raça da medicina brasileira. História, Ciências, Saúde, Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, p. 321- 346, 2005.
POL-DROIT, R. Michel Foucault: entrevistas. São Paulo: Graal, 2006.
PORTOCARRERO, V. Arquivos da loucura: Juliano Moreira e a descontinuidade histórica da psiquiatria. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2002.
RIBEIRO, P. S. Prescrições médicas contra os males da nação: diálogos de Franco da Rocha na construção das Ciências Sociais no Brasil. 2010. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara, 156 f. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/98980>. Acesso em: 30 ago. 2017.
SCHWARCZ, L. M. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil – 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
SCHWARCZ, L. M. Nem preto nem branco, muito pelo contrário: cor e raça na intimidade. In: NOVAIS, F. A. e SCHWARCZ, L. M. História da vida privada (Vol. IV). São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 173-243.
SEVCENKO, N. Introdução. O prelúdio republicano, astúcias da ordem e ilusões do progresso. In: História da vida privada no Brasil República: da Belle Époque à Era do Rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, v. 3.
SEVCENKO, N. A Revolta da Vacina: mentes insanas em corpos rebeldes. São Paulo: Cosac Naify. 2010.
SEYFERTH, G. O beneplácito da desigualdade: breve digressão sobre racismo. In: SEYFERTH, G. et al. Racismo no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Peirópolis, 2002. p. 17-43.
VIVEIROS DE CASTRO, E. Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio. Mana, Rio de Janeiro, v. 2, n. 2, p. 115-144, 1996.
VIVEIROS DE CASTRO, E. Perspectivismo e multinaturalismo na América indígena. O que nos faz pensar, Rio de Janeiro, v. 14, n. 18, p. 225-254, 2004.
WADE, P. Race, nature and culture. Mana, n. 28, p. 17-34, 1993.
WEYLER, A. R. A loucura e a república no Brasil: a influência das teorias raciais. Psicologia USP, São Paulo, v. 17, n. 1, p. 17-34, 2006.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam na Século XXI: Revista de Ciências Sociais concordam com os seguintes termos:
Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).