Um olhar discursivo para a educação antirracista: práxis de duas professoras de português

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/2179219487832

Palavras-chave:

educação antirracista, Lei 10.639, escuta, responsabilização, ensinar-aprender

Resumo

Este ensaio direciona um olhar discursivo para a educação antirracista a partir da tomada de posição de duas professoras em uma instituição de ensino de educação básica, estabelecendo a Lei 10.639 como base para reflexão. Partindo do pressuposto de que a produção-circulação de conhecimento se dá no espaço de interpretação (Lagazzi, 2015), perguntamo-nos sobre como constituir a práxis educativa em uma perspectiva antirracista. Em um percurso que discute autoria na escola, responsabilidade/responsabilização, ensinar/aprender, escuta, tomada de posição e racialidade, incitamos gestos de interpretação em que o sujeito se responsabilize por sua posição na história e no social.

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Biografia do Autor

Mariana Jafet Cestari, CEFET-MG

Graduou-se em Letras-Português pela Universidade Estadual de Campinas (2005), onde cursou em seguida o bacharelado em Linguística (2009). Na mesma universidade, desenvolveu o mestrado (2011) e o doutorado (2015), ambos no programa de Linguística. Realizou estágio doutoral na Universidade Paris 13 (2012-2013). Sua tese "Vozes-mulheres negras ou feministas e antirracistas graças às Yabás"; foi vencedora do concurso de tese da Associação Latino-americana de Estudos do Discurso (ALED) em 2017. Suas pesquisas e sua atuação na extensão são realizadas a partir da Análise de Discurso, em diálogo com os estudos de gênero e das relações étnico-raciais, abordando as temáticas das relações entre discurso, classe, gênero e raça; processos de subjetivação, identidades, memória, silenciamento e resistência. Atualmente, é professora do Departamento de Linguagem e Tecnologia do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, atuando no Ensino Médio, no curso de Letras e no Programa de Português Língua Estrangeira.

Carla Barbosa Moreira, Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais

Possui graduação em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestrado em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais e doutorado em Estudos de Linguagem pela Universidade Federal Fluminense. Fez doutorado-sanduíche na Università degli studi di Roma La Sapienza (2008). Desenvolveu Estágio pós-doutoral na UFMG (2011), cuja pesquisa se concentrou na História das Ideias Linguísticas em interface com a Análise do Discurso. De 2011 a 2014 fez estágio pós-doutoral na UFF, integrando o Laboratório Arquivos do Sujeito (LAS). Atualmente, é pesquisadora colaboradora no Projeto ENCIDIS (LAS/UFF), coordena o Programa de Extensão Pensar Jovem Fazer Sentido (CEFET-MG), que tem parceria com o Programa de Extensão Pensar a Educação, Pensar o Brasil (1822-2022), da UFMG, e com a Fiocruz. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Teoria e Análise Linguística e desenvolve trabalhos em Análise de Discurso e em História das Ideias Linguísticas nas seguintes temáticas: Censura, Silenciamento e Evidenciamento, Resistência, Linguagem e Tecnologia, Divulgação Científica. É docente no CEFET-MG/Departamento de Linguagem e Tecnologia e membro permanente do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Estudos de Linguagens/CEFET-MG. É coordenadora do Grupo de Pesquisa Discurso, Tecnologias e Divulgação do Conhecimento e membro da Comissão Científica de Análise do Discurso da ABRALIN. 

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Publicado

2025-02-28

Como Citar

Jafet Cestari, M., & Barbosa Moreira, C. . (2025). Um olhar discursivo para a educação antirracista: práxis de duas professoras de português. Fragmentum, (64), 122–138. https://doi.org/10.5902/2179219487832